Em conversa com O DIA, Fajardo contou as boas novas: não só Centro Histórico vai passar por revitalização, os "braços" da Prefeitura do Rio vão chegar neste primeiro momento à região da Leopoldina, Zona Norte e da CRuz Vermelha à Glória, passando pela Lapa. Para dar conta de tanto trabalho as secretarias vão trabalhar em conjunto para resolver todas essas questões da cidade, o Planejamento Urbano será, como Fajardo mesmo define, uma área meio. Entre outros projetos estão a entrada dos serviços da prefeitura, como urbanização, saúde, educação e cultura, em áreas conflagradas e os Distritos Industriais da cidade, que serão observados bem de perto. E como dar conta de tanta coisa com o caixa baixo? Por meio de Parcerias Público Privadas (e Pessoas), explicou. "Serão muitos desafios, mas estou animado porque é um trabalho de qualidade e a cidade precisa disso", afirmou.
Quais serão as prioridades da secretaria?
Primeiro, fortalecer o sistema de planejamento urbano do município, organizando e integrando dados para melhor formulação de legislação urbana, visando mitigar riscos e aumentar oportunidades. Desenvolver um sistema robusto e transparente de planejamento e de gestão do uso do solo, perseguindo justiça espacial, urbanismo ecológico e prosperidade urbana. Sinteticamente: Reduzir desigualdades sócio-espaciais e planejar uma cidade boa para as crianças pois assim é também uma cidade boa para todos.
Como por exemplo, em Segurança pública: usar dados do ISP-Geo e do MP em Mapas e preparar ações de melhorias do ambiente urbano pois é o terceiro elemento da violência urbana: vítima, ofensor e ambiente. Do mesmo modo, ofertar dados para os institutos de segurança. Identificar com clareza onde estão os riscos sociais do Rio. Onde está concentrada a vulnerabilidade social. Usar dados do IPP e do programa de saúde da família para estruturar ações de assistência ou até mesmo de melhorias habitacionais. E mapear e prever estresses climáticos e planejar ações de adaptação e resposta por meio de novas infraestruturas verdes: aumento das áreas permeáveis, jardins de chuva, arborização urbana, e sistemas mais integrados de mitigação de risco.
Já pelo lado das oportunidades: requalificar a Macro Zona Incentivada, com especial atenção aos bairros da Leopoldina e aos territórios com pior IDH. Desenvolver mini Operações Urbanas Consorciadas, ou PPPP, parcerias público-privada com pessoas, para requalificar os centros de bairro próximos aos corredores de transporte de alta capacidade. Desenvolver o uso do solo de modo eficiente e gentil, tanto permitindo novos potenciais construtivos como exigindo melhor espaço público, áreas verdes, mais habitação social, mais espaços culturais e cívicos. Mais lugares para as crianças brincarem. Utilizar os recursos do Estatuto das Cidades para incentivar o desenvolvimento comunitário. Ter um plano Diretor mais objetivo, claro, acessível a todos, com mais instrumentos de financiamento da infraestrutura urbana e da habitação, melhor uso do solo urbanizado, maior restrição à expansão urbana, buscando tanto preservar natureza, e até mesmo atividade agrícolas, criando um cinturão verde para o Rio, como incentivar a produção de habitação bem localizada na cidade. E, obviamente, avançar na consolidação do Porto Maravilha e na ocupação residencial do Centro Histórico. E aproximar a moradia dos empregos.
O prefeito eleito, Eduardo Paes, falou que um dos seus maiores desafios será revitalizar o Centro do Rio. Que áreas, especificamente, vão passar por essa repaginada?
Todas as vias por onde passa o VLT são prioritárias. Além disso, onde já existe presença residencial é necessária melhor atenção em termos de serviços públicos - Cruz Vermelha, Cidade Nova, Saúde, Gamboa e Glória. Do mesmo modo, o crescimento dos cortiços e a atuação dos movimentos de moradia já são indicadores importantes do Centro como lugar relevante para a moradia do trabalhador. Precisamos também incentivar retrofit e bom aproveitamento de vazios urbanos. O Rio possui muitos imóveis de propriedade pública na área central e eles são estratégicos para criar uma onda de moradia na Área de Planejamento 1, que é a região com maior concentração de empregos formais da região metropolitana.
