Daniel Eduardo, 18 anos, que morreu baleado no confronto de duas facção nos morros da Casa Branca e do Borel, foi enterrado na tarde deste domingo(22)Érica Martins/Agência O DIA

Rio - Sob forte comoção e homenagens, familiares e amigos se despediram de Daniel Eduardo Silveira Pinheiro, de 18 anos, durante sepultamento no Cemitério de São Francisco de Paula, no Catumbi, na tarde deste domingo (22). O jovem foi morto na última sexta-feira (20), após ser baleado em um confronto nos morros do Borel e da Casa Branca, na Tijuca, na Zona Norte do Rio. A troca de tiros entre facções criminosas rivais ainda deixou outros três feridos.
O pedreiro José Roberto Santos, de 48 anos, foi um dos moradores da comunidade da Casa Branca que tentou socorrer Daniel, após ele ser atingido. Ele conta que durante todo o dia, houve queima de fogos em celebração à Folia de Reis e ao padroeiro do Rio, São Sebastião, e por isso, não haviam percebido os disparos. Entretanto, entre 22h30 e 23h, quando o jovem estava em uma barraca de lanches, eles ouviram uma rajada de tiros e pouco depois o encontraram ferido.
"Eu fui saber que ele foi baleado através do meu filho, porque eles são amigos. Eu tive a oportunidade de socorrer ele, ajudei no trabalho, que ele já estava querendo aprender uma profissão de pintor, e ajudei, também, no último momento da vida dele. Nós vamos enterrar hoje", lamentou o pedreiro, que descreveu a vítima como sendo muito trabalhadora.
"Ele trabalhava comigo, era meu ajudante, ele começou cedo, uns 17 anos. A gente trabalhava lá em cima no alto (da comunidade). Esse sol de 40° C da semana passada, ele estava lá fazendo massa para mim. Na semana que vem, na segunda-feira, a gente ia começar a virar concreto", contou.
Amigo de infância e colega de trabalho de Daniel, o ajudante de pedreiro Marco Antônio da Silva lamentou a violência que as comunidades têm vivido, por conta da guerra das facções pelo controle total da região. Segundo moradores, na sexta-feira, traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) tentaram invadir o Morro do Borel, que atualmente é dominado pelo CV.
"Comprou o açaí na Rua Paraíso e acabou sofrendo uma covardia, sempre acaba para inocente. Moleque novo, muitos sonhos para serem realizados na frente. Eu só peço paz. Essa guerra acaba sobrando para inocente que não tem nada a ver com isso. Um menino novo, muitos sonhos (para serem) realizados e acabaram sendo interrompidos", desabafou.
Marco Antônio contou ainda que o jovem estava trabalhando para realizar o sonho de comprar uma motocicleta."O Daniel é criado comigo desde pequeno, conviveu, trabalhava comigo na obra, estava entrando numa profissão, tinha sonhos para serem realizados, queria comprar uma moto. Vivia comigo nas festas, chegava em casa de família, bebia, comia, dançava", disse ele sobre o amigo.
Na entrada do cemitério, moradores exibiram cartazes protestando contra a violência. O grupo deve seguir para a 19ª DP (Tijuca) para realizar uma manifestação. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o caso.
Policiamento reforçado
Também neste domingo, policiais militares do Grupamento de Intervenções Táticas e das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) Morro do Borel e Andaraí realizam reforço no policiamento da região. As equipes contam com o apoio de policiais do 6º BPM (Tijuca) e de veículos blindados da corporação. Não há registro, até o momento, de novas trocas de tiro. Desde sexta-feira, há intervenção nas comunidades, por conta da guerra das facções rivais.
Além da morte do jovem na Casa Branca, o intenso confronto deixou outro morador, um policial militar e um suspeito feridos, que foram socorridos para o Hospital Federal do Andaraí. Daniel Teixeira da Silva está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em estado grave, mas estável. Segundo o pedreiro José Roberto, o rapaz trabalha como mototaxista e entregador de lanches.
Já o PM foi encaminhado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, onde passou por uma cirurgia na tarde de sábado (21). Segundo o Comando de Polícia Pacificadora (CPP), o procedimento foi bem sucedido e ele foi encaminhado para o Hospital Central da Polícia Militar, no bairro do Estácio. O quadro de saúde é considerado estável.
Por fim, o suspeito, identificado como Davi da Silva Martins, foi transferido para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, ainda na sexta-feira. O homem está sob custódia e foi autuado em flagrante por homicídio, tentativa de homicídio, associação para o tráfico e porte de arma de uso restrito. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o estado de saúde dele é estável. A 19ª DP (Tijuca) realiza diligências para apurar a autoria dos disparos.