Rio - O jogo suicida da Baleia Azul, que motivou a abertura de investigações pela Polícia Civil do Rio nos últimos dias, deu mais um indício de que não é uma lenda urbana. Conhecida por participações em programas de televisão, a redatora-chefe da Revista Tititi, Marcia Piovesan, declarou que um parente dela, de 16 anos, morador de Belo Horizonte (MG), foi vítima do game mortal na véspera do domingo de Páscoa.
Marcia relatou ao DIA que Alexandre Assis, sobrinho de um tio da jornalista, foi encontrado morto pela mãe e pelo padrastro no dia 15. Eles acharam o garoto enforcado ao chegarem em casa à noite. Segundo Marcia, uma mensagem deixada no WhatsApp do menino foi o primeiro sinal que levou a família a ligar a morte ao jogo, cujo último desafio é o suicídio.
“A família viu no WhatsApp que a última mensagem deixada para ele dizia: ‘A culpa é da Baleia Azul’. Depois, o pai, quando foi reconhecer o corpo no Instituto Médico Legal, viu uma baleia desenhada no braço dele com um objeto cortante”, disse. O caso é investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais e deixou a população do bairro Ribeiro de Abreu, no Nordeste de Belo Horizonte, inconformada.
Como informou na semana passada a delegada da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) do Rio, Fernanda Fernandes, o Baleia Azul é um jogo de 50 desafios macabros, prescritos pelos chamados ‘curadores’ (como se autointitulam os organizadores do game) através de redes sociais a crianças e adolescentes. A maioria das tarefas induz as vítimas a cometer atos de automutilação, como desenhar uma baleia no antebraço com objeto cortante.
A tragédia na família de Marcia Piovesan foi veio à tona a partir de relato da própria jornalista em uma publicação da autora Gloria Perez no Facebook, na sexta-feira. Na postagem, Gloria anunciou que tratará do tema na novela ‘A Força do Querer’. Marcia, então, comentou a postagem apoiando a iniciativa: “Que bom, querida... Tô fazendo o que posso também. Faça isso mesmo... E conte comigo. Tô na causa”, escreveu.
As investigações do Baleia Azul no Rio dão base para a polícia saber que a maioria das vítimas tem tendência à depressão e que, depois que entram no jogo, são impedidas de sair pelos ‘curadores’. Marcia confirmou que seu familiar era bastante introspectivo e ficava muito isolado no quarto, mas não dava indícios de que sofria de problema tão grave. Segundo ela, os pais não perceberam os cortes no corpo do menino antes. “Fiquem de olho em seus filhos para não deixar isso acontecer. Esses caras intimidam de um jeito que a criança não tem saída. Eles falam que se desistir, vão matar sua família. Com isso, o adolescente fica cada vez mais desesperado, até que se mata”, aconselha.
Glória Perez estuda como abordar tema
A autora Gloria Perez declarou na sexta-feira que pretende abordar o jogo Baleia Azul em sua novela das nove. “Sim, nós vamos falar disso em #aForçaDoQuerer! E que mais uma vez a novela possa contribuir para esclarecer e alertar as pessoas!”, publicou em seu perfil do Facebook.
A novelista contou que ficou sabendo pela imprensa sobre o jogo, que tem 50 desafios e induz ao suicídio. Ela disse que ainda está fazendo pesquisas para decidir como vai incluir o assunto na trama e que pretende usar o alcance da novela para alertar pais e possíveis vítimas. “É um alerta e um esclarecimento que se pode dar para as pessoas. Utilizar a novela para alertar adolescentes e pais de adolescentes para o risco que isso significa”, explicou.
Os internautas se manifestaram, em sua maioria, em apoio à iniciativa. “Muitas pessoas brincam com esse assunto tão sério, talvez aí caiam na realidade desse perigo que está levando embora nossos jovens”, disse uma usuária.
DRCI investiga 101 denúncias
No Rio, a delegada Fernanda Fernandes, da Delegacia de Repressão a Crimes de informática (DRCI), está investigando 101 suspeitas de aliciamento de jovens para o jogo, enviadas pelo Disque-Denúncia. Apenas dois casos estão confirmados pela DRCI: duas meninas, uma de 14 anos, e outra de 15, moradoras da Zona Oeste e do interior do estado, que tentaram se matar após entrar no desafio. Em Duque de Caxias, estaria um suposto terceiro caso: um menino autista de 13 anos que teria ido para o colegio com cortes nos braços, mas a DRCI ainda não foi notificada.
Em nota, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) chamam a atenção de pais, escolas e profissionais de saúde para identificar condutas de risco. E revelam que o suicídio já é a segunda causa de morte em jovens dos 15 aos 29 anos de idade e a principal causa de mortalidade entre meninas dos 15 aos 19 anos.