Por tabata.uchoa

Rio - Cansados de esperar por ações do poder público, ágil para cobrar impostos mas muitas vezes lento na hora de executar obras em bairros, moradores de várias regiões do estado estão se unindo e botando a mão na massa para ganhar qualidade vida no dia a dia. Além da Capital, exemplos estão sendo repetidos em várias cidades, como em Barra Mansa e Volta Redonda, no Sul Fluminense; em Nova Iguaçu, na Baixada; em Niterói, na Região Metropolitana, e em Cabo Frio, na Região dos Lagos.

Padre Milan Knezovic abençoa a Ponte da Amizade%2C construída por moradores de Barra MansaDivulgação / Vagner Mattos

Em Barra Mansa, moradores do bairro Nova Esperança, foram parar no noticiário internacional ao construírem uma ponte por R$ 5 mil. Obra semelhante havia sido orçada pela prefeitura em R$ 270 mil, ou seja, 54 vezes mais.

“Esperamos 20 anos”, comenta Juracy da Conceição. Com as amigas Manoelina dos Santos e Iraci Falcão, alavancou a construção. A obra foi batizada de Ponte da Amizade, e abençoada semana passada pelo padre Milan Knezovic. Sem a ponte, de 24 metros de extensão, ela e os vizinhos andavam mais de dois quilômetros para chegar ao outro lado do rio, até para ter socorro médico no único posto de saúde da região.

Até a Superintendência de Obras e Serviços Públicos de Barra Mansa admite que a ponte é uma iniciativa válida. Porém, alerta que, “como foi feita sem o aval da prefeitura, não tem como garantir que houve um projeto com cálculo estrutural eficiente”, prevendo variação do nível do rio e correnteza. E não houve previsão de acessibilidade.

Em Cabo Frio%2C moradores do bairro Ogiva salvaram uma praça e um lago. Além de cercar o local com pneus%2C retiraram seis caminhões de lixoDivulgação / Christianne Rothier

Iniciativa deste tipo tomou cerca de 30 moradores de 12 prédios no entorno do Parque Guinle, em Laranjeiras. Fizeram vaquinha para restaurar uma estátua de leão alado, que vândalos destruíram. Incentivados por Nedina Levy, 61 anos, a ‘xerifa’ da área, juntaram R$ 1,6 mil para restaurar a obra em bronze e ferro fundido, de 1920. “O artista plástico Pablo Mendonça, cobrou só o material para refazer”, ressalta Nedina, que desde 2006 mobiliza vizinhos para repor equipamentos como lixeiras e papeleiras, consertar brinquedos e apagar pichações, praticamente no ‘quintal’ do Palácio Guanabara, sede do governo estadual.

Ela estima que se fossem esperar o poder público, a restauração seria demorada e quase 60 vezes mais cara. Isso, baseando-se, no investimento de R$ 95 mil na restauração da estátua de Noel Rosa, alvo de vandalismo, em Vila Isabel. O trabalho fica a cargo da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos. Segundo especialistas, a demora nas obras muitas vezes ocorre devido à crise, falta de planejamento, incompetência ou descaso.

Nedina Levy%2C ao lado do casal de cisnes negros%2C Romeu e Julieta%2C é quem mobiliza moradores do Parque Guinle para os constantes mutirõesDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

'VAQUINHAS'

União garante até segurança

Em Cabo Frio, 150 moradores dos bairros Ogiva e Caminho de Búzios, estão recuperando praças. No Ogiva acabaram com lixões em área verde e em um pequeno lago. “Retiramos seis caminhões de entulho, plantamos 70 árvores e fizemos cerca com 150 pneus”, diz a pedagoga Christianne Rothier, que liderou as ações. 

Christiane, porém, destaca que no caso do bairro Ogiva, os moradores contaram com parcerias importantes, desde a própria prefeitura, Ongs e empresários. "A empresa de limpeza Comsercaf, por exemplo, cuidou da retirada do lixo, trouxe a equipe de poda e em breve retornará para a retirada da vegetação exótica, através da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. A chamada Equipe Verde contribuiu com o plantio de árvores nativas além de seguir nos apoiando com novos plantios e orientações técnicas. Tivemos também apoio do empresário local; do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), com sua equipe de Educação Ambiental, além de outros parceiros, como as ONGs Projeto Eco Lógico e Amigos do Peró, entre outros". No Caminho de Búzios, moradores arrecadaram R$ 1,8 mil e alugaram máquinas.

“Depois de oito anos de abondono, restauramos duas praças”, conta o morador Carlos Alberto da Silva, 58 anos. Em Volta Redonda, voluntários do grupo Coletivo Bosque dos Bambus, de conscientização ambiental, unem pais, alunos, professores e empresários para obra estrutural nos colégios estaduais Niterói e Rondônia.

“Na Escola Niterói, com apoio das empresas Concresul, Rezende Pisos e Siquara Mattos, estamos construindo quadra poliesportiva”, explica Marcelo Miranda. O diretor, Ronaldo Tibúrcio, ressalta que evitará que alunos andem até 500 metros para a aula de educação física. De quebra foi incluída a disciplina de Educação Ambiental no currículo do colégio.

Na Baixada, assim como nas regiões Serrana e Noroeste, muitos moradores fazem operações tapa-buracos. “No Jardim Panorama (Nova Iguaçu), pavimentamos quase 50% das ruas com sobras de concreto”, dá a dica Genilson Vieira, da associação local.

Em Niterói, 4 mil moradores de Camboinhas fundaram, há 28 anos, a uma associação, para manter o bairro por conta própria. Com a cobrança de taxa de R$ 290 por mês, faz poda, varrição e mantém a iluminação. “Instalamos 48 câmeras. Ganhamos segurança”, garante o presidente da associção, Stuéssel Amora.

Você pode gostar