Rio - Unidades de saúde fechadas, metrô com um dos acessos interditado nas imediações e até policiais militares da UPP encurralados. Com efetivo reduzido, aqueles que deveriam garantir a segurança aos moradores se esconderam em meio a uma disputa interna da facção Amigos dos Amigos pelo controle do tráfico em uma das maiores favelas do país. Traficantes armados com fuzis chegaram a roubar carros e a passar em frente a duas viaturas da PM vazias em plena luz do dia, conforme mostra vídeo gravado ontem por uma moradora da Rocinha. As vítimas reconheceram os automóveis na delegacia.
Thiago Fernandes da Silva, 25, morreu vítima de bala perdida, segundo familiares. Outras três pessoas ficaram baleadas. Moradores fotografaram o rastro de destruição deixado pelos becos. Carros fuzilados, amassados, caixas d'água perfuradas, geradores de luz danificados. De acordo com a PM, a troca de tiros começou na madrugada e uma guarnição da UPP foi atacada na Via Ápia, um dos principais acessos. Alunos de um curso pré-vestibular comunitário perderam a prova e a Prefeitura pediu aos motoristas que evitassem a região.
"Hoje foi o dia em que o bem perdeu para o mal, e foi de lavada! Uma mistura de tristeza e raiva define o sentimento que tive quando acordei e vi as mensagens dos alunos", escreveu Mariana Alves, uma das diretoras do curso pré-vestibular Projeto de Ensino Cultural e Educação Popular, em seu Facebook. Ela contabilizou que 80% dos alunos não conseguiram sair de suas casas.
Vídeos de traficantes circulando pela Rocinha e trocando tiros foram postados nas redes sociais. Em um deles, um policial filma de dentro de uma base da UPP, enquanto outro pede reforço. "Uns 20 gansos(traficantes) de fuzil aqui", diz um agente pelo rádio. É possível escutar outro falando: "Se esconde, se esconde". Viaturas da PM foram vistas abandonadas pelas vielas.
"É uma disputa pela venda de drogas na Rocinha, já que era do Antonio Bonfim e agora está sob a liderança do Rogério Avelino", disse o delegado Antônio Ricardo, da 11ªDP (Rocinha). "Todos que forem identificados vão responder por tentativa de homicídio, resistência qualificada, disparo de arma de fogo, associação ao tráfico e porte ilegal de arma", afirmou o investigador.
Avelino é conhecido como Rogério 157. Antonio Francisco é identificado no mundo do tráfico como Nem ou Mestre. Ele está na cadeia desde 2011 e estaria descontente com a administração de Rogério, que cobra taxas do comércio, da mesma forma que atuam milicianos. Rogério teria matado traficantes leais a Nem, que organizou a retomada dos pontos de venda de drogas com ajuda de traficantes do São Carlos, no Estácio, e da Vila Vintém, na Zona Oeste.