Carlos Moraes (E) é encaminhado para avaliação e tratamento médico - Estefan Radovicz
Carlos Moraes (E) é encaminhado para avaliação e tratamento médicoEstefan Radovicz
Por GUSTAVO RIBEIRO E RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Um curral eleitoral envolvendo o prefeito e dois vereadores de Japeri, que tinham como aliado o braço armado de bandidos perigosos, está no centro das investigações de associação ao tráfico contra o grupo. O prefeito Carlos Moraes Costa e o vereador Claudio José da Silva, presos nesta sexta-feira, e o presidente da Câmara Municipal, Wesley George de Oliveira, que está foragido (todos do PP), são acusados de facilitarem a atuação de facção criminosa no município até com a liberação de bailes funk promovidos por traficantes.

A Justiça decretou a suspensão dos direitos políticos do trio. Na denúncia do Ministério Público (MPRJ), constam escutas telefônicas do prefeito e do vereador Claudio, o Cacau, com Breno da Silva de Souza, o BR, líder da facção Amigos dos Amigos (ADA) em Japeri, preso semana passada. Jenifer Aparecida Kaizer de Matos, que não tinha cargo público e seria um elo entre os políticos e o traficante, também teve contatos gravados com o traficante e foi presa ontem. A associação existiria pelo menos desde janeiro de 2017.

Em 7 de outubro de 2017, Breno ligou para o prefeito e pediu ajuda para suspender uma ação do 24º BPM que interromperia um baile do tráfico no Complexo do Guandu, chefiado por BR. O prefeito ainda ligou várias vezes para Breno, pediu desculpas por não ter conseguido e deu informações sobre a operação. No dia seguinte, Carlos Moraes disse a Breno que iria procurar o comandante do 24º BPM, acompanhado de Wesley, o Miga, para "alinhar" com ele, e o traficante recebeu ligação do vereador Cláudio se comprometendo em avisar a Miga sobre a insatisfação do bando com Neném, policial militar do batalhão que é irmão do presidente da Câmara Municipal de Japeri. Os policiais serão investigados pelo MPRJ. A PM não quis se pronunciar.

"Se de um lado os ora denunciados usam seus cargos públicos para atender aos interesses da organização criminosa, de outra banda, se beneficiam na medida em que constroem um verdadeiro 'curral eleitoral', imune à ação de adversários políticos, eis que ninguém ousa desafiar o poderio bélico do tráfico", afirmou o MPRJ, que também destacou o poder dos bandidos com ameaça e violência para impor suas regras aos moradores do Guandu.

Em conversa interceptada pelo MPRJ, Cacau e Jenifer planejaram fraudar licitação de duas creches no Guandu. O dinheiro, destinado à construção, seria desviado para o tráfico. Segundo a promotoria, BR indicaria a construtora. As creches, que não foram construídas, poderiam gerar votos. O material apreendido nas casas dos presos será periciado para apurar licitação benéfica ao tráfico.

Prefeito ameaçou jornalistas

Questionado sobre o associação com tráfico, o prefeito de Japeri respondeu a jornalistas, na Cidade da Polícia, em tom de ameça: "Tenho sim. Vai pra p* que p*". E engrossou: "A gente se acerta lá na Baixada", dizendo, em seguida, que estava ameaçando sim um repórter. O filho de Carlos Moraes chutou o rosto de um cinegrafista após derrubá-lo.

Na Operação Sênones (alusão a tribo celta que invadiu Roma), com a Polícia Civil, 41 mandados de prisão foram expedidos, mas sete cumpridos. A denúncia surgiu durante investigação sobre homicídios de dois traficantes em 2016. Na casa do prefeito, em Nova Iguaçu, foram apreendidas pistola e munição, além de R$ 34 mil e 850 dólares em bolsas com brasão da prefeitura. Um revólver foi achado no gabinete dele.

A defesa do prefeito disse que ele é inocente e que a desembargadora Márcia Perrine, da 7ª Câmara Criminal, não tem atribuição para suspender o mandato. A prefeitura, Câmara e o Partido Progressista não se pronunciaram. As demais defesas não foram localizadas.

Cidade é a sexta mais perigosa

Com cerca de 101 mil habitantes, Japeri é a terceira menor cidade da Baixada Fluminense. Apesar de ser um dos menores municípios, está entre as cidades mais violentas do Brasil. Ela aparece como a sexta mais perigosa, de acordo com o 'Atlas da Violência 2018: políticas públicas e retratos dos municípios'.

A pesquisa mostrou que a cada 100 mil habitantes são registrados 95,5 casos de homicídios e mortes violentas com causa indeterminada.

Além de figurar entre as maiores taxas de mortes violentas no Brasil, o município também está entre os mais pobres do estado. Em alguns bairros e localidades, a população vive abaixo da linha da pobreza com falta de saneamento básico e água encanada. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que leva em consideração expectativa de vida, educação e PIB (Produto Interno Bruto), é de 0.659, o pior do Rio de Janeiro.

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