'Foi muito esquisito', diz Cláudio Castro sobre sequestro de helicóptero para resgatar preso em Bangu
Dois criminosos armados obrigaram o piloto da Polícia Civil Adônis Lopes a ir até o Complexo Penitenciário de Gericinó para resgatar um preso; mas ele conseguiu evitar o término da ação
Governador Cláudio Castro - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Governador Cláudio Castro Estefan Radovicz / Agência O Dia
Rio - O governador Cláudio Castro (PL) se pronunciou, nesta segunda-feira, sobre o sequestro de um helicóptero em Angra dos Reis para resgatar um preso no fim de semana. Dois criminosos armados ordenaram que o piloto da Polícia Civil Adônis Lopes de Oliveira fizesse o trajeto até o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio.
fotogaleria
"Não houve nenhuma movimentação de nenhuma natureza na penitenciária, o que faz até a gente achar que era alguém que foi pago e que achou que teria essa condição. Foi muito esquisito o que aconteceu, mas a gente já está investigando para poder entender", disse o governador.
"Ele só me mostrou uma foto que, na verdade, eu nem tentei entender muito onde era. Isso porque eu já sabia, coloquei na minha mente que eu não iria para lá. Nem eles sabiam onde era, eles tinham uma foto, que estava até bem embaçada assim, não era muito nítido. Como eu disse, eu não me preocupei em saber onde era aquele local", lembrou.
Adônis explica que suspeitou desde o início de que não se tratava de um voo comum. Ele foi acionado para substituir um colega que faria o percurso, mas esse outro piloto acabou passando mal durante o dia. O ponto de encontro com os passageiros foi no condomínio de luxo Frade, em Angra dos Reis.
"Assim que eu pousei. Assim que eles embarcaram, eu já desconfiei. Já achei estranho. Até mandei uma mensagem para a empresa e falei:' o pessoal aqui está meio estranho'. Acabei de digitar, o de trás pulou pra frente com a pistola e anunciou o sequestro e pegou meu celular", disse.
Dois fuzis e uma pistola
Segundo Adônis, a dupla estava apenas com uma pistola, mas durante o voo abriram uma mala onde estavam dois fuzis. Para impedir que ele se comunicasse com alguém, os criminosos tiraram seu fone. O equipamento foi retirado assim que a ação foi anunciada. Desde esse momento, ele perdeu a comunicação com a torre de controle. "Eles não tinham o controle da aeronave, mas estavam ditando as regras. Eles falavam a todo momento: 'Vamos mais rápido. Quanto tempo leva?'", contou.
O piloto comenta ainda que assim que os criminosos anunciaram o plano de resgate, tentava a todo momento os convencer de que não seria uma boa ideia. O hábito de acalmar passageiros desacostumados a voar de helicóptero o ajudou nessa hora.
"Eu dizia pra eles que iriam atirar na gente, perguntava se eles não tinham família, se não tinham filhos. Falava que era arriscado. Até cogitei, caso eles seguissem insistindo após a tentativa de pouso forçado de alegar que não teríamos combustível para chegar em outro lugar", lembrou ele.
A tentativa de pouso no 14º BPM, no fim da tarde deste domingo, registrada em vídeos, segundo ele, foi a última opção para evitar que os criminosos conseguissem alcançar o objetivo de resgate. "Quando chegou perto do batalhão eu comecei a diminuir a velocidade e a altura. Fiz uma aproximação rápida, mas eles também foram rápidos. Um segurou o comando e o outro me deu uma gravata. Aquelas manobras foram consequência dessa luta corporal que tivemos ali naquele momento".
Após a manobra, Adônis comenta que os criminosos ficaram desnorteados e tontos. Segundo o piloto, a dupla foi então que a dupla percebeu que não conseguiria concluir o plano e decidiu pedir para que ele os levasse para Niterói.
"Eles pareciam estar chateados com o que aconteceu, mas estava claro que não queriam morrer ali. Se disparassem contra mim, era isso que iria acontecer. Devem ter pensado nisso. Mas eu tive medo de que quando pousasse, eles poderiam atirar", comentou.
Os criminosos foram deixados por Adônis em algum ponto do Complexo do Caramujo, região comandada pelo Comando Vermelho (CV), em Niterói. A facção é, inclusive, apontada pela Polícia Civil como suspeita de ter encomendado o resgate.
Segundo o Adônis, o pagamento de viagens particulares não é feito diretamente ao piloto, mas sim para a empresa que vende o trajeto. "Sei que a hora de voo custa, em média R$ 4 mil, então acredito que eles tenham pago isso, mas isso não passa por nós".
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.