Por gabriela.mattos
Rio - As autoridades públicas têm se esforçado para tranquilizar cariocas e fluminenses sobre o risco de surto da febre amarela no Rio. A Secretaria Estadual de Saúde garante que a chegada do vírus da doença ao território fluminense é “pouco provável”. Mas especialistas de referência na área contestam a suposta segurança: segundo eles, embora nenhum caso tenha sido registrado recentemente no estado, a ameaça, apesar de remota, existe. E requer cuidados pessoais.
Há dois tipos de contágio da febre amarela. Ambos são causados pelo mesmo vírus, mas se diferem pelo vetor de transmissão. A Secretaria de Saúde afirma que a forma urbana, transmitida pelo Aedes Aegypti — também responsável pela dengue, zika e chicungunha — não existe no Brasil desde os anos 40. Já a silvestre é disseminada por mosquitos que vivem em matas. O órgão espera que, com a vacinação distribuída para 16 municípios vizinhos a Minas Gerais e ao Espírito Santo, será criado um “cinturão” contra a entrada do vírus no Rio.

“Acho que um surto imediato não vai haver. Mas, como o Aedes aegypti é um vetor que já existe em cidades, fica difícil afirmar que não há essa possibilidade de médio a longo prazos (de a doença chegar ao Rio)”, avalia o infectologista Paulo César Guimarães, diretor da Faculdade de Medicina de Petrópolis. “Basta que alguém se contamine em uma cidade próxima. Se um mosquito picar essa pessoa e depois entrar em outra cidade, pode levar a doença para outros indivíduos que não estavam contaminados”, explica.

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Risco de morte
O infectologista Edmilson Migowski concorda que, em se tratando de Brasil, país tropical, “o risco sempre existe”. Entretanto, aprova o modelo de prevenção adotado no Rio. De acordo com ele, a vacina contra febre amarela é bastante eficaz, mas pode acabar originando a doença em uma a cada 500 mil pessoas vacinadas, e até levar à morte.
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Pelas contas de Migowski, se toda a população fluminense recebesse a vacina, cerca de 30 pessoas correriam esse risco. “A vacina é feita com vírus vivo atenuado. Embora boa parte dos imunizados não tenha nenhum problema, pessoas com mais de 60 anos nunca vacinadas antes, ao receber a primeira dose, podem desenvolver a doença”, alerta.
Migowski defende que a vacina só deve ser oferecida em ampla escala no Rio se houver registro de infecção em moradores que não viajaram. Já nas cidades onde há surto, segundo ele, o risco de complicação é maior para quem não se imuniza.
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Olhos podem ficar amarelos

Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, a maioria dos infectados não apresenta sintomas. Quando aparecem, ocorre febre baixa, dores musculares, de cabeça e nas articulações, náuseas, vômito e fraqueza. Em casos mais graves, pode haver comprometimento do fígado e rins, amarelidão dos olhos e da pele e vômitos com sangue.

Embora a forma mais eficaz de prevenção seja a vacina, o risco de infecção é maior para pessoas com mais de 60 anos, imunodeprimidos e transplantados, que não podem se vacinar. Outras formas de prevenção: usar repelentes, ficar em lugares fechados com ar-condicionado, dormir com mosquiteiros, evitar matas, vestir roupas compridas e não deixar água parada.

Municípios receberam 250 mil doses
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A Secretaria Estadual de Saúde enviou 250 mil doses da vacina para 16 cidades localizadas nas divisas com Minas e Espírito Santo. As prefeituras de Cantagalo, Carmo, Comendador Levy Gasparian, Bom Jesus do Itabapoana, Laje do Muriaé, Miracema, Natividade, Porciúncula, Santo Antônio de Pádua e Varre-Sai estão vacinando a população com idades entre 9 meses e 60 anos, obedecendo aos critérios e contraindicações. Os municípios de Campos dos Goytacazes, São Francisco de Itabapoana, Itaperuna, Sapucaia, Três Rios e Paraíba do Sul terão localidades específicas para imunização.
Segundo o órgão, devem ser vacinados os habitantes desses municípios com idades a partir dos 9 meses até os 60 anos. O calendário da campanha é definido pelas secretarias municipais de saúde. A recomendação é para que a imunização seja realizada em até seis etapas, por faixa etária, até 10 de março.
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Nas demais cidades, devem buscar os postos de saúde pessoas que estiverem com viagens programadas para áreas do país com recomendação de vacinação, mas é preciso tomar a vacina com pelo menos dez dias de antecedência. Há contraindicação para gestantes, lactantes, pessoas com alergia a algum componente e alergia a ovos e derivado, indivíduos com doença febril aguda, com comprometimento do estado geral de saúde e imunodeprimidos, entre outros grupos.