Paulo Sérgio Niemeyer é arquiteto, presidente do Instituto Niemeyer, conselheiro estadual da Cau (Conselho de Arquitetura e Urbanismo). Divulgação
Já arquiteto, ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e se tornou militante de causas humanitárias. A ideia de um Deus todo-poderoso havia desaparecido do seu pensamento. Lembrava com carinho dos amigos daquele tempo, a maioria católicos, dizia que eram pessoas boas. Só não entendia por que eles não se revoltavam contra a pobreza como ele.
A Igrejinha da Pampulha, como é chamada carinhosamente pelos mineiros, obra do carioca Oscar Niemeyer, que se tornou símbolo do Estado de Minas Gerais, foi elevada a Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis recentemente, quase dez anos depois de sua morte. Ela é uma das principais obras de Niemeyer no Conjunto arquitetônico da Pampulha, reconhecido como Patrimônio Mundial desde 2016.
A história desse templo modernista se entrelaça com a história de Belo Horizonte no período em que Juscelino Kubitschek foi prefeito da capital mineira e convidou Niemeyer para fazer um projeto para a Pampulha, antes da construção de Brasília.
Obra nada convencional, a Igreja causou estranheza e muita polêmica quando foi erguida em 1943. Pela primeira vez traços e curvas em concreto foram utilizados em uma edificação católica no Brasil. Niemeyer se inspirou nas serras e montanhas de Minas para criar as cinco cúpulas. E colocou São Francisco ao lado de um cão, em vez do tradicional lobo, o que incomodou.
O fato de Niemeyer se declarar comunista agravou ainda mais a situação e ele foi acusado de fazer apologia política. Por isso, a Igrejinha ficou quase 16 anos fechada. Em 2018 foi restaurada e em 2019 foi reaberta ao público. Atualmente recebe cerca de 1.550 pessoas/mês, e com a elevação a santuário e o fim da pandemia, a expectativa é a de que mais pessoas visitem o espaço.
Fico imaginando o que diria Oscar Niemeyer se soubesse que a sua outrora rejeitada igreja agora é um santuário. Acho que ele ficaria feliz. E como ele valorizava o debate sobre as cidades, provavelmente estaria preocupado com os problemas ambientais no entorno da Igrejinha. Espero que esse título de Santuário ajude a resolver a poluição da Lagoa da Pampulha, que até hoje recebe esgoto de quase 20 mil famílias de Contagem e Belo Horizonte.
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