Rio - Doença silvestre desde a década de 1940, a febre amarela pode voltar a se tornar uma enfermidade de cidade. Pesquisa dos Institutos Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e Evandro Chagas, em parceria com o Instituto Pasteur, em Paris, mostrou que mosquitos urbanos, como o Aedes aegypti e o Aedes albopictus do Rio de Janeiro, podem voltar a transmitir a doença. Na capital carioca, não existe registros da febre amarela urbana há 70 anos. Os casos registrados no estado recentemente foram todos do tipo silvestre.
“A capacidade de o Aedes aegypti do Rio de Janeiro transmitir a febre amarela chega a 60% com a linhagem (do vírus da febre amarela) que circula agora e a 40% com a linhagem do passado ou a do oeste africano. É maior do que o mesmo mosquito de Goiânia, onde emergem casos de macacos infectados, e do que o de Manaus, que é área de febre amarela endêmica”, afirmou um dos autores do estudo, Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz.
Para o pesquisador, diante da real possibilidade de reintrodução da febre amarela urbana, é preciso que as autoridades de saúde intensifiquem o combate ao mosquito e imunizem a população.
“A transmissão urbana já pode estar acontecendo, e a gente não sabe. Na década de 1930, descobriram que havia a febre amarela silvestre porque houve caso no Espírito Santo e não acharam (o vírus) em nenhuma lava ou adulto de Aedes aegypti”, explicou. “Agora, só vamos provar a febre amarela urbana se não houver macaco doente nem mosquito silvestre naquela região”, acrescentou.
Lourenço explicou que a intenção do trabalho era avaliar o risco de a febre amarela voltar a se tornar uma doença das cidades. Neste ano, foram registrados 797 casos da doença no Brasil, com 275 mortes. Mas todas as pessoas foram picadas por mosquitos silvestres ao entrarem em áreas de matas.
Para avaliar o risco de reurbanização, foram testados mosquitos urbanos (Aedes aegypti e Aedes albopictus) do Rio, de Manaus e Goiânia, com diferentes linhagens do vírus — a que circulava anteriormente no Brasil, a que está circulando agora e a que foi isolada na África. “O vírus vai evoluindo no tempo, produzindo mutações, criando adaptações. Por isso precisávamos fazer a comparação. E, de fato, a chance de transmissão dos vírus é muito grande pelos insetos do Rio e de Manaus”, concluiu o pesquisador. O estudo foi publicado ontem na revista Scientific Reports.