Rio de Janeiro 29/04/2021 - Foi sepultado na tarde desta quinta feira o corpo do marceneiro Gemerson Patrício de Souza, morto numa troca de tiro entre policiais e criminosos, no entorno do Morro do Juramento, na Zona Norte da cidade. Na foto acima a esposa Amanda Ferreira de Souza. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia
Rio de Janeiro 29/04/2021 - Foi sepultado na tarde desta quinta feira o corpo do marceneiro Gemerson Patrício de Souza, morto numa troca de tiro entre policiais e criminosos, no entorno do Morro do Juramento, na Zona Norte da cidade. Na foto acima a esposa Amanda Ferreira de Souza. Foto: Luciano Belford/Agencia O DiaLuciano Belford/Agencia O Dia
Por Bernardo Costa
Rio - Amigos de Gemerson Patrício de Souza acreditam que o marceneiro tenha sido morto por um disparo da Polícia Militar. Segundo eles, moradores do entorno do local em que a vítima foi atingida, na passarela da estação do Metrô de Tomás Coelho, relataram que os policiais estavam à espera dos bandidos, e começaram a atirar quando eles passaram. Gemerson foi atingido a caminho do trabalho, na manhã de terça-feira. Ele tinha 47 anos e deixa uma esposa e dois filhos.
Gemerson foi sepultado na tarde desta quinta-feira, no Cemitério Memorial do Rio, em Cordovil, por volta das 16h30. Pouco antes, outra vítima da violência dos últimos dias - nove pessoas foram mortas a tiros entre segunda e terça-feira - foi sepultada no Cemitério São João Batista: o vigilante Denis Francisco Paes, de 46 anos.  
Publicidade
No enterro de Gemerson, um amigo deu a versão de testemunhas sobre a morte do marceneiro.
"Os moradores contam que havia troca de tiros no Morro do Juramento. Uma parte dos policiais militares já estava de tocaia próximo à passarela, aguardando os bandidos passarem em direção ao Juramentinho, que fica do outro lado. Quando eles atravessaram, os PMs começaram a atirar. Era por volta de 6h20, horário em que muitos trabalhadores passam pelo local, e o Gemerson foi atingido. Foi uma operação mal planejada", disse o amigo, que pediu para não ser identificado.

Um colega de trabalho de Gemerson, que também estava na passarela a caminho da empresa no momento dos tiros, relatou não ter percebido de onde partiram os primeiros disparos.

"Foi tudo muito rápido. Não deu para perceber se houve troca de tiros. Só deu tempo de eu pular da passarela e deitar no chão, onde fiquei até os tiros pararem. Foram muitos tiros", contou.

Após os disparos, um grupo de colegas da empresa foi até o local após terem recebido a informação de que Gemerson tinha sido baleado. Segundo eles, todos os pertences do marceneiro foram levados pelos policiais militares.

"Eu pedi para recolher a mochila dele, que estava na passarela. A quentinha que ele trazia para o almoço também estava no chão. Mas o policial não deixou, disse que iria passar por perícia. Só que eles levaram crachá do trabalho, o celular, a mochila... Tudo. E não devolveram. Só ficou o chinelo e chave de casa no chão", contou o colega de trabalho, também pedindo anonimato.

Segundo ele, além de Gemerson, outros seis feridos na passarela foram levados nas viaturas da Polícia Militar:

"Tiroteios no Juramento são comuns. Mas uma ação violenta como esta na passarela da estação de Tomás Coelho nunca tinha acontecido antes".

Segundo os colegas de trabalho, Gemerson tinha o costume de andar com o crachá da empresa sempre preso à camisa no trajeto de ida e volta para casa. Ele morava em Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

"Tudo que estava com ele e servia de prova de que ele era um trabalhador foi levado pelos policiais, talvez no intuito de se livrarem de uma possível condenação pela morte dele. Sabemos que foi uma fatalidade, mas essa atitude dos policiais deixa a gente revoltado", contou um amigo.

Gemerson foi sepultado por volta das 16h30. Familiares não quiseram falar com a imprensa.
Publicidade
Posicionamento das polícias
Procurada pela reportagem, a Polícia Militar afirmou que os agentes foram atacados pelos bandidos que atravessavam a passarela e que, por isso, tiveram que revidar aos ataques. A PM afirma, ainda, que não havia operação no Morro do Juramento no momento da troca de tiros. E que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da ação.
Publicidade
Já a Polícia Civil disse que as armas usadas pelos policiais na ocorrência foram apreendidas para confronto balístico. Segundo a Civil, além da morte de Gemerson Patrício de Souza, as mortes de João Victor Medeiros Vieira Gabina, Leandro de Oliveira e Nathan Nunes de Souza, mortos no mesmo dia no Morro do Juramento, estão sendo investigadas pela Divisão de Homicídios da Capital (DHC). 
Vigilante deixa cinco filhos 
Publicidade
O vigilante Denis Francisco Paes foi morto quando voltava do trabalho para casa, no Morro dos Prazeres, na noite de segunda-feira. Segundo moradores, havia confronto entre PMs e traficantes de drogas no momento em que ele foi morto. Familiares afirmam que o tiro que o atingiu partiu dos policiais militares. Denis foi atingido na perna e levado para um hospital ainda consciente, mas morreu no dia seguinte. Ele deixa esposa e cinco filhos. 
A PM informou que também abriu inquérito policial militar (IPM) para apurar as circunstâncias da morte do vigilante. O caso é investigado pela Divisão de Homicídios da Capital (DHC).