Rio - Guilherme Alves Anselmo, de 15 anos, foi mais uma vítima fatal da violência que assola o Rio. O adolescente foi morto com dois tiros na cabeça em um assalto às 6h40 desta quarta-feira quando ia para o Colégio Visconde de Cairu, no Méier. O jovem, que estava no 1º ano do ensino médio, lutou com um dos assaltantes para impedir o roubo do celular, que ganhou há cerca de uma semana. O crime aconteceu na Rua Paulo de Medeiros, perto do Morro do Dezoito, em Água Santa, na Zona Norte, onde morava com a mãe, o pai e um irmão de 5 anos.
Segundo a polícia, os assassinos seriam da Favela Camarista Méier, do Complexo do Lins. "Esse era o trajeto normal que ele fazia para ir pra escola. Ele pegava o ônibus até o Méier. Eu estava dormindo e meu filho ligou para contar. Não acreditei. Mais uma vez, mais uma vítima. No Rio de Janeiro não temos governador muito menos segurança. Não dá pra viver no Rio. A violência tomou conta", disse o tio do menino, João Tranquilino.
Guilherme estava de uniforme de Educação Física. No local, colegas de escola estão desesperados. "Pra que isso, gente? O moleque era traquilo. Por que fizeram isso com ele?", disse, chorando muito, um amigo da vítima.
Policiais do 3ºBPM (Méier) foram chamados e já encontraram o garoto morto. A Delegacia de Homicídios (DH-Capital) foi acionada e realizou o trabalho de perícia. Agentes realizam diligências para apurar as circunstâncias do caso, bem como para identificar e localizar os criminosos.
Jovem escapou de assalto semana passada
?Guilherme estava no primeiro ano do Ensino Médio e estudava no Colégio Estadual Visconde de Cairu, no Méier. A unidade já estava no período de férias, mas o adolescente fazia recuperação e hoje entregaria um trabalho de História que fez ontem e faria uma prova de Física. "A escola já estava de férias, mas ele tinha ficado de recuperação. Ontem (terça-feira), ele passou tarde fazendo um trabalho de História. O sonho dele era tirar carteira de motorista e comprar uma moto", disse Lorraine da Silva Barbosa, de 16 anos, que estudou com ele desde pequena. Ela contou que na semana passada eles sofreram uma tentativa de assalto no mesmo lugar em que Guilherme foi morto hoje, mas que ela e ele correram e os criminosos assaltaram o amigo que estava com a vítima hoje.
"Na quinta-feira, fui com eles pra escola e fomos assaltados. Guilherme correu e o Léo ficou e foi assaltado. Levaram o celular dele. Eu corri. Aqui, é muito perigoso e deserto. Eu hoje iria com ele, mas saí mais cedo e, quando cheguei na escola, o porteiro disse que não teria aula porque o Guilherme morreu. Estudamos juntos desde o jardim de infância", contou a jovem que também está de recuperação.
"Ele era um garoto muito brincalhão aqui na escola. Fiquei sabendo da morte dele pela TV. Todos nós estamos muito triste. Infelizmente, hoje, temos que dosar até nas palavras. Estão matando por pouca coisa", lamentou Wagner Gomes, 56, porteiro da escola onde Guilherme estudava.
Outro amigo do adolescente, Adelino Douglas, de 17 anos, contou que o grupo de amigos chegou a conversar sobre a violência na região. "Hoje, eu tinha uma prova de recuperação. Na segunda-feira, conversamos sobre a violência e imploramos para ninguém reagir, falamos isso também para o Guilherme. Ele nunca foi de briga, era muito tranquilo", lembrou o jovem.
Yonara Silva Santos, de 16 anos, ia e voltava todo dia da escola com Guilherme. "Até o ajudei a fazer trabalho de História que ele ia entregar hoje. Estou muito abalada. Perdi um dos meus melhores amigos", lamentou a adolescente. Mãe da jovem, Priscila Santos, denunciou a falta de policiamento na região. "Hoje ficamos sabendo que tiveram três assaltos aqui. Infelizmente temos que dar celular para os filhos porque na escola não tem telefone. Quando dá a gente traz os filhos no ponto do ônibus. Mas, é só Deus pra livra a gente da violência", disse ela.
O DIA esteve na 23ª DP (Méier) e 26ª DP (Todos os Santos) para saber se algum registro de roubo, na região onde Guilherme morreu, foi feito. No entanto, em nenhuma das respectivas delegacias havia sido feito boletim de ocorrência. Em uma das delegacias, um inspetor contou que aumento consideravelmente o número de pessoas que são assaltadas na região do Méier. Segundo esse agente, "os bandidos tomaram o assalto e a polícia não está tendo como combater".
Reportagem do estagiário Rafael Nascimento, sob supervisão de Maria Inez Magalhães