Ator e militante da Cidade de Deus estreia na Record e comemora representatividade ao viver nobre egípcio Okpara na novela Gênesis
 - Sérgio Santoian
Ator e militante da Cidade de Deus estreia na Record e comemora representatividade ao viver nobre egípcio Okpara na novela Gênesis Sérgio Santoian
Por Bruna Fernandes
André Dread, atualmente atuando na novela Gênesis, da Record, teve seu primeiro contato com as artes no Retiro dos Artistas. Depois de passar por participações menores, ele comemora seu papel de destaque na novela que conta a origem da humanidade segunda a bíblia. Ele lembra que construiu sua trajetória artística nos projetos 'Cufa' e 'Nós do Morro', onde conheceu seu mentor, do qual lembra com carinho. "Construí toda a minha história na Cufa e no Nós do Morro. O meu grande mestre que hoje não está entre nós, Cico Caseira, ator e diretor foi uma pessoa muito importante na minha vida. Me viu fazer algumas poucas coisas na TV e me aconselhou a brigar por coisas melhores, foi um mestre que tive a oportunidade de trabalhas nessas nesses três lugares que cito, Retiro dos Artistas, Cufa e Nós do Morro."


Ele também falou sobre a importância da representatividade em produções nacionais, onde poucos negros são vistos trabalhando em papéis que tenham destaque na trama. "Estou muito feliz por essa oportunidade de fazer o OKPARA, de estar nesse lugar de um nobre egípcio, mas precisamos avançar e muito, nós negros somos minoria nas grandes produções e quando somos escalados, não nos vemos representados na maioria das vezes. Muito poucos papéis de destaques, precisamos mudar esse cenário com urgência. Precisamos ver nossas histórias sendo contadas, a história da família popular brasileira não pode ser contada só por brancos, precisamos ver mais negros fazendo advogados, médicos, galãs, porque tem! Porque existe! Não podemos invisibilizar essas pessoas! Estou a duas décadas trabalhando com arte, meu primeiro personagem de representatividade foi em 2018 e olha que nem foi na dramaturgia, foi na publicidade. Não tenho problema algum de fazer um personagem marginalizado, desde que tenha uma boa história. Mas sigo otimista que o jogo vai virar, ainda não virou, mas estamos esperançosos pra que isso mude."


O ator também comentou sobre a dificuldades de projetos sociais artísticos e da importância deles na vida de jovens de periferia. "Eu vi toda construção dos arteiros e as dificuldades que eles passaram lá trás, nessa época eu estava no Nós do Morro, queria muita tá mais próximo, mas por conta do pouco tempo que eu tinha não dava pra colar e ajudar, mas graças a Deus eles fizeram uma linda diferença na vida muitos jovens. Os Arteiros representa pra mim, esperança. Fui jurado num festival de esquetes que eles promoveram na época. Fiquei feliz de contribuir e por conta da pandemia juntamos alguns coletivos da Cidade de Deus pra formar a Frente CDD. Foi aqui que rolou mais aproximação com essa galera antiga que também passou pela Cufa, porque a base dos Arteiros faziam parte da Frente, daí rolou o convite para participar de um núcleo artístico. As coisas ainda estavam se desenhando até rolar mais à frente o convite pra Coordenação de Produção."


André também chama a atenção para os estigmas que pessoas que moram em favelas enfrentam. E que, além do preconceito, também convivem ocom violência e descaso com recursos básicos. "A sociedade brasileira considera pessoas que vivem em favela inferiores. Vivi a minha vida toda dentro da favela, as injustiças acontecem a todo momento, nascemos alvo de um sistema extremamente racista, mas não é só aqui, o racismo está em em todo o país. A educação é algo precário, temos um problema gravíssimo de saneamento básico que não se resolve. O Estado quando entra na favela dizem que estão combatendo o tráfico de drogas, só que drogas tem em todos os lugares, não vejo essa mesma polícia que entram aqui distribuindo seu ódio contra o negro favelado fazendo uma operação nas raves que rolam na zona sul cheio de drogas sintéticas. Lá a abordagem é diferente, porque tem filhos de uma elite que se eles meterem a mão o problema vai ser grande. A cada 23 minutos um jovem negro é assasinado no brasil, essas atitudes abusivas me fizeram ser o que eu sou, cansei de apanhar calado e ver meu povo morrendo."