Por gabriela.mattos

Rio - Novos áudios divulgados pela Justiça mostram que mais pessoas tinham conhecimento do envolvimento do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) no esquema de corrupção e indicam que o próprio acusado já sabia, uma semana antes, que seria procurado pela polícia. As gravações relatam viagens ilegais em helicóptero oficial, participação de um suposto funcionário da Secretaria de Estado de Saúde (SES) na era Cabral em ocultação de provas contra o então governador, além de comentários debochados sobre o funcionalismo público e o Poder Judiciário.

As conversas eram entre duas pessoas próximas da família de Cabral: Fani, espécie de governanta da casa de Adriana Ancelmo, esposa do ex-governador, e o marido dela, Ricardo. “Ele (Cabral) falou para mim que, semana passada, ele já tinha mais ou menos uma ideia que seria a qualquer hora, mas eles estavam esperando, eu acho, que semana que vem”, conta Fani.

Eles também aparecem comemorando por não serem citados na lista de usuários do helicóptero, que assumem ter usado com frequência. “Vem cá... Eu tive uma sorte! O Adilson tá aqui me falando... Saiu o nome da Eleuza, da Andréia na lista do helicóptero... O meu não saiu! (risos) Eu é que mais andava! Andréia era uma vez ou outra!”, diz Fani.
Sobre a possível prisão de Adriana, o casal fantasia: “A mulher do (Eduardo) Cunha ‘tá’ solta. Vão prender ela por quê?”, pergunta Ricardo.

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O ponto mais misterioso é quando Fani e Ricardo conversam sobre Rodrigo, um suposto funcionário da SES, ainda não identificado. Os dois apontam que, caso a Operação Calicute chegue na pasta, ele estaria ameaçado. “O Rodrigo é que tem que tomar cuidado também”, alerta Ricardo, ciente do parentesco de Rodrigo com Adriana. Fani ameniza: “Ele falou que não está preocupado porque ainda estão mexendo só com obras.” Mas Ricardo salienta: “Se mexerem com a saúde, é que vai ser...”
Em outro áudio, um dos operadores financeiros do esquema, Wagner Jordão Garcia, preso pela Calicute, conversa com o ex-tesoureiro do PMDB Luiz Rogério Gonçalves Magalhães sobre o atual secretário de Fazenda, Gustavo Barbosa. Eles explicam por que o acham ‘esperto’. “Ele pagou a segurança e a educação. Está ‘cagando’ para a saúde, mas não é ‘cagando’. Está mais preocupado com os professores, que são ‘xiitas’, né? E com a segurança, porque porra, mexer com segurança é terrível (...) E precisa ter alguém que defenda o Palácio, né?”, diz Wagner.
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Eles consideram a Educação um ‘movimento mais forte’ e duvidam da capacidade de mobilização da Saúde. “Ela (a Saúde) tem consequências para a sociedade, mas não tem uma força política de mobilização. Porque a maioria é terceirizada, né?”, explica Magalhães.
Engano deixa Bezerra livre por um dia

Preso na Operação Calicute, Luiz Carlos Bezerra, suposto operador financeiro do esquema investigado, passou 24 horas fora da prisão por uma “falta de cuidado”. Na manhã de quarta-feira, ele foi colocado em liberdade por engano.
Segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), ele havia sido libertado com habeas corpus no processo que o acusa de porte ilegal de armas. Quando a Polícia Civil apurou se Bezerra havia outro mandado contra ele, apareceu a mensagem ‘Nada consta’.
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No entanto, o acusado de ser o operador financeiro do esquema se apresentou ontem à Justiça Federal, acompanhado de seu advogado. De acordo com a Procuradoria da República no Rio, Wagner Jordão Garcia, outro suposto operador do esquema, tentou fugir da operação carregando uma maleta com R$ 22 mil. Ele foi preso em Ipanema, onde mora.
Ele teria descido pelo elevador às 5h55 na tentativa de fuga. Mas não deu certo: assim que saiu, deu de cara com os investigadores, que esperavam o relógio marcar 6h para entrar em ação.
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?Com o estagiário Caio Sartori
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