Júlio Furtado, colunista do DIADivulgação

As aulas presenciais vêm retornando maciçamente ao longo do segundo semestre de 2021. Alguns estados retomaram as aulas com 100% dos alunos presentes todos os dias, num prenúncio de que a tão desejada “normalidade” está se aproximando. Diante desse cenário, imagino que várias pessoas devem estar pensando na quantidade de conteúdos “em atraso” que a escola terá que dar conta a partir desse retorno, incluindo-se, nesse universo, muitos professores.
Em primeiro lugar, precisamos entender que um longo tempo longe das salas de aula não só provoca atraso com relação ao que tinha que ser aprendido, mas retrocesso nas aprendizagens anteriores. Logo, com o retorno das aulas presenciais, precisaremos dedicar um bom tempo identificando quais aprendizagens ainda estão lá e quais terão que ser resgatadas. Antes disso, porém, precisamos acolhê-los de volta, dando espaço para que eles falem de si, de como estão se sentindo e das feridas que estão trazendo
desse período de pandemia.
Com toda a certeza de um professor que já retornou às aulas presenciais desde fevereiro, precisamos dedicar um longo período para esse acolhimento. Não esqueçamos que o contrário do isolamento é o encontro e para um isolamento de quase dois anos, esse encontro precisa ser o mais significativo possível, com tempo e espaço para as histórias de todos e de cada um. É nesse contexto que se dá o enorme equívoco de se encurtar o acolhimento para dar mais tempo e espaço para o resgate de conhecimentos em atraso. Não esqueçamos que conhecimento deve se dar em função das vivências, logo, o resgate da vida tem que vir primeiro.
É uma ótima oportunidade para a escola deixar de submeter a aprendizagem à tirania do tempo e inverter essa estrutura, colocando o ato de aprender no centro do processo e o tempo em seu devido lugar de possibilitador dessa aventura. A volta às aulas presenciais é um momento de profunda importância na redefinição de que escola queremos e de como iremos reconstrui-la.
Precisamos “dar conta” de fazer os olhinhos voltarem a brilhar para que eles possam buscar o conhecimento como resultado desse brilho e não através de aulas maçantes que vão fazê-los ter saudades do tempo de isolamento em casa em que podiam, pelo menos, fechar as câmeras quando o desinteresse pesava. Em síntese, precisamos “dar conta” de mantê-los com vontade de ir para a escola.
Júlio Furtado é doutor em Ciências da Educação