Rio - A Delegacia de Homicídios da Capital investiga de quem partiu o tiro que matou o torcedor vascaíno Davi Rocha Lopes, de 27 anos, após a partida Vasco x Flamengo na noite de sábado, em São Januário. A vítima foi baleada nas imediações do estádio, após o jogo, quando, segundo testemunhas, havia um confronto entre cruzmaltinos e policiais militares.
A Polícia Militar informou que, fora do estádio, “PMs foram atacados com o lançamento de garrafas e pedras por torcedores do Vasco, onde foi necessária a intervenção do BPChq (Batalhão de Choque), da Cavalaria e do 4ºBPM”. A vítima morreu, de acordo com a nota, em um tumulto generalizado na rua do Bonfim, que ainda deixou outros três feridos. Os três foram atendidos e liberados no Souza Aguiar. A Rua Bonfim liga o estádio à Avenida Brasil e nela está a sede da torcida organizada Força Jovem do Vasco (FJV). A PM informou também que instaurou procedimento para apurar as condutas dos policiais.
Na página oficial da organizada e em postagens de diversos torcedores foram publicadas imagens e mensagens de luto. Nas redes, alguns torcedores acusam que os tiros partiram de PMs. Davi, que, segundo parentes, era ajudante de eletricista, aparece em fotos no Facebook com símbolos da FJV. Ele era conhecido entre os torcedores como Jacaré.
Moradores da região que pediram para não ser identificados dizem que o entorno virou praça de guerra após o jogo. “Já vimos outras confusões, como uma que ocorreu em 2005, mas nada na proporção da que ocorreu neste sábado”, afirmou um morador. “Foram tiros da polícia para todos os lados”, relatou um outro.
A confusão começou ainda no estádio e continuou nas ruas, enquanto a torcida do Flamengo, impedida de sair pela PM, ainda permanecia nas arquibancadas. Testemunhas contaram que muitos torcedores provocaram quebra-quebra na região. Ontem, à tarde, ainda havia lixeiras pelo chão e garrafas quebradas nas ruas.
A Polícia Militar informou que foram deslocados para o jogo 220 policiais dentro do estádio e 200 para o entorno, sem contar o apoio enviado após o fim da partida. A PM afirma que a torcedores do Flamengo foram escoltados pelo Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) na entrada e na saída do jogo e que não houve confronto entre as torcidas rivais. A Delegacia de Homicídios da Capital informou que vai ouvir testemunhas e buscar imagens de câmeras da região que possam auxiliar nas investigações.
PM: brigas frequentes com vascaínos
Em nota divulgada ontem, a Polícia Militar reclama de frequentes brigas envolvendo a torcida do Vasco. “Brigas entre torcedores do Vasco são recorrentes neste Campeonato Brasileiro, principalmente, em São Januário. Esse fato já foi relatado nas súmulas e, até o momento, o clube não foi punido (tendo sido absolvido em audiência semana passada)”, afirmou a PM.
Os parentes de Davi afirmam não ter ideia do que aconteceu e nem de onde teria partido o tiro que acertou o torcedor. “Não sabemos quem deu o tiro, se foi a polícia...”, desabafou o irmão da vítima, Carlos Henrique Rocha, de 35 anos. Ele e outros parentes foram ao Hospital Souza Aguiar, na madrugada de ontem, para reconhecer o corpo de Davi.
Prima do vascaíno, Fabiana Santos, de 32 anos, contou que a mãe de Davi passou mal ao receber a notícia. Ela chegou a ser levada para um hospital, onde estava sendo mantida por medicamentos.
Fabiana disse ainda que a família ficou sabendo da morte do primo através do Whatsapp. “Ele não costumava ir aos jogos, mas aproveitou uma folga para ir”, disse Fabiana.
Se não bastasse o sofrimento pela morte, os parentes reclamaram na demora na liberação do corpo de Davi para o Instituto Médico Legal (IML) por conta da falta de rabecão. Fabiana contou que o corpo chegou ao IML, na Avenida Francisco Bicalho, por volta de meio-dia de ontem, e foi liberado à noite para ser velado Santa Cruz. O enterro de Davi está marcado para hoje, no Cemitério de Santa Cruz, mas o horário não foi informado até o fechamento da edição.
MAIS BRIGAS
No Engenhão, 13 torcedores presos
Um dia após as cenas de barbárie em São Januário, uma briga entre torcidas causou momentos de tensão nos arredores do Engenhão, onde o Botafogo enfrentou o Atlético-MG. Policiais que estavam de plantão relataram que 13 torcedores foram detidos. A confusão teria começado porque membros de uma facção organizada alvinegra teriam preparado uma emboscada para torcedores do Galo. Um botafoguense, com a camisa ensanguentada, foi encaminhado para o posto médico.