Por caio.belandi

Rio - Pais de alunos e até mesmo ex-alunos do Colégio Pedro II se reuniram, na manhã desta quinta-feira, na Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) para comunicar sobre uma exposição realizada por estudantes, na última terça-feira, que retratou uma banca de tráfico, com réplicas de drogas, armas de brinquedo e caracterizados com vestimentas estereotípicas de "traficantes" e "favelados". A atividade foi promovida por alunos com idades entre 16 e 17 anos, mas durante o horário de recreio em um pátio compartilhados por alunos de diversas idades.

Na exposição%2C alunos usaram réplicas de armas para encenar tráfico de drogas nas favelasReprodução/Internet

Pais contaram que crianças bem menores também tiveram contato com a exposição. "Minha filha de 11 anos chegou em casa e disse que ouviu frases como 'esfrega a b* na AK (-47, modelo de fuzil)'. Que estavam brincando de vender drogas, como crack. O que tem de educativo nisso? Sabemos que a realidade do tráfico existe, mas a atividade não tinha um fundo pedagógico, nem comunicação aos pais. Perguntei a ela se havia supervisores responsáveis e ela disse que sim, mas que não impediram", relatou Nathalia Monteiro, mãe de uma aluna do Pedro II, que já havia ido à delegacia denunciar o caso. A ocorrência foi registrada como "fato atípico", ou seja, o possível crime ainda não foi definido.

Para o advogado que representa o grupo de pais, Sergio Ricardo Oliveira, é preciso que a polícia apure a responsabilidade e uma possível omissão do colégio. "Temos gravações do evento, a responsabilidade precisa ser apurada. No momento, cada unidade do Pedro II joga a responsabilidade para a outra, mas a atividade aconteceu em um espaço compartilhado por todos, não houve comunicação para os pais", disse ele.

O assunto chegou inclusive a outras unidades do Pedro II. Meriane Rodrigues, mãe de um aluno de 7 anos do campus Humaitá, disse que o filho soube do que houve pelos colegas: "Ainda era muito cedo para ele saber sobre esse tipo de assunto. Tive que explicar aqueles palavrões, aquelas vestimentas, falar pra ele sobre armas e drogas. Estamos estarrecidos, muito chateados", lamentou.

Até mesmo um ex-aluno da instituição compareceu à delegacia para apoiar o movimento dos pais. Alzir Rabelo, 69, foi aluno do Pedro II entre 1961 e 1967 e também se indignou com o ocorrido: "Ainda me preocupo com o assunto porque o Pedro II forma uma comunidade, a gente diz que a gente sai do Pedro II mas o Pedro II não sai da gente. Uma vizinha, mãe de um aluno, disse que ofereceram, de brincadeira, drogas para o filho pequeno dela. E não é uma questão de fundamentalismo religioso, todos ficaram indignados", contou.

Pais de alunos do Colégio Pedro II foram à delegacia prestar queixa contra a exposiçãoSandro Vox/Agência O Dia

Pedro II diz que apura a realização do evento 

A diretoria do Colégio Pedro II, afirmou em nota, que "assumiu a apuração dos fatos junto à Comissão de Formatura, Grêmio Estudantil e Comissão de Pais para verificarem o ocorrido e em breve divulgará o apurado".

De acordo com o comunicado, o evento chama-se "Dia Temático" cuja realização é rotineira. O tema foi "O Carioca", e os alunos "deveriam protagonizar no horário do recreio, estereótipos de vendedores de mate, camelos de ônibus, sambistas e etc". Entretanto, a direção do colégio alega que "não constava do evento proposto a encenação de traficantes de drogas e alguns estudantes, à revelia do que foi proposto, fizeram uma encenação inadequada".

Na nota, assinada pelo reitor Oscar Halac, o colégio diz que o cidadão carioca "todos os dias, se depara com foto de jornais, telenovelas e filmes que mostram massivamente a ação de traficantes com armas e drogas". Já a Polícia Civil não comentou o ocorrido até o fechamento da matéria.

Reportagem da estagiária Nadedja Calado, sob supervisão de Wilson Aquino.

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