Depois do Centro outras áreas da cidade serão revitalizadas? Se sim, quais?
Bairros da Leopoldina são também primários, assim como a revitalização da Avenida Brasil. E claramente precisamos inovar para melhorar a qualidade de vida nos grandes complexos de favelas, como a Maré e o Complexo do Alemão.
O jornal O DIA tem mostrado a situação de abandono do Rio, como população em situação de rua crescente, lixo acumulado - aliás faltam lixeiras -, fios para todo lado, desordem urbana... Para dar conta de tanta demanda, a secretaria planeja ação integrada com outras pastas?
Sim. Planejamento é integração e dados em via de mão dupla, capturar e fornecer. Tratar dados. Cruzar informações, mas também não perder de vista a observação contextual. Um urbanismo que também anda pela cidade e é sensível aos lugares e às pessoas. Queremos ser o principal apoio de outras pastas, especialmente transporte, habitação, saúde, educação, cultura e desenvolvimento econômico. Estamos também pensando em como ser um centro de apoio aos subprefeitos.
Citando especificamente o Centro do Rio, encontramos vários prédios em situação precária na Lapa, alguns oferecem risco a quem passa na calçada, é comum os rebocos caírem. A secretaria fará um mapeamento dessas construções?
Muitos destes dados já existem na prefeitura, como por exemplo no programa Centro Para Todos, que eu coordenei no passado. Mas também existem pesquisas das universidades, como o IPPUR, além dos movimentos de luta pela moradia, ou da Defensoria Pública. Segurança é sempre a prioridade.
É uma tendência mundial as habitações próximas ao local de trabalho. Apartamentos menores, como lofts, por exemplo. No Centro do Rio vários prédios estão abandonados, ou fechados. A secretaria pretende adotar essa tendência?
Claro. O Rio precisa estar mais próximo do que outras capitais brasileiras já estão fazendo. A reabilitação de prédios é também uma política ambiental e fazer do Centro do Rio uma região de baixa pegada de carbono.
Iremos ajudar a Assistência Social em tudo que ela precisar no que toca a dados e mapeamentos, mas quem define a política é a pasta.
Temos no Rio distritos industriais que sofrem com abandono, são ruas esburacadas, sem iluminação, sem calçadas, sem abrigos de ônibus e outras questões que abrangem não só planejamento urbano, mas também infraestrutura. A secretaria pensa em fazer alguma ação nessas regiões?
Sim. Veja, o solo já urbanizado, isto quer dizer, com infraestrutura, com proximidade à oferta de transporte de alta capacidade, é sempre prioritário e precisa funcionar com riqueza coletiva. Pelo seu aproveitamento, transformação, intensidade de uso, ele deve também gerar valores coletivos: urbanidade, espaços de encontro, áreas verdes, lugares bons para as crianças. Os distritos industriais depreciados precisam de incentivos para se reconverterem, tanto em regiões como em complexos edificados pelo seu grande porte. São uma categoria urbana especial, ou como zonas, com como prédios, e terão atenção sim.
O Boulevard Olímpico está em condições precárias, e também é comum ver pessoas ocupando até os trilhos na Rio Branco, haverá revitalização e ordenação nessas áreas?
Os serviços públicos de limpeza, iluminação, conservação e manutenção são a mágica da melhoria da percepção da cidade. Sempre. Recuperar a reputação dos lugares como bons lugares é fundamental para avançar em medidas de reabilitação urbana. A pandemia trouxe um impacto contundente nas economias de aglomeração e precisa também de respostas ousadas.
Um plano de reabilitação de espaços públicos ligados a centros de atividades econômicas - ruas de compras, concentração de comércio e serviços, por meio de técnicas de urbanismo tático e de intervenções reparadoras.