Rio - A Polícia Militar faz operação novamente na Rocinha e em outras três favelas, nesta quarta-feira, por causa da invasão de traficantes na comunidade da Zona Sul. O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) está no local desde o início desta manhã, mas ainda não há o balanço da ação. Pelo menos três suspeitos foram presos na Vila Vintém, na Zona Oeste.
Policiais estão revistando casas na parte baixa da favela e na Rua 1, no alto da comunidade. Segundo quem vive ou trabalha na Rocinha, o clima ainda é de apreensão, apesar da aparente tranquilidade.
"A Rua 1 é a mais afetada, novamente tivemos o toque de recolher ontem (terça-feira). Saí da escola meio-dia por causa disso. Esse aviso é mandado via WhatsApp que circula por todos", contou um funcionário de um colégio da região.
"Quem precisa sair e trabalha longe, faz como, volta como? Como fica a situação? Quem tem que trabalhar precisa pagar as contas. Com isso, a vida da pessoa fica prejudicada", reclamou.
Já os PMs do Comando de Polícia Pacificadora (CPP) atuam no Morro do São Carlos, no Estácio. Moradores relataram intenso tiroteio na comunidade nesta manhã. Segundo testemunhas, para se proteger dos tiros, pedestres e passageiros de ônibus precisaram se abaixar no chão.
"O Rio está demais, não temos sossego", lamentou um dos moradores. "Ouvindo tiros desde cedo", contou mais um internauta. "Até quando vamos sobreviver a essa violência?", lamentou outro.
Enquanto isso, o Batalhão de Ações com Cães (BAC) faz uma operação na favela Chácara do Céu, no Leblon, e policiais do 14º BPM (Bangu) atuam na Vila Vintém. Na ação da Vintém três suspeitos foram presos e já foram apreendidas três pistolas, drogas ainda não contabilizadas e dois rádios transmissores.
Policiais do 41º BPM (Irajá) também realizaram uma operação no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho. A PM não informou se a ação tem relação com a invasão na Rocinha. A operação foi encerrada ainda pela manhã, sem prisões ou apreensões, de acordo com a corporação. A comunidade também tem sido palco de recentes confrontos entre facções.
Escolas fechadas
Devido as operações policiais desta quarta-feira, 3.844 alunos da rede municipal de ensino estão sem aulas. Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), cinco escolas, sete creches e dois Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs) localizados no Juramento e Juramentinho (Vicente de Carvalho), Faz Quem Quer (Rocha Miranda) e São Carlos (Estácio) não abriram hoje.
Ainda de acordo com a pasta, unidades educacionais da Rocinha, Vidigal, Macacos, Chácara do Céu e Chapéu Mangueira encontram-se abertas, mas com baixa frequência de alunos. Escolas da rede estadual estão funcionando, de acordo com a Secretaria Estadual de Educação.
Advogado de bandido propõe acordo para cessar confrontos na Rocinha
?O advogado Jaime Fusco que defende o traficante Antonio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, quer negociar com a Secretaria de Segurança propostas para a redução da criminalidade, mesmo que isso acarrete em negociar com os chefes do tráfico.
Em entrevista à rádio BandNews, Fusco disse que "a ideia é estabelecer uma trégua. Mas não uma trégua de corredor. É um acordo institucionalizado. E aquelas pessoas que estão em presídios federais estão à disposição disso". O advogado é presidente da Comissão de Segurança Pública da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas, grupo que irá se reunir na sexta-feira para debater as medidas que serão propostas aos governos estadual e federal.
"Sou um representante do Nem na Justiça, não no mundo do crime. Como representante na Justiça, ele por diversas vezes, no presídio de segurança, em conversas gravadas, já falou 'esses roubos de carga, esse aumento dos índices de criminalidade, isso é um absurdo. Doutor, a gente está aqui há muito tempo. Se a gente voltasse para o Rio esse problema acabava", relatou. Fusco foi procurado pelo DIA mas não retornou as ligações.
A Secretaria de Segurança Pública afirmou que não vai se pronunciar a respeito, enquando o Governo do Estado disse, em nota, que não negocia com traficantes. Por nota, o procurador-geral da Justiça no Rio, Eduardo Gussem, falou que "a referida proposta é inconcebível". "O Ministério Público não reconhece a legalidade da mesma e esclarece que o cumprimento da pena por parte dos presos condenados deve obedecer os princípios constitucionais e as normas previstas na Lei de Execução Penal", acrescentou.
Colaboraram Adriano Araujo e Gabriela Mattos