PMs presos em operação planejaram emboscada contra policial civil por aplicativo
Ataque de militares contra o agente traz semelhanças com o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, segundo investigador
Rio - Um relatório da investigação que levou à prisão dos seis envolvidos - entre eles cinco PMs - na tentativa de assassinato do inspetor da Polícia Civil Bruno Rodrigo da Silva Rodrigues, no dia 14 de abril, na Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio, divulgado no início da tarde desta quinta-feira (17), mostra detalhes do planejamento do crime. O documento traz imagens registradas pelos criminosos, desde o levantamento dos endereços e placas de carro que pertenceriam ao inspetor, até o horário de trabalho dele na 39ª DP (Pavuna).
Um policial envolvido em parte da investigação e que não pode se identificar disse que o ataque traz semelhanças com o que resultou na morte da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. "O modus operandi é o mesmo usado pelo pessoal que matou a Marielle", diz o investigador.
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O relatório traz imagens de uma das armas usadas na tentativa de homicídio, feita na casa de um dos acusados, e o percurso dos carros usados no crime e na fuga, registrado pelas antenas de telefonia de um dos aparelhos celulares usados pelos bandidos.
Em um grupo do WhatsApp, os bandidos determinam até escala de vigilância na porta da delegacia e monitoramento do trajeto feito pelo inspetor: "Preciso que um de vocês vá até o campo amanhã para ver se o juíz tá lá", diz uma das mensagens. "Campo" seria a delegacia onde o inspetor trabalhava e "juíz" seria o próprio inspetor.
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A troca de mensagens prossegue com um usuário identificado como "Cap Thiago", que parece comandar toda a ação: "Se for escala 24x72 deve estar na terça. Negativo quanto a escala. É expediente. Segundo foi levantado. Ele chega às 10h. A partir do momento q constatar q ele está lá. Não pode sair de lá. Para poder monitorar. Vai um só de vocês. para checar a presença dele. O outro vai cumprir outra missão".
A operação 'Um Por Todos', que culminou na prisão dos acusados foi feita pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), na manhã desta quinta-feira, com apoio da Corregedoria da PM. Foram feitas buscas nos quatro batalhões, onde os acusados são lotados: 7º BPM (São Gonçalo), Batalhão de Vias Especiais (BPVE), 15º BPM (Duque de Caxias) e 35º BPM (Itaboraí). Foram presos cinco PMs e um informante (X-9). Também foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão.
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Armas recolhidas
A PM informou que as armas dos policiais foram recolhidas, assim como celulares e outros pertences que possam fazer parte das investigações. Os militares serão ouvidos na Cidade da Polícia, em Maria da Graça. De acordo com eles, outros oito mandados de busca e apreensão expedidos também contra policiais militares foram cumpridos.
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"O comando da Polícia Militar reforça seu compromisso com a transparência e sua intolerância diante de eventuais desvios de conduta por parte de entes da corporação, punindo, quando constatados os fatos, exemplarmente os envolvidos", disse a PM, em nota. Os seis envolvidos diretamente na tentativa de homicídio já foram denunciados pelo MPRJ e tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça. São eles: os policiais militares Sergio Berbereia Basile, Mauro Simôes de Castro, Joamilton Tomaz Ribeiro, Euclydes José do Prado Filho e Fagner Alves da Silva, além de Sergio Leonardo dos Santos.
Represália
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Os acusados planejaram o crime em represália à atuação investigativa do inspetor envolvendo condutas de PMs na área da 39ª DP (Pavuna), em especial na Feira da Pavuna e sobre o comércio de cigarros. A denúncia oferecida à Justiça imputa crime de homicídio qualificado tentado, associação criminosa e adulteração de identificação de veículo.
De acordo com a Justiça, na tarde do dia 14 de abril, em frente à residência da vítima, Sergio Basile e Mauro, também responsáveis pelo planejamento e operacionalização do crime, efetuaram mais de 20 tiros contra o inspetor Bruno Rodrigo, que sobreviveu ao ataque após conseguir se abrigar e reagir.
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Segundo a denúncia, Joamilton participou do crime como motorista de um dos veículos utilizados no crime, no qual estavam os atiradores, fazendo vigilância do local e garantindo a fuga dos comparsas.
A emboscada
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Já Sergio Leonardo e Euclydes monitoraram e vigiaram a vítima no dia da tentativa de homicídio, acompanhando-a, desde a saída do seu local de trabalho (39ª DP) até a sua residência. Já Fagner forneceu aos demais denunciados o outro veículo utilizado na emboscada, que tinha placa adulterada.
Todos os denunciados foram incursos no artigo 121, §2º, I, IV e VII c/c art. 14, II, ambos do Código Penal (homicídio, qualificado por motivo torpe, por meio de emboscada e contra policial civil , que prevê pena de 12 a 30 anos de reclusão e, ainda, por crime de associação armada - art. 288-A e crime de adulteração de sinal identificador de veículo automotor - art. 311 do CP.