Motociclista Geiza Martins, mão com luva impediu que estrago fosse maior no pescoço - REPRODUÇÃO DE FACEBOOK
Motociclista Geiza Martins, mão com luva impediu que estrago fosse maior no pescoçoREPRODUÇÃO DE FACEBOOK
Por MARTHA IMENES

Rio - Pessoas soltando pipas nas ruas representa desespero e apreensão para motociclistas. De uso proibido, a linha cortante e a chilena muito usadas por quem solta pipa, que utlizam o cerol, têm provocado mutilações, ferimentos e, em alguns casos, até a morte de motociclistas. O alerta é da Federação de Motoclubes do Estado do Rio de Janeiro. "O que para muitos é diversão, para outros representa perigo e morte", advertiu José Paiva, diretor da instituição.

Ele acrescenta: "Não somos contra a pipa, toda criança tem direito à diversão. O que combatemos é o perigo que as linhas cortantes representam não só para quem anda de moto, mas também para quem usa skate, bicicleta e até mesmo os 'pipeiros' que têm as mãos cortadas com o cerol", disse Paiva. "Sem contar os policiais que andam em viaturas abertas, que são vitimados também", completou.

O cerol a que Paiva se refere é uma mistura de cola, vidro moído ou limalha de ferro, aplicado nas linhas antes de erguer as pipas. E na linha chilena que corta quatro vezes mais que a normal ainda é utilizado o quartzo moído e óxido de alumínio. O que provoca, inclusive, cortes em metal. "Criaram uma linha chamada 'laser' que corta até dez vezes mais que a linha chilena", destacou José.

O número de motociclistas feridos por linhas cortantes tem aumentado, de acordo com Paiva, mas mesmo assim não faz parte de estatísticas oficiais. Para conscientizar a população, a federação faz uma campanha contra o uso do cerol desde 2005 e tem tentado, por meio de projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados, criminalizar a fabricação, comercialização, distribuição e o uso de linhas cortantes.

A linha cortante, tão comum nas ruas, e comercializada livremente na internet, fez duas vítimas no Rio de Janeiro. No dia 22 de julho, o locutor Arnaldo da Silva Melo, de 37 anos, morador de Vila Rosali, em São João de Meriti, passava de motocicleta na Linha Vermelha quando foi atingido no olho por uma linha de cerol, que cortou o globo ocular.

Arnaldo, também conhecido por Rock, foi socorrido e levado ao PAM de Vilar dos Teles, onde foi constatado o grave ferimento, mas como não tinha médico para atender, foi para um hospital particular. "A pipa foi cortada e a ponta da linha entrou pela viseira do capacete e cortou meu olho", lamenta Arnaldo, que informou ao DIA que na hora do acidente, crianças brincavam às margens da rodovia.

Outro caso ocorreu com a projetista Geiza Martins, 38 anos, de Belford Roxo. Quando pilotava sua motocicleta pela Linha Vermelha, Geiza quase vira mais uma vítima da linha cortante. No dia 29 de julho, ela conta que viu crianças soltando pipa no acostamento e ficou apreensiva. Foi quando uma linha atravessou a frente da moto. Geiza, que estava de luvas, conseguiu 'segurar' um pouco o estrago da linha, que feriu seu pescoço.

O uso de cerol é proibido por lei, uma delas a lei estadual 2.111/1993, mas a fiscalização, segundo os motociclistas feridos, praticamente não existe. Por conta disso Geiza apela: "Peço as autoridades que fiscalizem as vias públicas para proibir o uso da linha, até porque a via não é local para diversão de crianças".

E mesmo com o uso de antena no veículo, que é obrigatório no Rio, motociclistas têm sido feridos constantemente, segundo a federação. A constitucionalidade dessa lei, inclusive, é contestada pelos motociclistas e pela instituição, por não ter a garantia de que o equipamento resista às linhas cortantes. "Os equipamentos de proteção que utilizamos não são suficientes para proteção das nossas vidas", lamentou Geiza.

Vítima fatal

Em 2015 um caso chocou quem passava pela Linha Vermelha. A motociclista Lourdes Lopes da Costa, de 36 anos, foi decapitada quando trafegava pela via. Na época, a perícia do IML apontou que a causa da morte foi objeto cortante compatível com linha de pipa.

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