Por gabriela.mattos

Rio - A Justiça do Rio negou, nesta quarta-feira, o pedido de habeas corpus que solicitava a liberdade do pastor Felipe Garcia Heiderich, suspeito de abusar sexualmente do enteado de cinco anos. Jovem, bem sucedido e guia espiritual de milhares de cristãos: até esta quarta, esse era o perfil do pastor, ministro da Aliança Mundial de Evangelização e Ensino (AME), com sede no Rio de Janeiro.

Era até o senador e pastor Magno Malta (PR-ES) ocupar a tribuna do Senado e tornar pública a face oculta de Felipe Heiderich, que está preso temporariamente por 30 dias, suspeito de estupro de vulnerável. A suposta vítima seria o seu próprio enteado, um menino de 5 anos, filho da atual esposa e parceira do pastor na liderança da AME, a pastora Bianca Toledo.

“O fato é que a pastora Bianca Toledo, casada com o senhor Felipe Heiderich, descobriu que esse falso pastor estava abusando de seu filhinho”, bradou o senador, que presidiu a CPI da Pedofilia. A revelação do político não era segredo para a Polícia do Rio. Às 15h44m de 23 de junho, a pastora Bianca procurou a Delegacia de Atendimento à Criança e Adolescente Vítima (Dcav) para denunciar o marido por abuso sexual contra a criança. Laudos e entrevistas com psicólogas confirmaram a denúncia, de acordo com o inquérito.

Pastor postava nas redes sociais%2C frequentemente%2C frases exaltando a família e%2C aparentemente%2C vivia em harmonia com Bianca e seu filhoReprodução Youtube

Foi o menino quem contou à mãe que era abusado pelo padrasto na hora do banho. Após o pronunciamento do senador Malta, Bianca divulgou um vídeo confirmando que estava se separando de Felipe após descobrir que ele era homossexual e encontrava-se preso por crime de pedofilia. “Diante do conteúdo do vídeo posso frisar que a anulação do casamento foi iniciada e se torna legítima diante das provas de uma vida dupla e imoral. Contrária à prometida no altar e ressaltada publicamente durante todo o casamento. A teologia do Felipe era perfeita, mas seu interior era uma fraude. Me enganou e enganou a todos. É triste”, relatou Bianca, que era casada com Heiderich desde 2013.

Ao representar pela prisão temporária de 30 dias do pastor, a delegada Cristiana Bento, da Dcav, destacou que “o indiciado demonstrou um alto grau de perversão.” E justificou a necessidade do pedido: “Evitando assim que outras crianças sejam molestadas pelo acusado que, em liberdade, encontrará os mesmos estímulos coligados aos crimes praticados.” O advogado de Heiderich, Leandro Meuser, usou o Facebook do suspeito para defendê-lo, afirmando que as acusações são inteiramente falsas e pedindo aos fiéis que orassem pelo pastor.

O advogado também entrou com um pedido de liberdade, mas a desembargadora Maria Sandra Kayat, da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio negou o pedido de habeas corpus.

Ele está preso desde terça-feira, isolado em uma cela da Cadeia Pública José Frederico Marques, Bangu 10, no Complexo Penitenciário de Gericinó. O crime covarde e hediondo deixou em estado de choque a comunidade evangélica. “Heiderich era um monstro em pele de cordeiro”, resumiu uma seguidora.

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Pastor posta sempre em redes sociais

“Meu pastorzinho orando hoje na #AME”, postou no Instagram, há três semanas, o pastor. A foto do menino com os braços levantados e os olhos fechados é apenas uma das publicações em que ele é exposto nas redes sociais de Felipe Heiderich. Em foto-montagem com diversas imagens registradas em 2015, o pastor aparece ao lado do menino, sorridente, em vários momentos. “Família: meus melhores momentos em 2015”, diz a legenda. “Herança do Senhor”, declarou ao publicar outra foto, na qual o menino aparece em suas costas.

Na internet, Heiderich também tem o hábito de compartilhar frases de efeito. “Sou ser humano, posso errar. O que não devo de forma alguma é me entregar ao erro e permanecer nele”, dizia uma imagem compartilhada no dia 13 de maio. “Quão difícil é viver com máscaras! E mais difícil ainda é reconhecer que se está usando uma”, postou, em abril. “Bíblias não são permitidas nas escolas, mas são incentivadas nas prisões. Se as crianças tivessem incentivo para lê-la nas escolas, elas não precisariam tê-la na prisão”, compartilhou Heiderich, que ficará preso, com ou sem a Bíblia, por pelo menos 30 dias.

Em vídeo no YouTube no qual discutem sobre “amor proibido”, o casal de pastores opina sobre questões como homossexualidade e diferença de idade. Com sorriso no rosto, Heiderich diz ser importante ter “bom senso” na desigualdade etária. “A diferença de idade não é um problema, mas precisa ter um limite”, comentou o pastor.

?Colaborou o estagiário Caio Sartori

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