Da juventude à maturidade, me recordo de um bate-papo com a bailarina Irene Orazem, de 80 anos, desde os oito neste universo, que festejou o Dia Internacional da Dança na quinta-feira. Na icônica escadaria do Theatro Municipal do Rio, na Cinelândia, conversamos por alguns minutos. Notei logo a sua postura irretocável. Num relato precioso, ela comparou a dedicação ao balé à vida de um esportista. Nos dois mundos, treino e suor não podem faltar. E o glamour só se descortina na hora do espetáculo, diante da plateia.
Talvez por isso eu tenha entendido, ainda criança, que a sapatilha de ponta me reservava um caminho que não estava disposta a encarar. Mas guardo com carinho a minha foto de minibailarina, de roupa toda rosa. E até hoje revisito instintivamente a dançarina que não foi adiante quando uso as minhas polainas nas aulas de pilates.
A dança nos remete à magia e ao jogo de cintura. E comprova que graciosidade não se mede pela balança, mas pelo poder de deixar o corpo fluir regido pela música. Assim, através do balé, o músico Leo Jaime mostra que disposição, dedicação e leveza jamais estarão atreladas a um biotipo. Sigo bailando pelos meus pensamentos e chego à Baby Consuelo, hoje Baby do Brasil: ""No canto do cisco/No canto do olho/A menina dança/Dentro da menina/A menina dança...". Música de 1972, feita pelos Novos Baianos especialmente para Baby cantar.