Por thiago.antunes

Rio - Estava coberto, cercado por colegas que o acompanhavam e curiosos, na Rua Paulo de Medeiros, quando policias do 3ºBPM (Méier) chegaram. A mãe, Gilvanete, se debruçou chorando sobre o corpo do filho e foi retirada do local após passar mal. Guilherme só queria chegar à escola. Mas, não conseguiu. O adolescente de 15 anos, que há dois meses havia entrado no curso de Jovem Aprendiz e projetava uma vida inteira de conquistas, caiu no meio do caminho, atingido pela bala da arma de um bandido.

Familiares de Guilherme Anselmo se desesperam com morto do adolescente durante roubo em Água SantaMaíra Coelho / Agência O Dia

Guilherme Alves Anselmo foi assassinado, na manhã de ontem, em Água Santa, com dois tiros na cabeça durante um assalto quando ia para o Colégio Visconde de Cairu, no Méier. O jovem teria entrado em luta corporal com com um dos assaltantes para impedir que roubassem o celular que acabara de ganhar, há cerca de uma semana. Ele morava com a mãe, o pai e um irmãozinho de 5 anos, no bairro onde foi morto.

Segundo a polícia, os assassinos seriam da Favela Camarista Méier, do Complexo do Lins. Existem duas linhas de investigação. A primeira refere-se ao roubo.

A segunda, defende que o assalto faz parte de um plano de vingança. Na semana passada Guilherme teria reagido e agredido um dos bandidos em tentativa de assalto. Ele pode ter sido atacado ontem pelos mesmos criminosos, desta vez, armados, que o reconheceram. “Era o trajeto que ele fazia para ir à escola. No Rio de Janeiro não temos governador muito menos segurança. Não dá pra viver no Rio. A violência tomou conta”, disse o tio do jovem, João Tranquilino.

Guilherme morreu de uniforme. Ele ia fazer prova de recuperação. “A escola já estava de férias. Na terça-feira, passamos a tarde fazendo um trabalho de História. Hoje (ontem) seria a prova de Física”, contou uma amiga da escola, de 16 anos, colega de infância, que estava com Guilherme na tentativa de assalto anterior. Outro amigo do adolescente, de 17 anos, contou que o grupo de amigos chegou a conversar sobre a violência na região e fizeram um pacto.

Amigos protestam contra morte de adolescente assassinado em Água SantaReprodução Internet

“Na segunda-feira, conversamos sobre a violência e imploramos para ninguém reagir. Falamos isso também para o Guilherme. Ele nunca foi de briga, era muito tranquilo”, lembrou o jovem. Em nota, a Polícia Militar informou que de janeiro até junho de 2017, o 3°BPM (Méier) apreendeu 108 armas de fogo, incluindo cinco fuzis. No período, 634 criminosos foram presos e 111 menores apreendidos em toda área do batalhão. À tarde, vizinhos e amigos de Guilherme protestaram com camisas e cartazes em Água Santa, cobrando justiça.

Recompensa de R$ 1 mil por assassino de criança

O Portal dos Procurados divulgou ontem, um cartaz oferecendo R$ 1 mil de recompensa para quem der informações sobre o suspeito de matar Bryan Eduardo Mêrces, de 6 anos, durante uma briga de trânsito, em Campo Grande, na madrugada de domingo. No enterro de Bryan, na terça, familiares fizeram apelo para que o motorista acusado de ter efetuado os disparos, se entregue à polícia.

De acordo com as investigações, o pai do menino freou na esquina das estradas do Campinho com Inhoaíba porque havia um carro no cruzamento. O motorista que vinha atrás reclamou, emparelhou o carro e fez disparos contra o veículo da família. A irmã de Bryan, de 3 anos, também foi ferida e permanece internada.

O DIA pediu entrevistas para as principais autoridades do Rio de Janeiro. A reportagem solicitou uma conversa com o governador do Rio Luiz Fernando Pezão. Ao secretário de Segurança Pública Roberto Sá. Ao secretário Estadual de Educação Wagner Vinter. Ao comandante geral da PM coronel Wolney Dias e ao chefe da Polícia Civil Carlos Leba. Nenhum deles aceitou falar com a reportagem. Todos se limitaram a responder através de notas. 

A assessoria de imprensa de Pezão, por telefone, afirmou que ele não iria se pronunciar sobre os casos de violência no Estado e que os questionamentos deveriam ser feitos para a Secretaria de Segurança. O secretário de Segurança Roberto Sá, por uma nova, disse "que o Rio está em estado de calamidade financeira há um ano, o que impede o pagamento do Regime Adicional de Serviço (RAS) e a contratação de quatro mil policiais militares já aprovados em concurso".

Ainda segundo Sá, "há necessidade de mudança da lei para tratar de casos como esses, com elevado grau de crueldade por parte de criminosos". A secretaria estadual de educação se limitou a dizer em uma nota que, "lamenta o ocorrido e se solidariza à família do jovem". Segundo a pasta, "como o fato aconteceu fora do espaço escolar cabe à secretaria de segurança, através da Polícia Civil, se pronunciar".

A assessoria de imprensa da Polícia Civil disse que o chefe da pasta estava "em agenda externa esta semana" e que não poderia atender a reportagem. O comandante geral da PM coronel Wolney Dias, através da assessoria, disse que não poderia conceder entrevista pois estava na mudança da chefia do Estado Maior Geral. Segundo uma nota, "os índices criminais refletem um cenário social que não depende apenas da corporação para ser revertido".

Reportagem dos estagiários Matheus Ambrósio e Rafael Nascimento, com supervisão de Wilson Aquino

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