Ryan tirava boas notas - Reprodução Facebook
Ryan tirava boas notasReprodução Facebook
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Um policial militar foi preso em flagrante, na madrugada desta quarta-feira, por assassinar um adolescente, de 16 anos, em Magalhães Bastos, na Zona Oeste do Rio. De acordo com a Polícia Civil, o cabo Pedro Henrique Machado de Sá, 35 anos, que estava de folga, atirou contra Ryan Teixeira Nascimento e outros dois jovens, que brincavam no telhado de uma clínica em frente a casa do cabo. Ryan foi atingido por um disparo nas costas, não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Segundo agentes da Delegacia de Homicídios (DH), que investiga o crime, Pedro Henrique tem passagem na polícia por ameaça, em 2009, e teria dito informalmente aos policiais que 'atirou para acabar com a algazarra'. A arma do militar foi apreendida.

De acordo com a DH, cinco testemunhas foram ouvidas e todas apontaram Pedro Henrique, que é lotado em uma UPP do Complexo do Alemão, como autor dos disparos. Na especializada, o cabo PM se limitou a ficar em silêncio durante o depoimento formal e não confessou o homicídio do jovem de 16 anos.

PM suspeito de matar adolescente tinha passagem por crime de ameaça - Reprodução

O pai de Ryan, Alberto Nascimento, de 38 anos, conta era comum os meninos jogarem bola no campo e entrar no posto para beber água. "A mãe dele me ligou perguntando se ele tinha chegado do treino, depois me ligou contando que tinha ouvido disparos e na terceira me contou que meu filho foi baleado. Quando cheguei lá, um menino estava tentando tirá-lo do telhado", diz o técnico de rede de telefonia.

"Eu não tive forças para vê-lo dentro de um saco preto e nem saindo do rabecão", desabafou Alberto, que não ainda não reconheceu o filho no Instituto Médico Legal (IML). "Eu não tenho coragem, ele era melhor coisa que eu tinha", lamenta o pai.

Alberto da Silva Nascimento, pai do adolescente Ryan Teixeira Nascimento, morto por um PM em Magalhães Bastos - Armando Paiva / Agência O Dia

De acordo com Alberto, o filho sonhava em ser jogador de futebol, era atacante, tinha treinado na noite de ontem e morreu vestindo o uniforme do time do bairro. "Ele atirou porque os meninos estavam brincando. Ele não falou nada, não repreendeu, só atirou". "Eu quero Justiça, se ele se arrepender é com Deus. Não vou guardar mágoas, pois meu filho não vai voltar", afirma. "Eu não tive contato com ele. Meu contato agora com ele é através da Justiça. Vou falar o quê com ele?", indaga.

Segundo o pai, moradores da região relataram que o militar costumava atirar a esmo na região. "O pessoal disse que ele gostava de fazer esse tipo de graça. Inclusive ele deu um tiro que deixou um garoto deficiente e ele já deu um tapa na cara de um cadeirante", conta o técnico. "Ele tomou essa atitude e matou meu filho. Por pouco ele não mataria outras duas pessoas", completa Alberto, que esteve no Instituto Médico Legal para realizar a liberação do corpo do filho.

Sentado, cabisbaixo e sem acreditar na tragédia que aconteceu, o pai relembra os últimos momentos que falou com o filho. "A última vez que vi meu filho foi na quinta-feira passada. Tínhamos costumes de nos falar todos os dias por telefone. No dia anterior (na quarta-feira) ele ainda pediu a camisa dele (eles costumavam usar as mesmas roupas, já que tinham a mesma altura) que estava lá em casa. Falei pra ele ir lá e buscar”, conta, bastante emocionado. Segundo o homem, essa foi a última vez que falou com o filho primogênito.

Ryan será enterrado às 16h desta quinta-feira, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, no mesmo bairro.

 

Ryan Nascimento - Reprodução Facebook

De acordo com a Polícia Militar, militares do 14º BPM (Bangu) foram acionados para denúncia de um jovem que teria sido baleado e o corpo estaria no teto de um posto de saúde na Rua Laranjeira do Sul. No local, a equipe constatou o fato e acionou a DH e durante a ocorrência, testemunhas informaram que os tiros partiram de uma residência em frente ao posto de saúde.

Ainda segundo a PM, a equipe da DH foi ao local e constatou que se tratava da residência de um policial militar, que segundo a especializada, confirmou que atirou para assustar os jovens que faziam algazarra no local.

'Os meninos correram e ele ficou', diz testemunha

Um adolescente de 14 anos conta que estava com Ryan e após o treino de futebol, eles decidiram continuar brincando. "Chutaram a bola, que caiu no telhado. Ele e os dois meninos foram pegar. Quando começaram os tiros, os meninos correram e ele ficou", relata a testemunha ao DIA

"A gente achou estranho porque passou um tempo e ele não tinha aparecido. Voltamos para ver o que tinha acontecido", comenta. "Tentamos chamar nosso professor, mas ele já estava baleado", lamenta o adolescente, que treinava com Ryan. 

A manicure Yasmin Silva, de 25 anos, diz que o garoto era querido na vizinhança. "Meu irmão ainda brincou com ele ontem na Rua Nordestina. Eles brincavam todo dia", afirma. "Ele está arrasado", completa a jovem.

Defesa orienta PM a não prestar depoimento

Ao DIA, Renato Martins, advogado de defesa de Pedro Henrique, disse que por hora, o militar não vai prestar depoimento na DH. Segundo a defesa, a princípio o PM quis da sua versão do fato. No entanto, foi orientado a não dizer o que teria acontecido.

"Queremos esperar os laudos (de necropsia e de local) ficarem prontos e só depois ele vai explicar sua versão", afirma o defensor. Segundo Martins, apenas uma cápsula deflagrada foi encontrada no local, mas testemunhas disseram ter ouvido mais de quatro disparos. "De fato houve disparo, mas ele não sabia que alguém foi baleado. Então, por essas dúvidas, ele vai ficar calado", concluiu.

O PM passou a noite inteira na DH e saiu no começou da tarde desta quarta-feira para fazer exame de corpo de delito no Hospital Central da Polícia Militar (HCPM) no Estácio e ainda hoje seguirá para o Batalhão Especial Prisional (BEP), em Niterói, onde passará a noite. Nesta quinta-feira haverá uma audiência de custódia e a defesa vai pedir o relaxamento da prisão do militar.

"Amanhã será a nossa oportunidade de pedir sua liberdade. Ele é pai de família, tem três filhos, desses, dois são especiais e estavam com ele no momento do ocorrido. Ele permaneceu durante todo o tempo em casa e isso mostra que ele não teve intensão de matar ninguém", completa.

Em nota, a Polícia Militar informou que o policial já está preso na unidade prisional da corporação e a Corregedoria também vai apurar o caso. O Inquérito Policial Militar vai definir se Pedro Henrique será expulso ou não da corporação.

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