Rio - Os apartamentos e carros de luxo de Ary Ferreira Costa Filho, ex-assessor especial do então governador Sérgio Cabral, já eram citados em 2010, em um dossiê feito pelo religioso cubano Rafael Zamora, de 51 anos. O nome de Ary figurou em uma das linhas da investigação como mandante da morte de Zamora, em 2011. Na época, após o assassinato, ele foi indagado a respeito das denúncias contidas no dossiê pela Polícia Civil.
Ary foi preso preventivamente ontem pela Polícia Federal, acusado de lavagem de dinheiro, em esquema envolvendo Cabral, em mais um desdobramento da Lava Jato.
Zamorra, que era babalaô, foi morto a tiros na porta de casa no Cosme Velho, local em que também realizada consultas, em fevereiro de 2011. Antes de morrer, ele fez um documento, ao qual DIA teve acesso, no qual relatava supostas ameaças de morte por parte do assessor de Cabral. Ary e sua suposta amante, de nome Ione Brasil, seriam clientes do religioso cubano.
Durante as consultas, Ione teria contado como Ary enriqueceu ilicitamente e possíveis ocultações de bens: como, por exemplo, a titularidade de carros no nome do filho de 4 anos.
Zamora e Ione teriam se envolvido amorosamente e, a partir de então, Ary começou a fazer ameaças. O babalaô citou que elas consistiam em perseguições e escutas telefônicas.
O religioso entregou o dossiê para o irmão, dois meses antes de morrer. O documento foi entre à polícia, que investigou a possibilidade do envolvimento de Ary na morte. O caso não aparece no site do Tribunal de Justiça. Procurada, a Polícia Civil ainda não respondeu se chegou a concluir o inquérito.
Preso operador do esquema Cabral
Segundo as investigações do Ministério Público federal (MPF), Cabral cobrava propina de 5% nos contratos assinados com o governo do Estado e Ary Fichinha — como seria conhecido pelos colegas por distribuir senhas para empresários que o procuravam em busca de vantagens, como perdão de dívidas de ICMS — seria um dos responsáveis por lavar o dinheiro em falsos contratos. Ele levaria as quantias para duas concessionárias de carros, cujos donos, da mesma família e que fizeram acordo de delação premiada, realizavam contratos fictícios para a lavagem de dinheiro.
O MPF estima que R$ 10 milhões tenham sido movidos nesse esquema. O dinheiro recebido por Ary foi usado para a compra de sete imóveis de luxo na Barra e carros de luxo. Um deles, um Camaro amarelo, foi apreendido pela Polícia Federal.
Sua prisão foi realizada pela Polícia Rodoviária Federal, às 13h, após a busca em vários endereços. No momento da prisão, ele estava acompanhado de uma mulher, em uma Pajero, e não resistiu.
Após a detenção, os agentes voltaram com Ary para uma casa em Miguel Pereira, onde ele disse que estava se recuperando de cirurgia no joelho. Os agentes ficaram na residência por 3 horas e deixaram o local por volta das 18h, para a sede da PF, no Rio.