JULIANA FERRARIDIVULGAÇÃO

Estudos recentes apresentados pela Aliança contra o Câncer de Pulmão indicam que uma política mais proativa no rastreamento da doença permitiria detectar mais de 50% dos casos nos estágios iniciais (1 e 2). Atualmente, aproximadamente 88% dos diagnósticos ocorrem em fases avançadas (estágio 3 ou superior), o que reduz significativamente as chances de cura. No Brasil, a prática atual consiste em indicar exames de imagem para o diagnóstico do tumor somente quando o paciente apresenta sinais suspeitos, como tosse persistente e falta de ar, que são comumente associados ao tabagismo.
No entanto, durante o 1º Congresso Brasileiro de Câncer de Pulmão, realizado em Brasília entre os dias 13 e 15 de agosto, diversas sociedades médicas alertaram para a necessidade de revisar essa abordagem. Elas sugerem que a estratégia deveria priorizar o diagnóstico precoce, visto que, na maioria dos casos, os sintomas só se manifestam em fases tardias da doença, quando as opções de tratamento são limitadas e menos eficazes.
A aliança é composta por seis sociedades médicas, incluindo especialistas em cirurgia torácica, pneumologia, oncologia clínica, radiologia, patologia e radioterapia. A recomendação é para que o rastreamento seja feito anualmente por meio de tomografias computadorizadas de baixa dose (TCBD) para pessoas consideradas de alto risco: indivíduos entre 50 e 80 anos que ainda fumam ou que pararam de fumar nos últimos 15 anos, com histórico de consumo de, pelo menos, 20 maços de cigarro por ano.
O câncer de pulmão é um dos mais letais no Brasil. Com essa abordagem de rastreio precoce, estima-se que a mortalidade causada pela doença possa ser reduzida em até 20%. Atualmente, o país registra cerca de 32,5 mil novos casos por ano, resultando em aproximadamente 28,8 mil mortes.
Desta forma, discute-se a necessidade urgente de uma mudança na política de saúde pública para incluir o rastreamento proativo. Entretanto, o desafio não se limita ao acesso aos exames. É fundamental garantir que os resultados sejam interpretados por especialistas qualificados, que possam identificar corretamente o subtipo desses nódulos e, a partir disso, orientar o tratamento mais adequado, baseado em análises detalhadas, como biópsias.
O tema já foi endereçado na sessão de abertura do Congresso, que ocorreu no Senado Federal, e contou com a presença de líderes de diversas sociedades médicas e representantes do governo. Viabilizar essa expansão do rastreio e a melhor avaliação possível dos resultados fará toda a diferença para ampliar as chances de sucesso em tratamentos contra a doença.
* Por Juliana Ferrari, oncologista da Oncoclínicas&Co.