Mãe da menina Lauane desmaia na porta do Hospital Getúlio Vargas, para onde a criança foi levada - Reprodução de TV
Mãe da menina Lauane desmaia na porta do Hospital Getúlio Vargas, para onde a criança foi levadaReprodução de TV
Por Bruna Fantti
‘Quando olhei para o chinelinho dela, eu vi sangue. Perguntei: ‘Lauane, você tá sentindo alguma coisa?’. Quando levantei a saia dela, vi um buraco na perna esquerda. Um tiro”. O relato de Eduane Machado foi feito ao jornal ‘Voz das Comunidades’, logo após sua filha, Lauane, de 7 anos, ter sido baleada na Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio, na manhã de ontem. Segundo o aplicativo ‘Fogo Cruzado’, Lauane é a 14ª criança baleada em 2019 no Grande Rio, quatro delas morreram.
Moradores contaram que a menina foi socorrida por um motorista em um caminhão de gás e levada para o Hospital Estadual Getúlio Vargas. “Minha mãe estava saindo do bondinho da Igreja da Penha quando viu o caminhão de gás descendo a ladeira, e a mãe da criança aos gritos”, relatou uma testemunha. De acordo com a Secretaria de Saúde, a menina não teve fratura e não precisou passar por cirurgia. A criança está acompanhada da mãe e se alimenta normalmente, seu quadro de saúde é estável, mas ainda não tem previsão de alta. O caso foi registrado na 22ªDP (Penha).
Na linha de tiro
Segundo a PM, agentes da Unidade de Polícia Pacificadora da Vila Cruzeiro (UPP) passavam pelas regiões conhecidas como Merendiba e Raia quando criminosos atiraram contra a equipe. Os policiais se abrigaram e afirmam que não revidaram os tiros. Em um relatório da ação, os agentes afirmaram que “uma criança, que estava atrás dos policiais militares, foi atingida na perna”.
O perfil do Facebook ‘Vila Cruzeiro - RJ’ postou uma mensagem repudiando a ação policial: “O Resultado de mais um ‘Patrulhamento de Rotina’ que está sendo realizado nesse exato momento entre Merendiba e 4 Bicas, é de uma criança de apenas 7 anos de idade baleada. Segundo informações, a menina foi baleada na perna e está sendo atendida nesse exato momento no hospital Getúlio Vargas. A menina foi socorrida pela mãe e alguns vizinhos, e até o presente momento, nenhum policial envolvido no ‘Patrulhamento’ procurou saber o estado da menina, e sequer prestou socorro à criança. Uma Criança de 7 ANOS baleada. O resultado está positivo?”.
Confrontos
A Vila Cruzeiro é palco constante de troca de tiros, seja entre policiais e traficantes ou entre quadrilhas rivais. No dia 14 de agosto, um tiroteio entre criminosos deixou cinco pessoas baleadas na favela que faz parte do Complexo da Penha. De acordo com relatos nas redes sociais, bandidos do Terceiro Comando Puro (TCP) tentaram entrar na comunidade, que é dominada pelo Comando Vermelho (CV).
Na ocasião, a Polícia Militar informou que “militares da Unidade de Polícia Pacificadora Vila Cruzeiro foram informados de que cinco pessoas feridas por disparo de arma de fogo deram entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas”. No entanto, a PM não informou as circunstâncias em que as vítimas foram baleadas, nem se entre eles havia criminosos.
Já na quarta-feira, dia 28, um homem de 60 anos foi baleado dentro de casa, no Complexo do Alemão, vizinho ao Complexo da Penha, por uma bala perdida. O tiro atingiu o peito de Antônio José Alves
Barbosa. Ele apresenta quadro de saúde estável.

Agosto foi marcado por mortes
O mês de agosto foi marcado pela morte de jovens assassinados a tiros, na Região Metropolitana do Rio. Em pelo menos duas ações, a Polícia Militar estava envolvida. Foram mortos a tiros Gabriel Pereira Alves, de 18 anos; Lucas Monteiro dos Santos Costa, de 21; Tiago Freitas, de 21; e Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, de 19 anos. Dyogo sonhava ser jogador de futebol, foi morto com um tiro nas costas durante operação policial na Favela da Grota, em Niterói. Parentes afirmam que não havia confronto no momento em que o rapaz foi atingido.
Gabriel, que também tinha o sonho de se tornar jogador de futebol, foi atingido por uma bala perdida, enquanto esperava por um ônibus para ir à escola, na Tijuca, Zona Norte. O disparo que o acertou no peito teria partido da arma de traficantes que atacaram a UPP Borel, em represália a ações da PM na comunidade. Já Henrico morreu vítima de uma bala perdida durante um tiroteio entre polícia e criminosos em Magé, na Baixada Fluminense.
Lucas e Tiago foram executados por um grupo que invadiu uma festa, em Água Santa. Segundo a Polícia Militar, os atiradores já haviam fugido quando equipes do 3º BPM (Méier) chegaram ao local, na Rua Paconé, no Encantado. De acordo com as investigações, o ataque teria ocorrido após um desentendimento na própria festa.
Os dados do Instituto de Segurança Pública de agosto ainda não foram divulgados. Em julho, o número de mortos em confrontos com a PM bateu recorde histórico com 194 mortes.