Rio - O secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio Teixeira Júnior, negou demora na transferência por falta de leito do pequeno Arthur, baleado na barriga da mãe, em Caxias, do Hospital Municipal Moacyr do Carmo para o Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna. Conforme O DIA mostrou na segunda-feira, a mudança de uma unidade para outra levou pelo menos quatro horas. O bebê, que segue em estado grave, vem lutando bravamente pela vida e respira praticamente sozinho, com ajuda mínima de aparelho.
"Foi totalmente uma ilação (dedução) quanto a esse tempo, estão fazendo uma conta de quando ela chegou ao hospital. Ela chegou, foi submetida a uma cesariana, a criança foi submetida a procedimentos no Moacyr do Carmo, estabilizada, e quando ela tinha condições estáveis de ser removida com segurança isso aconteceu. O número é totalmente uma ilação e está comprovada pelo desenvolvimento da criança", disse.
Segundo o secretário, não houve qualquer discussão no momento que a criança chegou ao Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, que teria sido motivada pela falta de vaga.
"Isso é uma ilação completa e absoluta porque nossa obrigação é receber as crianças, principalmente oriundas do Moacyr do Carmo, porque nós somos alta complexidade de retaguarda do Moacyr (...) Nós não temos aqui e nem em lugar nenhum um volume de leitos parados esperando paciente. Nós trabalhamos sempre com uma taxa de ocupação de 110% em todas as nossas unidades. Mas graças a Deus a gente tem tido a capacidade de manter esse estado vivo, uma rede que salva vidas diariamente", explicou.
Luiz Antônio disse que "são normais as discussões" para decidir qual o melhor procedimento a ser adotado. "Quando você vai receber uma criança dessa grave, você precisa ver quais são os equipamentos, se vai botar no centro cirúrgico imediatamente, primeiro na neonatal, se recebe na neonatal, põe no centro cirúrgico, qual equipe médica que vai ter, quais são os procedimentos. Quando você passa num caso de urgência, é normal a equipe médica conversar, discutir, cada um ter uma opinião, pediatra avaliar que o mais importante é a estabilização, neurocirurgião que talvez seja cirurgia, então tudo isso é colocado para quem está ali no calor da emoção que tem que tomar uma decisão."
'Criança já respira sozinha'
O pequeno Arthur permanece com quadro de saúde grave, mas ele já respira praticamente sozinho, contando apenas com o auxílio de um aparelho. Segundo Eduardo de Macedo Soares, coordenador médico da UTI neonatal, ele pode voltar a andar. "Existe esperança. O bebê possui uma coisa chamada neuroplasticidade, pode regenerar algumas áreas, mas é muito cedo para dizer isso", falou. “Ele é um bebê forte, que sobreviveu ao tiro intrauterino e nasceu em uma cesárea de urgência. Só por isso já podemos dizer que ele é um campeão, um guerreiro. A evolução do quadro clínico dele está sendo satisfatória”, avaliou o médico.
Por conta da evolução do seu quadro, o menino já passa por uma dieta e foi até no colo da mãe, na visita ocorrida nesta quinta-feira. "Está progredindo como a gente espera", completou.
De acordo com o médico Vinicius Mansur Zogbi, coordenador da neurocirurgia, o quadro ainda é delicado. Apesar do tiro ter atingido de raspão no crânio, não houve dano cerebral.
"A pior das situações é que ele não mexa as pernas. Teve traumatismo, mas não foi intracerebral. A bala pegou no crânio de raspão, dilacerou a orelha, entrou no ombro direito, de lá fraturou a cravícula, entrou no tórax e fez a explosão da terceira vértebra e fraturou a quarta. Depois cruzou para o pulmão esquerdo e saiu", explicou.
Segundo Zogbi, a criança pode passar por outros procedimentos. "É preciso esperar para ver como ele vai reagir a descompressão da medula, é possível que ele passe por outro procedimento mais tarde, tem que esperar a evolução do quadro."