Por felipe.martins

Rio - Uma reportagem exibida neste domingo no programa ‘Fantástico’, da Globo, revelou que quatro pessoas envolvidas comprovadamente com o terrorismo internacional pretendiam vir ao Brasil para os Jogos Olímpicos do Rio, mas tiveram seus credenciamentos e entrada no país negados pela Polícia Federal.

Os quatro terroristas, cujos nomes e origens não foram identificados por questão de segurança, estavam numa lista de 40 suspeitos das forças de segurança da Olimpíada, que monitora o movimento de suspeitos que tentam ingressar no país. Já foram negados os credenciamentos de 11 mil pessoas, dentre os 350 mil pedidos feitos à organização da Olimpíada.

A reportagem mostrou ainda que a Polícia Federal montou uma base do comando de operações táticas em Brasília, onde os agentes de elite passam por um rígido treinamento de combate ao terrorismo, inclusive usando roupas especiais de proteção contra o contágio por ataque químico, biológico e nuclear. De uma sala do comando, vários pontos do Rio também são monitorados.

Professor condenado por terrorismo foi deportado

Condenado por terrorismo na França, o professor franco-argelino Adlène Hicheur, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi deportado do Brasil, por volta das 22h da última sexta-feira. Ele já havia sido preso, em 2009, cumpriu a pena e chegou ao Brasil em 2013. 

Em entrevista ao DIA, o reitor da UFRJ, Roberto Leher, disse não entender o motivo da deportação. Leher reforçou que a UFRJ considera que essa "decisão configura um estado de exceção" Segundo o reitor, Hicheur estava em casa, revisando um artigo acadêmico com outros professores em uma conferência, quando agentes da PF chegaram ao local e disseram que o profissional tinha uma hora para arrumar as coisas antes de ser deportado.

Brilhante físico%2C Adlène Hicheur já cumpriu pena na França%2C está impedido de entrar na Suíça e mora no Rio de JaneiroReprodução

"Essa decisão é muito preocupante. A UFRJ zela pelo estado democrático de direito e ao professor não está sendo dada a presunção de inocência, já que o Ministério da Justiça não apresentou os motivos da deportação. Por que ele será levado à França, se a família dele está na Argélia?", ressaltou o reitor.

O pesquisador Ignacio Bediaga, que trabalha no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e foi responsável pelo convite ao físico para que viesse trabalhar no Brasil, elogiou o trabalho do professor e disse que "jamais imaginaria que de repente pudesse acontecer isso". "Foi um desrespeito absurdo", enfatizou.

Em nota, a UFRJ se mostrou "surpreendida com a notícia de deportação". "O professor desenvolveu na UFRJ novas linhas de pesquisa, assim como deu continuidade a trabalhos já em andamento quando da sua contratação. Entre os trabalhos científicos realizados podem ser destacados artigos e descobertas importantes para a Física de Partículas", destacou a nota.

Relembre o caso

?Segundo a revista "Época", Adléne Hicheur já foi condenado pela Justiça da França por planejar atentados terroristas. Argelino naturalizado francês, ele já cumpriu cinco anos de prisão em Paris. Na época, disse que era um "bode expiatório".

Em 2009, Adléne Hicheur tirou licença médica da Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla em francês), que fica em Genebra, na Suíça. Brilhante especialista em física das partículas elementares, o cientista foi para a casa de seus pais, na França, onde passou a frequentar um fórum na Internet utilizado por jihadistas. Lá, conforme indicam 35 e-mails os quais revista "Época" teve acesso, ele se comunicava como um interlocutor identificado apenas como Phenix Shadow. As mensagens foram descriptografadas pela Inteligência francesa.

De acordo com o governo francês, Phenix Shadow seria Mustapha Debchi, um membro do grupo terrorista al-Qaeda, o mesmo de Osama bin Laden, na Argélia. A polícia francesa passou a monitorar Hicheur, em função do potencial de risco das mensagens trocadas. Nas conversas, Phenix fez um convite a Hicheur: “Caro irmão, vamos direto ao ponto: você está disposto a trabalhar em uma unidade de ativação na França? Que tipo de ajuda poderíamos te dar para que isso seja feito?”.

“Sim, claro" foi a resposta dele, dada cinco dias depois a Phenix. Nos e-mails, o cientista falava sobre a sua vontade em deixar a Europa nos próximos anos, no entanto, dizia que o plano podia ser revisto. Para ficar no continente europeu, ele comentou sua estratégia: “Trabalhar no seio da casa do inimigo central e esvaziar o sangue de suas forças”. Ele foi preso pela polícia francesa depois das mensagens. No computador do físico, policiais encontraram um arquivo criptografado onde ele falava sobre o envio de € 8 mil para a al-Qaeda.

?Com informações da repórter Bruna Fantti, do DIA, e do Estadão Conteúdo



Você pode gostar