Por tabata.uchoa
Rio - Duas das principais portas de entrada de turistas do Rio de Janeiro viraram reduto de taxistas. Aproveitando a falta de fiscalização, eles atuam em pontos clandestinos que funcionam a todo vapor nos setores de embarque do Aeroporto Santos Dumont e da Rodoviária Novo Rio. Em plena luz do dia, a grande circulação de pessoas não impede a vista grossa de quem, em vez de fiscalizar, permite que a irregularidade ocorra. 
Na Rodoviária Novo Rio%2C taxistas param à espera de passageiros%2C formando fila dupla na rua%2C o que é irregularDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

O DIA acompanhou, por duas semanas, o movimento no Santos Dumont e flagrou a infração em todas as oportunidades. Na terça-feira, dois guardas municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização, foram vistos conversando com os transgressores. Ao ser questionado sobre a permanência dos motoristas em um ponto imprevisto, um deles tentou disfarçar: “Eles pararam rapidinho só para deixar passageiro. Daqui a pouco o colega manda eles (taxistas) retirarem os carros dali”. Os veículos, no entanto, permaneceram no local até que chegassem novos clientes no local.

O ponto irregular funciona em uma área destinada exclusivamente ao trânsito de viajantes que chegam ao aeroporto para o embarque. O espaço, no entanto, é também utilizado para atrair quem circula com malas pelo saguão ou pelo terminal e demonstra estar em busca de serviço de táxi. No esquema observado, um suposto engraxate é quem assedia as pessoas, oferece o serviço e as encaminha aos motoristas infratores.
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Comemorando, um dos taxistas conversava informalmente sobre a arrecadação com os preços superfaturados na última semana. Sem saber que falava com a equipe do DIA, ele contou que cobrou R$ 130 de uma passageira cujo destino era a Barra da Tijuca. “Ela reclamou que chegamos ao local em menos de 30 minutos. Como já havíamos fechado o preço antes de iniciar a viagem, fui pelo Alto da Boa Vista, que é mais rápido. Taxista tem que saber usar a malandragem”, ironizou. Em consulta à tabela de preços divulgada pela prefeitura, o valor apurado para o trajeto Santos Dumont — Barra da Tijuca gira em torno de R$ 96.
Ao aterrissar no Rio na sexta-feira, a estudante paranaense Alexia Pinheiro, de 21 anos, foi assediada e ficou assustada com a abordagem, que considerou agressiva. “O rapaz disse que trabalhava com taxímetro. Mas ao ser questionado sobre o valor médio do trajeto, ele tentou fechar uma viagem até Ipanema por R$50. Sabia que estava fora da realidade e optei por um Uber”, comentou.
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A estudante Victória de Castro, 25 anos, que veio de Marília, no interior de São Paulo, ficou surpresa com o que considera desorganização do espaço. “Para quem não mora no Rio, é difícil saber se o valor cobrado é justo. Como não conheço a cidade, me vejo obrigada a aceitar o preço imposto pelos taxistas”, lamentou.
No mesmo local, um ‘amarelinho’ tentou cobrar R$ 20 de um turista cujo destino era Santa Teresa. O passageiro, no entanto, não aceitou a oferta. “Sempre tomo cuidado para não ser extorquido por taxistas”, comentou o físico Júlio César Ferreira, de 31 anos. Ele veio de Campinas para passar o final de semana no Rio e também optou pelo Uber.
Na falta de orientação%2C passageiros ficam perdidosDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Em frente ao ponto clandestino, está instalado um balcão de informações da Infraero. Autoridades que atuam no aeroporto confirmam a existência do esquema. Um funcionário da empresa reconheceu que os taxistas não possuem autorização para explorar o espaço. Mas se isentou, explicando que a fiscalização seria de responsabilidade da prefeitura.

Um guarda municipal em outro setor do aeroporto admitiu saber que os taxistas se concentram todos os dias no mesmo lugar, onde deveriam ser multados. A Infraero disse não ter gestão sobre vias externas, áreas de responsabilidade da prefeitura. Já a Guarda Municipal garantiu que mantém, diariamente, quatro agentes de trânsito no Santos Dumont para evitar esse tipo de problema, que ainda parece longe de ser solucionado.

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Noite na Novo Rio é convite à bandalha
Quando a noite cai, o setor de embarque da Rodoviária Novo Rio fica sob o controle de taxistas não credenciados, que também montaram um ponto clandestino no local. A presença de uma viatura da Guarda Municipal também não impede a ocorrência de irregularidades, como a utilização de carros em péssimo estado de conservação, viagens com preço fechado e fila de táxis ‘amarelinhos’ em uma área da rodoviária destinada exclusivamente para viajantes que chegam ao terminal.
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Na noite de terça-feira, O DIA flagrou dois taxistas efetuando a cobrança ‘no tiro’, como se referem ao valor fechado antes, sem o uso do taxímetro ou da tabela oficial da prefeitura.
Em espanhol, um viajante perguntou aos motoristas que formavam a fila clandestina quanto custaria o trajeto até a Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Sob a vista grossa da viatura da Guarda Municipal, que deixava os infratores agirem à vontade, o turista obteve como resposta o valor de R$ 50. Sem outra opção de transporte em vista, o homem embarcou no carro.
Taxistas criaram ponto irregular em local onde só poderiam deixar passageiros em frente ao Santos DumontDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Por volta de meia-noite, no mesmo local, um outro táxi em péssimo estado de conservação abordou um passageiro e acertou que o percurso seria feito sem o uso do taxímetro.

Taxista fora do ‘esquema’ é expulso de lá

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Além das abordagens agressivas e cobranças abusivas aos passageiros, motoristas do ponto irregular na área de embarque da Rodoviária Novo Rio ainda ameaçam taxistas de fora do ‘esquema’ criado por eles. Na área de embarque da Rodoviária Novo Rio, O DIA flagrou um motorista discutindo com um taxista que tentou parar o carro no ponto clandestino.
‘Engraxate’ que chama passageiros para embarcar em táxis em local proibido no aeroporto conversa com motorista do carro da SMTRDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

“Eles (taxistas do ponto irregular) nos proíbem de pegar passageiros, mas todo mundo sabe que cobram dos clientes de forma irregular, sem o uso do taxímetro. Além disso, os carros estão caindo aos pedaços”, desabafou um taxista, que não sabia que conversava com a equipe do DIA. Ele, que não faz parte do ‘esquema’, foi proibido de ficar na fila clandestina.

Através de nota, a concessionária Novo Rio informou que a fiscalização do lado de fora do terminal é de responsabilidade da Prefeitura do Rio. A Guarda Municipal prometeu apurar as denúncias. E, caso constate as irregularidades, abrirá um processo administrativo sobre a atuação dos agentes.

Pela legislação em vigor, em pontos como a rodoviária e os aeroportos, o passageiro pode optar entre o valor do taxímetro ou a tabela da prefeitura, que deve estar à vista no local.