Corpo de Bombeiros tem maior déficit: 10 mil profissionais a menos - Gilvan de Souza
Corpo de Bombeiros tem maior déficit: 10 mil profissionais a menosGilvan de Souza
Por PALOMA SAVEDRA
O grave incêndio que atingiu o Hospital Badim, na Tijuca, na última quintafeira, culminando na morte
de 11 pessoas — todas idosas —, despertou a atenção da sociedade para cuidados de prevenção. E não é para menos: toda precaução é necessária, pois até mesmo um simples óleo de cozinha deixado na frigideira pode se tornar foco de chamas.

O DIA preparou um manual para orientar os leitores sobre os cuidados contra incêndios dentro de casa e também sobre como agir ao se deparar com o fogo. As dicas são do especialista em combate e prevenção a incêndios Wesley Pinheiro, que atuou, por 10 anos, como responsável pela Brigada de Incêndio da Coppe, da UFRJ, e do Corpo de Bombeiros do Rio.

Pinheiro diz ser preciso relembrar conceitos básicos, como manter atenção a eletrodomésticos, gás e evitar velas, além das famosas “gambiarras”. Entre os equipamentos em casa, o ferro elétrico é apontado pelo especialista como grande vilão. Ele recomenda a utilização longe de outros objetos. E, ao passar roupas, é preciso estar atento integralmente à atividade.

“O ferro tem resistência térmica, que chega a estalar (fazer barulho) quando está muito quente. Se essa resistência não funcionar, já começa um foco de incêndio. O aparelho não precisa estar em cima da roupa para que isso aconteça”, explica Pinheiro, complementando que, se isso ocorrer, já começa a pegar fogo na borracha do ferro.

“Se o disjuntor não desarmar, dará um problema na eletricidade de toda a casa, provocando incêndio na parte elétrica, inicialmente, porque depois pega fogo em outros lugares”, alerta. O óleo de frigideira também representa riscos. “Por ser um óleo não volátil, tem que ser aquecido para pegar fogo. E se esquecê-lo, incendeia. Esquenta a tal ponto que rompe o limite de segurança e pega fogo”, relata Pinheiro, acrescentando ser comum a chama alcançar pano de prato e o armário de cozinha, podendo se alastrar.

Neste e em outros casos de fogo dentro de casa, ele e os bombeiros dão sugestões sobre como proceder. Porém, sempre dentro de uma margem de segurança, pois, dependendo da situação, o ideal é deixar o local. “Cada item tem uma classe (de risco), e deve-se ter um extintor adequado. Indico o extintor à base de pó, do tipo A B e C, que atende a todas as classes de fogo. No caso da frigideira, a pessoa deve fechar o gás, que é o alimentador das chamas, e usar o extintor. Mas se fugir do controle, deve-se chamar o 193 e sair do imóvel”, orienta o especialista.

ORIENTAÇÕES VALIOSAS
Como evitar o fogo:
- Não esqueça panelas no fogo e óleo na frigideira acesa;
- O pano de prato deve ficar distante do fogão;
- Evite acender vela; se usar, coloque em uma superfície fria, como em uma pedra de mármore, um prato mais firme, longe de panos, papéis e madeira;
- Faça a revisão da rede elétrica de sua residência, pelo menos, a cada cinco anos. Para isso, lembre-se de contratar uma empresa ou profissional credenciado;
- Não faça as chamadas ‘gambiarras’, um recurso comumente utilizado pelas pessoas, sobrecarregando as tomadas;
- Ter cuidado com o gás. No caso de gás encanado, para evitar que escape, a orientação é de manutenção periódica, chamando o técnico da empresa especializada, e que se mantenha o registro fechado. Quando o gás é portátil, a sugestão é que se coloque em abrigo fora da residência.

Como agir em incêndio:
- Abandone imediatamente o local e acione o Corpo de Bombeiros (193). Não tente resgatar objetos nesse momento;
- Use as escadas. Jamais use o elevador para sair de um edifício onde há incêndio, a não ser que receba orientações específicas das equipes de socorro;
- Se ficar preso em meio à fumaça, respire pelo nariz, em rápidas inalações. Se possível, molhe um lenço e use-o como máscara improvisada. Procure rastejar para a saída, pois o ar é sempre melhor junto ao chão;
- Feche todas as portas que ficarem atrás de você — caso tenha certeza de que não há mais ninguém, assim retardará a propagação do fogo;
- Se ficar preso em uma sala cheia de fumaça, fique junto ao piso, onde o ar é sempre melhor;
- Toque a porta com a mão. Se estiver quente, não abra. Se estiver fria, faça um teste: abra devagar e fique atrás da porta. Se sentir calor vindo através da abertura, mantenha-a fechada;
- Se não puder sair, mantenhase atrás de uma porta fechada. Procure ficar perto de janelas e abra-as em cima e embaixo;
- Procure conhecer o equipamento de combate a incêndio para utilizá-lo com eficiência em caso de emergência;
- Conheça previamente as opções de salvamento de um prédio, e não salte do edifício;
- Em caso de pânico na saída principal, mantenha-se afastado da multidão e procure outra saída;
- Se conseguiu escapar do local do incêndio, não retorne por motivo algum.

Hospitais e clínicas sem certificado
A Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores vai pedir ao Ministério Público para entrar com ação contra a Prefeitura do Rio, após a tragédia no Hospital Badim. Em abril, a prefeitura divulgou que mais de 90% das unidades de saúde do município não possuíam certificado do Corpo de Bombeiros. “Esse documento dá o conhecimento de como se portar em uma situação como aquela”, avaliou o vereador Paulo Pinheiro, integrante da comissão, que em julho pediu ao Tribunal de Contas uma inspeção em hospitais.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, novas unidades já estão de acordo com as normas vigentes, mas não divulgou prazo para a adequação de antigos espaços. O Corpo de Bombeiros informou que, mesmo sem o certificado, o estabelecimento pode funcionar se tiver o alvará da prefeitura. Ontem, mais dois pacientes transferidos do Badim receberam alta.

Colaborou a estagiária Julia Noia