População se descuida no uso da máscara no calçadão de MadureiraFábio Costa
Especialistas criticam flexibilização das medidas contra covid-19 no Rio
Planejamento prevê, em novembro, fim do distanciamento social e do uso obrigatório de máscaras, a não ser em transporte público e em unidades de saúde, e série de eventos culturais em setembro
Rio - Especialistas criticaram o planejamento divulgado, na tarde desta quinta-feira, pela Prefeitura do Rio, que prevê flexibilização das medidas de restrição de combate à covid-19 em três etapas. O cronograma culmina, a partir de 15 de novembro, com o fim do distanciamento social e da restrição de público em eventos e estabelecimentos comerciais e fim da obrigatoriedade do uso de máscara, a não ser nos transportes públicos e em unidades de saúde. O plano da prefeitura prevê, ainda, uma série de manifestações culturais pela cidade entre os dias 2 e 5 de setembro.
O infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, classificou o anúncio como 'um exercício de futurologia sem qualquer base científica'.
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"É um anúncio absolutamente político, que não leva em consideração nenhuma evidência científica. Não temos bola de cristal para sabermos como estará a pandemia daqui a três meses, especialmente em relação ao comportamento da variante delta. Não sabemos se ela fará uma onda mais tardia de casos ou não. Também ainda não sabemos qual é o período de proteção oferecido pelas vacinas. São questões imprevisíveis, imponderáveis. Por isso, não se pode fazer qualquer anúncio com datas e hora marcada para o fim das medidas restritivas", diz Renato Kfouri.
Médico e professor titular de epidemiologia da UFRJ, Roberto Medronho também criticou as medidas:
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"Esse anúncio e, no mínimo, uma temeridade. Não estamos numa situação tão confortável assim. Temos a variante delta circulando no país e no Rio e não sabemos, ainda, o nível de proteção que as vacinas oferecem contra ela. Sabemos que há alguma proteção, mas não sabemos o grau dessa proteção, se é o mesmo oferecido contra as variantes que apareceram anteriormente".
Medronho afirma que os eventos previstos para setembro podem resultar em aumento de número de casos e formas graves da doença na população que ainda não se vacinou:
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"A despeito do avanço da vacinação, as vacinas não são esterilizantes. Elas evitam casos graves e óbitos. Mas as pessoas vacinadas podem transmitir o vírus em contato com outras pessoas que ainda não foram vacinadas. Essas pessoas podem desenvolver casos graves da doença e ir a óbito. Não é admissível que haja uma espécie de viradão cultural em setembro. O momento, no meu entendimento, é de precaução", destaca Medronho, afirmando que o planejamento divulgado pelo prefeito Eduardo Paes não levou em consideração a opinião dos membro do comitê científico da prefeitura:
"Até então, eu estava apoiando todas as medidas da Prefeitura do Rio, que montou um comitê científico com pessoas do mais alto gabarito. Porém, essas pessoas não foram consultadas sobre esse plano de flexibilização. Esse planejamento passa uma mensagem contraditória para a população. Quem está aglomerando neste momento, vai aglomerar mais ainda. A pandemia continua. Ela não pode ser encerrada por decreto".
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Renato Kfouri chama atenção para o fato de estarmos com uma média de 40 mil novos casos de covid-19 por dia no país, o mesmo patamar verificado, segundo ele, no período mais grave da pandemia, em julho do ano passado.
"Tínhamos exatamente o mesmo número de casos, e estávamos com tudo fechado. Hoje, estamos apenas colhendo os primeiros frutos, com diminuição do número de óbitos e de formas graves do doença, já que os os idosos e portadores de doenças crônicas estão completando o esquema de vacinação. Estamos começando a vencer as batalhas, mas a guerra ainda está longe de ser ganha. O momento não é de euforia", alerta Kfouri.
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