Santuário do Seu Zé Pilintra, na LapaPedro Ivo / Agência O Dia

Rio – As ruas da Zona Central do Rio serão tomadas de vermelho, branco e chapéus panamá, durante a 2ª Procissão em Homenagem a Zé Pelintra, que acontece neste sábado (21). O evento será organizado pelo Santuário do Zé Pelintra e contará com apoio da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap). Concentrados nos arcos da Lapa, os devotos partirão em direção à Praça da Cinelândia, pedindo mais respeito, amor e reconhecimento a Seu Zé. 

Para um dos diretores do Santuário, Jeff Duarte, conhecido como "Malandro Encarnado", a marcha é importante para conscientizar as pessoas, visando diminuir os casos de intolerância religiosa, e mostrar a história da entidade, que se mistura à história do povo brasileiro.

"A importância de realizar uma procissão para o Zé Pelintra é justamente de conscientizar as pessoas que: primeiro, esses atos de violência e intolerância contra os terreiros têm que acabar; segundo, enaltecer uma história que é a história do nosso povo. É o nosso povo que é descendente de índios e escravos, e a nossa cultura é essa. Outras foram impostas pra gente e tivemos que aturar durante muitos anos", explicou Jeff.

Luzia Lacerda, jornalista e diretora responsável pelo Instituto "Expo Religião", vê na procissão um movimento importante para descontruir a visão de Zé Pelintra como o Diabo, figura cristã usada para materializar o mal a ser combatido.

"Zé Pelintra veio do Catimbó. A umbanda o venera, as matrizes africanas também, mas ele tem sua origem no Catimbó. E nem o Catimbó, nem a Umbanda, e nem matrizes africanas reconhecem o diabo ou o veneram. Não existe isso. Diabo é algo que advém do cristianismo, da Igreja Católica, do evangélico. Não vem dessas três religiões. Então, vejo como principalmente isso: desconstruir essa imagem de Zé Pelintra como o diabo", defendeu.

A 2ª procissão tem também gosto de vitória. Enquanto na 1º edição do evento, os fiéis pediam por um dia de homenagem ao Seu Zé, agora, eles caminham com a tranquilidade de uma luta conquistada. Isso porque, em setembro do ano passado, o dia de Zé pelintra, homenageado dia 7 de julho, passou a fazer parte do calendário oficial da cidade do Rio. Apesar disso, as comemorações a Seu Zé podem aguardar um pouco, já que a marcha seguirá concentrada em reivindicar seus direitos.

"No dia 7, nós teremos outros evento, que é a entrada do dia do Zé Pelintra no calendário. Embora [a marcha] figure como um novo evento, até mesmo especial por causa dessa vitória, em termos uma data para a entidade, não fará parte desse contexto. Será mais a realização de uma procissão popular, como foi no ano passado, o ‘Zé Pelintra, nosso santo popular’. Nós reivindicamos uma santidade, no sentido de, por exemplo, ser padroeiro do Rio de Janeiro. Por isso que estamos fazendo esse ato junto com a igreja do Padre Antero", afirmou.

Padre Manoel Antero é da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, em Araruama, no interior do estado. Além dele, a procissão contará com outros líderes religiosos, como o Babalaô Ivanir dos Santos. A Velha Guarda da Estácio de Sá, o Grupo de Maracatu Baque de Mulher, o Grupo de Teatro "Tá na Rua", e outros, também marcarão presença.

A segunda edição da marcha acontece na Semana Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Embora não faça parte da programação oficial, sua proximidade com o evento é mais que bem-vinda e necessária. A ojeriza e intolerância a Zé Pelintra tomam forma sob os casos de racismo religioso, que violentamente atacam terreiros e vandalizam um patrimônio cultural da cidade, seu Santuário, na Lapa. Por isso que a incorporação do evento à semana, mesmo que inconscientemente, foi festejada por Luzia.

"Gostei muito de ver que pelo segundo ano eles meio que se incorporam dentro dessa semana de luta contra a intolerância religiosa. Por quê? Porque foram intolerantes com ele e ainda são. Porque aquele monumento que tem para Zé Pelintra, na Lapa, já foi danificado por diversas vezes. Então, ainda se tem que pedir respeito a Zé Pelintra. Enquanto aquele monumento dele estiver sendo danificado, tem que pedir respeito", defendeu a jornalista, que aproveitou para fazer o convite:

"Que todos possam estar na procissão, que vistam sua roupa branca, que ponham qualquer adereço vermelho, seu chapéu de panamá, um bom humor, um bom malandro, uma boa música e que esteja lá homenageando Zé Pelintra", concluiu.
* reportagem da estagiária Beatriz Coutinho sob supervisão de Thiago Antunes