Carlos Moraes (E) é encaminhado para avaliação e tratamento médico - Estefan Radovicz
Carlos Moraes (E) é encaminhado para avaliação e tratamento médicoEstefan Radovicz
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - As investigações da Operação Sênones — deflagrada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) para combater o crime organizado na Baixada Fluminense — apontam que o prefeito de Japeri, Carlos Moraes (PP), se aliou ao tráfico de drogas para formar curral eleitoral. Ele e o vereador Claudio José da Silva, o Cacau, foram presos na manhã desta sexta-feira.

“Carlos Moraes se valia do aparato bélico do tráfico em um curral eleitoral”, afirma o promotor Carlos Eugênio Laureano, do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça (Gaocrim) do MP-RJ. "Os áudios mostram diálogos explícitos que falam por si só. Era uma relação consolidada, cordial e de confiança. Em um dos trechos, podemos notar que ele pediu desculpa", completa.

Segundo o promotor, em um dos diálogos, o prefeito pediu desculpas ao traficante Breno do Guandu, por ter reinvidado mais segurança para o município. "Ele autorizou a criação de duas creches e quem indicaria os empreiteiros seria o Breno", conta Carlos Eugênio Laureano. Breno Silva de Souza era o homem mais procurado da Baixada, suspeito de chefiar o Complexo do Guandu, e foi preso no dia 20 deste mês. 

O promotor do Gaocrin diz que foram  nove meses de investigação para identificar as conversas do prefeito, de Breno e Cacau. "Era uma situação inusitada e para isso, para termos certeza que eram eles, algumas medidas foram tomadas. Após recebermos os áudios, mandamos para uma perícia do MPRJ e ouve um confronto de voz. Somente após confrontarmos as vozes, criamos um núcleo específico para investigar o grupo."

No entanto, Fábio Cardoso, diretor da Delegacia de Homicídios (DH), lembrou que em 2014 a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) iniciou uma investigação após os policiais notarem o  crescimento de homicídios, latrocínios e roubos de cargas em Queimados, em específico no Arco Metropolitano. "Tudo começou quando três seguranças de cargas de cigarro foram mortos. Os criminosos usavam essas cargas de cigarro para alimentar o tráfico de drogas. No decorrer das investigações, notamos um braço político em Japeri, que fomentava o latrocínio e homicídio nos Arcos", relata o delegado. "Foi uma operação hesitosa", acrescentou. 

Vereador está foragido 

A operação também tinha um mandado de prisão contra o presidente da Câmara de Japeri, Wesley George de Oliveira (PP), o Miga, que não foi encontrado e é considerado foragido da Justiça. Por volta das 7h, o carro do parlamentar passou no pedágio de Seropédica, sentido São Paulo, segundo informações obtidas pelos investigadoras. 

Na ação, foram apreendidos R$ 50 mil. De acordo com os agentes, R$ 35 mil na casa de Carlos Moraes, outros valores no Gabinete do Prefeito, em bolsas com a logo da prefeitura; R$ 8 mil na casa do Cacau e outros R$ 8 mil na residência do Miga. A operação prendeu sete pessoas e apreendeu armas, munições e dólares. Há 57 mandados de busca e apreensão, e outros 38 de prisão. O elo entre a Prefeitura de Japeri, a Câmara Municipal e os traficantes era Jenifer Aparecida Kaiser de Matos, que também foi presa.

Policiais do 24º BPM (Queimados) são investigados

De acordo com o promotor de Justiça do Gaeco Fábio Corrêa, policiais do 24º BPM (Queimados) são investigados por participação no crime. "Nós interceptamos uma conversa do Miga com o Breno. O traficante diz que está sendo difícil, e pede para que o presidente da Câmara fale com irmão, que é policial do batalhão, senão o oxigênio (propina) vai acabar", afirmou. "Além do tráfico de drogas, o grupo tem ainda um areal como fonte de renda." 

"É uma escalada de violência na região do Guandu com latrocínios e homicídios", completou o promotor, que diz as investigações interceptaram ligações de dentro do presídio do Japeri. 

Deputado estadual teria pedido apoio ao grupo

Ginilton Lages, da DH, revela que um deputado estadual pediu apoio ao grupo da Baixada Fluminense. "Nesse primeiro momento não há informação se ele está envolvido com o grupo, mas o parlamentar será investigado", revelou o delegado, que comenta estar indignado com a relação de proximidade do Prefeito de Japeri com Breno do Guandu. 

"Você tem um assassino conversando com o chefe do legislativo para reclamar de operações policiais. O prefeito fala normalmente. Tentamos interceptar o encontro dos dois no Guandu. Pelo menos cinco vezes tentamos prendê-lo", disse. 

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