Rio - O ex-governador Sérgio Cabral, a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, o empresário Eike Batista e Flávio Godinho prestam depoimento ao juiz Marcelo Bretas, na tarde desta segunda-feira. A audiência com os réus da Operação Eficiência começou por volta das 14h na 7ª Vara Criminal da Justiça Federal do Rio de Janeiro.
Durante seu interrogatório, a mulher do ex-governador afirmou não ter atuado diretamente nos processos relacionados ao empresário Eike Batista. Segundo Adriana, esses casos foram conduzidos pelo seu ex-sócio e ex-marido, o advogado Sérgio Coelho.
"Eu e Eike nos conhecemos por razões institucionais (...) Nunca estive com nenhum executivo do grupo EBX nem de empresas ligadas a ele. Os trabalhos foram feitos com meu ex-sócio Sérgio Coelho", afirmou ao juiz Marcelo Bretas, responsável pelos desdobramentos da Lava Jato no Rio.
Segundo as investigações, Eike teria pagado mais R$ 1 milhão em propina a Cabral por meio do escritório de advocacia de Adriana. Segundo os procuradores, para ocultar o repasse, foi firmado um contrato entre o escritório da mulher de Cabral e a EBX, de Eike
A mulher do ex-governador, que está atualmente em prisão domiciliar, detalhou que havia três demandas das empresas de Eike no escritório. Uma delas era uma auditoria jurídicas em ativos da REX, empresa de desenvolvimento imobiliário do grupo de Eike. A outra era referente a uma disputa entre o empresário e um ex-executivo do seu grupo, Rodolfo Landim. Uma terceira seria relacionada à Techint Engenharia. "Não atuei em momento algum em nenhuma dessas demandas", declarou.
Bretas questionou se ela não tinha sido informada pelo contrato com Eike. "Tínhamos autonomia, o escritório era grande. Sobre a REX, sabia que estava ocorrendo a auditoria jurídica. Mas sobre Landim e Techint não tive conhecimento sobre o desenrolar disso", disse. Adriana também disse que Cabral "jamais" pediu a empresas para fazer contratos com seu escritório.
Já Eike Batista, não quis responder ao juiz Bretas se pagou propina a Sérgio Cabral. O empresário também negou que tivesse relação próxima com o ex-governador, mas voltou a admitir que emprestou ao peemedebista um dos aviões que tem. Durante o interrogatório, ele exaltou alguns dos próprios empreendimentos no estado, como o Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense.
"Quero colaborar 100% com a Justiça. É o meu dever. Sobre essa questão [suposto pagamento de propina a Cabral], a recomendação dos meus advogados neste instante é ficar em silêncio", disse, num testemunho que durou 13 minutos.
Eike Batista está em processo de elaboração dos anexos do acordo de delação premiada, de acordo com o que a reportagem do Estadão/Broadcast noticiou em julho. Sobre o acordo de delação, a defesa do empresário não quis fazer comentários à época da publicação.
Eike Batista é acusado de ter pagado US$ 16,5 milhões em propinas a Cabral para obter vantagens nos negócios. "Empreendi alguns grandes projetos, como o Superporto do Açu e o Porto Sudeste [em Itaguaí], onde foram investidos, em cada um deles, mais ou menos R$ 10 bilhões. Hoje, graças a Deus, ajudam a gerar divisas para o Brasil", disse a Bretas. O empresário também afirmou ter feito diversas doações a instituições do Rio, como o Hospital da Criança, em Botafogo, Zona Sul.
A respeito do empréstimo do avião, disse ter ocorrido, apesar de não haver relação próxima com o ex-governador. "Eu tinha três aviões e as pessoas sabiam que eles, muitas vezes, estavam parados. As pessoas tinham liberdade de pedir e é difícil dizer não ao governador de usar o seu maquinário", afirmou. Eike Batista disse que, após um acidente com um dos aparelhos, declarou que não emprestaria mais aviões a políticos. "Assim foi feito", garantiu. O empresário foi indiciado por corrupção ativa e lavagem de dinheiro e está, atualmente, em prisão domiciliar.
O ex-vice-presidente do Flamengo e ex-executivo do Grupo EBX, Flávio Godinho, também foi interrogado, mas preferiu se manter em silêncio. "Quero ratificar que tenho total interesse em colaborar, mas vou atender a orientação dos meus advogados e vou ficar calado", explicou.
Com informações do Estadão Conteúdo