Gledson Vinicius presidente fundação planetário opiniãodivulgação

Leandro Guedes é diretor de Astronomia da Fundação Planetário - divulgação
Leandro Guedes é diretor de Astronomia da Fundação Planetáriodivulgação
Nos congressos científicos, especialistas de uma determinada área trocam suas comunicações com uma linguagem que busca tornar o entendimento entre eles eficiente, mas que faria qualquer pessoa leiga, incluindo cientistas de outra área, dormir. Ou ficar olhando o tempo todo para o relógio esperando a hora do coffee break. Então, para manter um público reservado, e para economizar no coffee break, os congressos científicos são sempre direcionados a pessoas que estudam uma determinada área específica da ciência. Apesar disso, quase todo congresso dedica ao menos uma palestra direcionada ao público, em linguagem que não deixa ninguém dormir.

Recentemente o Planetário recebeu o Cosmo 2022, organizado pelo Instituto de Física da UFRJ e pelo Centro Latino-Americano de Física. O congresso reuniu cientistas que buscam entender o Universo como um todo, numa área que chamamos de cosmologia. Durante uma semana, cosmólogos de vários países estiveram no Rio de Janeiro tentando responder perguntas, e deixando outras para serem respondidas no futuro, sobre matéria e energia escura, geometria e expansão do Universo, lentes gravitacionais entre outros tópicos.
A palestra pública foi feita pelo Dr. Júlio Fabris, da Universidade Federal do Espírito Santo, e teve como tema o centenário do artigo que propôs a possibilidade do Universo estar em expansão. Sabia que o físico que escreveu esse artigo lutou na primeira guerra mundial como aviador? Muitos avanços científicos acontecem durante as guerras, mas raramente em algo tão teórico como a Relatividade em seus primórdios.

Houve ainda no Planetário outra palestra pública associada ao 17o S-PLUS, um congresso organizado pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Física. Nesta palestra, as doutoras Cláudia de Oliveira e Arianna Cortesi e o doutor Vinicius Placco explanaram sobre o mapeamento de metade do céu do hemisfério sul e sobre um aplicativo que permitirá que todos ajudem os cientistas a identificar objetos como galáxias ou asteroides nas fotografias. O envolvimento do público em Ciência de ponta é um conceito conhecido como Ciência Cidadã, que permite a todos participar de descobertas na Ciência de ponta.

Algumas pessoas acham que a Ciência só faz sentido se puder gerar tecnologias imediatas para tornar nossa vida mais fácil. Apesar dessa visão, o verdadeiro motor da Ciência é aquele que vislumbramos no olhar da criança na fase de fazer perguntas atrás de perguntas, deixando, quase sempre, os adultos desconcertados ao perceberem que não têm a maioria das respostas.
Ao invés de se frustrarem ou simplesmente superarem essa fase, há crianças que crescem mantendo a curiosidade e a transformando em profissão. Tornam-se cientistas e continuam fazendo perguntas atrás de perguntas, agora não mais para os adultos que encontram por perto, mas para colegas de trabalho. Muitos se lembram de quando eram crianças e gostam de responder às perguntas que recebem de todo o público, independente do grau de instrução formal.

Muitas vezes, para perguntas feitas tanto por outros cientistas como pelo público leigo, a resposta é que não há resposta, e é aí onde obtemos avanços científicos. Receber o Cosmo foi uma confirmação da vocação científica do Rio de Janeiro, e a Ciência Cidadã do S-PLUS um dos atestados de que a ciência moderna pode ser produzida com a participação popular. O Planetário do Rio é o lugar na cidade onde a ciência encontra a população e estamos de braços abertos a novos congressos que ofereçam palestras públicas. Garantimos que ninguém vai dormir!
Leandro Guedes é diretor de Astronomia da Fundação Planetário
Gledson Vinícius é presidente da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro