Por adriano.araujo

Rio - A investigação da força-tarefa da Lava Jato no Rio, que deu início a operação "Ponto Final", da Polícia federal (PF) e do Ministério Público Federal (PMF), nesta segunda-feira, aponta que o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, recebeu R$ 122,8 milhões de propina da cúpula dos transportes no Rio de Janeiro, entre 2010 e 2016, de um total de R$ 260 milhões. Rogério Onofre, ex-presidente do Detro que foi preso hoje em Florianópolis, Santa Catarina, recebeu R$ 44,1 milhões em propinas pagas pelas empresas. As ações são desdobramentos das operações Calicute — que prendeu o ex-governador — e Eficiência. 

Outro preso nesta manhã foi Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), em seu apartamento na Lagoa, Zona Sul.  No total, foram cumpridos todos os 30 mandados de busca e apreensão e outros três mandados de prisão temporária. Como saldo final da ação, 11 pessoas foram presas, dez no Rio e uma em Santa Catarina.  Foram cumpridos oito mandados de prisão preventiva. Já Jacob Barata Filho, empresário do ramo de transportes, foi preso na noite deste domingo quando embarcava para Portugal.

Lélis Teixeira e José Carlos Lavouras%2C Fetranspor%3B Rogério Onofre%2C ex-DetroMontagem sobre reprodução e divulgação

Marcelo Traça Gonçalves, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (SETERJ), foi preso pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em uma abordagem na Dutra, em Barra Mansa. Ele estava em um I/Mini Cooper, de cor preta, com acompanhado do filho. 

As investigações contaram com depoimentos prestados através da delação premiada de Jonas Lopes, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do doleiro Álvaro José Galliez Novis, este último contratado por José Carlos Lavouras, conselheiro da Fetranspor e sócio-administrador da Viação Flores, para recolher, guardar e distribuir a propina. Ela detalha como o dinheiro da propina em espécie era conduzido através de contas abertas por Novis em transportadoras de valores, como Transegur (hoje Prosegur) e Trans Expert, para a posterior distribuição a políticos e agentes públicos. O valor em propinas pago chega a R$ 260 milhões, mas o MPF disse que a quantia é maior, já que alguns beneficiários gozam de foro privilegiado e não tiveram os nomes divulgados.

Como o dinheiro chegava até CabralReprodução / Divulgação

Através de documentos e planilhas, foram identificadas estrutura montada pelas empresas de ônibus e Fetranspor para obter vantagens indevidas com tarifas e nos contratos públicos firmados. Segundo o doleiros, as ordens para pagar e quem receberia a propina eram dadas por Lavouras.

O doleiro Álvaro Novis entregou um pendrive para os procuradores da Lava Jato no Rio com uma planilha indicando os movimentos paralelos entre 2010 e 2016. Nas planilhas Lelis, Lavouras e Barata Filho são citados.

As conversas para o acerto do local do pagamento eram feitas por um aplicativo que apagava as mensagens após o envio. Vinho era o apelido de Novis, já Alface e kluh, de Lavouras, diz o MPF.

Novis também disse que Cabral recebia vantagem indevida proveniente do setor, através de Carlos Miranda (preso na Operação Calicute), desde a época em que estava na Alerj.

Na delação de Novis, os investigadores descobriram quatro contas destinadas para o pagamento de propina ao ex-governador que recebiam os seguintes nomes: Verde/SMS, Abacate, Super e CM (que significava Carlos Miranda).

"Que os pagamentos feitos a Carlos Miranda eram destinados ao ex-governador Sérgio Cabral; Que as entregas feitas a Carlos Miranda se davam da seguinte forma: Miranda entrava em contato com José Carlos Lavouras, indicando, indicando o endereço da entrega; Que, então, Lavouras indicava ao colaborador o local onde deveria ser entregue o recurso; Que os pagamentos para Sergio Cabral via Carlos Miranda se iniciaram no período em que Sérgio Cabral Cabral encontrava-se da Alerj", diz o processo, apontando que a propina começou quando o Cabral ainda era deputado estadual.

Luiz Carlos Bezerra, operador financeiro de Sérgio Cabral, disse também em sua delação aos investigadores que recolhia propina na sede da empresa Flores em São João de Meriti, que tem como sócio-administrador o empresário José Carlos Reis Lavouras — sócio também de mais 13 empresas ligadas ao ramo de transporte.

Bezerra falou que os codinomes como "Jardim", Flowers" e "Garden" constantes de anotações de contabilidade feitas em agendas, apreendidas durante a deflagração da Operação Calicute, em novembro de 2016, eram referentes à Companhia Viação Flores. Lavouras também figura como membro do Conselho de Administração da Riopar Participações SA (Bilhete Único e Riocard) junto com o empresário Jacob Barata Filho (que é o presidente) e Lélis Marcos Teixeira (secretário da mesa apuradora).

