Policiais civis realizam seguidas operações para tentar prender suspeitos de Narcomilícia em São Gonçalo. Na foto, operação no Complexo do Anaia
Policiais civis realizam seguidas operações para tentar prender suspeitos de Narcomilícia em São Gonçalo. Na foto, operação no Complexo do AnaiaDivulgação / Polícia Civil
Por Thuany Dossares
Rio - "Já tive um carro da empresa incendiado. Também já aconteceu de amarrarem um funcionário no poste, no Jardim Miriambi e no Anaia. Então, não tenho outra opção, a não ser pagar". Esse é o relato de um empresário, dono de uma provedora de internet para diversos bairros de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, que teve funcionários seus agredidos por traficantes ligados à facção Comando Vermelho (CV), que obrigam o pagamento de taxas de segurança para permitir que o serviço seja instalado nas comunidades. Os pagamentos chegam a R$ 3 mil por mês.
Essa prática de extorsão, que era originalmente usada por organizações de milícia é o tema do segundo capítulo da série do O DIA sobre Narcomilícia.
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De acordo com a Polícia Civil, comerciantes e empresários de vários bairros têm sido obrigados a pagar taxas aos traficantes para poderem trabalhar. Quando o pagamento não é feito, os criminosos aterrorizam a população com ameaças de represálias.
"Todas as localidades onde tem o tráfico eles não permitem que a gente trabalhe sem pagar uma taxa. E se a gente não paga, eles são violentos, bastante agressivos mesmo", contou o dona da provedora de internet, que prefere não se identificar. Além do Jardim Miriambi e Anaia, ele também tem pontos de internet no Jardim Catarina.
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Com medo desta situação, o empresário afirma que pensa em parar de trabalhar no ramo por causa dos criminosos. "O que vai acontecer, em breve, é deixar de atuar no ramo aqui no município e, possivelmente, no estado. Viramos escravos do tráfico. É triste pensar em abandonar algo por conta da violência", desabafou.
Milícia como modelo, diz especialista
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Atividades criminosas originalmente de milícia vem sendo adotadas por traficantes de drogas há, pelo menos, quatro anos, de acordo com especialistas em segurança pública. De acordo com Paulo Storani, a adoção de táticas era previsível.
"O narcotráfico não está ali para atender só uma demanda, dos usuários de drogas, eles estão ali para atender um negócio. É óbvio que havendo outras oportunidades de lucros eles vão aderir, principalmente, com a observância da ação das milícias. Estão adotando estratégias de domínio territorial com exploração das pessoas deste território, que não é mais só dentro da comunidade, mas também o bairro onde essa comunidade está instalada. Sem dúvidas a milícia foi uma inspiração para o tráfico", afirmou Paulo Storani, especialista em segurança pública.
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Para Storani, a prática de extorsão, muito explorada pelas milícias, tornou-se vantajosa após a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que, apesar de terem entrado em declínio, conseguiram sufocar o tráfico em algumas comunidades.
Investigação

Policiais da 74ª DP (Alcântara) instauraram inquérito para investigar essas ações criminosas e têm ouvido testemunhas, além de realizar seguidas operações. Além disso, os criminosos das regiões do Jardim Catarina, Vista Alegre e Laranjal também estariam extorquindo pontos de mototáxi e depósitos de vendas de botijões de gás, segundo a polícia.
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A distrital ainda apura a cobrança de traficantes do Jardim Miriambi e do Vila Três à motoristas de vans, para permitir que eles passem por uma rua que dá acesso à comunidade, apenas para fazer um retorno. Essa prática criminosa acontece naquela localidade há, pelo menos, dois anos. Para denunciar e ajudar a polícia, basta ligar para o Disque Denúncia no telefone 2253-1717.