Planilha mostra quanto cada um recebeu dos R%24 260 milhões de propina pagos pela cúpula dos transportesReprodução / Divulgação

O MPF disse que o esquema de corrupção era organizado a partir de quatro núcleos básicos: núcleo econômico, formado pelos executivos das empresas organizadas em cartel; o núcleo administrativo, composto por gestores públicos do governo do Estado, os quais solicitaram/receberam propinas; núcleo operacional cuja principal função era promover a lavagem de dinheiro desviado; e núcleo político, integrado pelo líder da organização Sérgio Cabral.

Jacob Barata Filho preso quando embarcava para Portugal

?A operação desta segunda-feira foi antecipada por conta da prisão do empresário Jacob Barata Filho, na noite deste domingo. Ele, que é herdeiro de Jacob Barata, empresário conhecido como o "Rei dos Ônibus" no Rio, estava na sala de embarque do Aeroporto Tom Jobim, onde se preparava para embarcar para Portugal.

Jacob Barata Filho (de óculos) foi preso pela Polícia Federal quando tentava embarcar para PortugalReprodução/TV Globo

A assessoria de imprensa do empresário informou que Jacob Barata Filho faria uma viagem de rotina para Portugal, "onde possui negócios há décadas e para onde faz viagens mensais. A defesa do empresário irá se pronunciar assim que tiver acesso aos autos do processo", e que a  acusação da Polícia Federal de que o Jacob estaria fugindo do país não se sustenta. "Prova disso é o e-ticket que comprova a passagem de volta no dia 12 de julho. Além de ter passagem de volta, o Jacob viaja a Portugal praticamente todos os meses. Seu grupo econômico possui negócios relevantes nesse país desde os anos 80".

E-ticket mostra retorno para o dia 12 de julhoReprodução

A Fetranspor diz colaborar com as autoridades policiais e está à disposição da Justiça para os esclarecimentos necessários.

Segundo a PF, nove pessoas foram presas na operação Ponto Final. Rogério Onofre chegará amanhã ao Rio de Janeiro e seguirá para o sistema prisional. Os demais presos também serão encaminhados ao sistema prisional estadual.

OS ALVOS DA OPERAÇÃO 'PONTO FINAL'

PRISAO PREVENTIVA

Lélis Marcos Teixeira, presidente da Fetranspor; PRESO

- José Carlos Reis Lavouras, conselheiro da Fetranspor e sócio-administrador da Viação Flores;

- João Augusto Morais Monteiro, presidente do Conselho Superior da Rio Ônibus;

- Jacob Barata Filho, empresário do ramo de transportes, que é sócio em mais de 25 empresas; PRESO

Rogério Onofre de Oliveira, ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do Rio (Detro); PRESO 

- Marcelo Traça Gonçalves, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Setrerj), vice-presidente do conselho de administração da Fetranspor, dono das empresas Rio Ita e Fagundes; ?PRESO

- Cláudio Sá Garcia de Freitas, operador que recebia o dinheiro destinado a Rogério Onofre;

- Márcio Marques Pereira Miranda, então funcionário da Prosegur;

- David Augusto da Câmara Sampaio, policial civil, apontado como dono da Trans Expert.

PRISÃO TEMPORÁRIA

- Carlos Roberto Alves, gerente financeiro da Fetranspor;

- Eneas da Silva Bueno, diretor financeiro da Rio Ônibus;

- Octacílio de Almeida Monteiro, vice-presidente da Rio Ônibus;

NOTIFICAÇÃO 

- Regina de Fátima Pinto Antonio, secretária de José Carlos Lavouras;

- Eni da Silva Gulineli, secretária de José Carlos Lavouras e funcionária da Viação Flores;

- Francisca da Silva Medeiros, secretária de Jacob Barata Filho;

- Claudia da Silva Souza Ferreira, chefe do financeiro da Viação Rio Ita.


Nas ruas, passageiros reclamam das tarifas e da qualidade dos transportes

Nas ruas, quem depende do transporte reclama das tarifas e do serviço prestado. A auxiliar de confecção Luciana Corrêa, 37 anos, mora no Parque São José, em Duque de Caxias, e reclama que já ficou até uma hora e meia aguardando o ônibus intermunicipal que sai da Central do Brasil, no Rio, e vai até seu bairro. “É muito triste ver essas pessoas roubando. A gente que depende de transporte público é que sofre”, disse a auxiliar, que considera absurda a tarifa de R$ 8,20 para um trajeto de 30 minutos.

Fabiana Silva, de 22 anos, moradora de Magé, costuma pegar o ônibus que sai do Rio e segue para Piabetá, em Magé, com preços de R$ 7,10 a R$ 15,80, dependendo do trajeto que ela faz. “Tem toda hora, mas é sujo e alguns têm até barata”, conta ela que também acha a tarifa alta demais.

Já o aposentado Dirceu Costa não paga mais a tarifa, mas reclama da qualidade do serviço prestado pelas empresas, que, na opinião dele, não são fiscalizadas como deveriam. “Não tem ar e é uma sujeira só”, conta o morador de Jardim Gramacho, em Caxias.

Em nota, a empresa Prosegur disse que Marcio Miranda não faz parte do quadro de empregados da companhia desde janeiro de 2014. A Prosegur informou ainda que prestou esclarecimentos e segue à disposição das autoridades competentes.

Colaborou Paola Lucas

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