Na ocasião, o policial civil classificou o caso como "fato atípico" e teria até pedido desculpas ao homem nazista por ter sido conduzido à delegacia. O registro de ocorrência foi feito pelo estudante Leonardo Guimarães, de 30 anos. Ele convenceu policiais militares a encaminhar o homem com uma suástica, um sol negro, e uma inscrição supremacista branca tatuados no braço para a delegacia na manhã do sábado (28). Mas, o crime só foi finalmente registrado na segunda-feira, na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na Lapa, no Centro do Rio.
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Para o procurador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem da OAB-RJ, Rodrigo Mondego, o policial cometeu o crime de prevaricação, quando um funcionário público age contra o que está determinado por lei para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
"À primeira vista a gente viu que a conduta do policial foi totalmente inaceitável. Seja na forma de tratar a pessoa que está fazendo a denúncia de um crime, seja de agir como um militante político. Por simpatia ao nazista, nitidamente, ele prevaricou", afirma Mondego.
Por conta da repercussão do caso nas redes sociais, foram encontradas publicações do policial em atos antidemocráticos além de divulgação de desinformação em sua conta no Facebook. "Ele não pode ter essa posição de extrema-direita na qualidade de servidor da Segurança, onde deve agir dentro e na defesa da Lei. Infelizmente, ele não agiu desta forma", completou Mondego.
O estudante Leonardo Guimarães conseguiu registrar o caso acompanhado de representantes da comissão de Direitos Humanos da OAB à Decradi. "Diante da negativa em investigar da 9ª DP, em especial pela péssima conduta condescendente com o neonazista do inspetor Policial Civil Sandro Monteiro da Silva, vamos oficiar a Corregedoria. O policial não pode atuar como militante partidário no seu ofício", afirmou Leonardo em uma conta de sua rede social.
"O sentimento é de insegurança. O nazista continua andando solto pelo bairro do Catete. Fiz meu dever de cidadão e darei visibilidade até o mundo saber que nazistas não podem andar impunemente por aí", acrescentou o estudante.
O policial alegou, segundo Leonardo, que a tatuagem nazista não configura crime. Ele não ouviu o estudante, que disse que só iria prestar depoimento ao lado de seu advogado. Segundo Leonardo, ele estava em um restaurante, por volta das 10h, quando viu um homem passar com três tatuagens que se referiam ao nazismo: uma suástica, um sol negro e um dizer "White Proud", que significa "orgulho branco".
O estudante relatou que, chegando à 9ª DP, foi mal atendido e o inspetor que estava de plantão no momento falou que o homem poderia tatuar o que quisesse, o problema era dele. Leonardo informou que o inspetor chegou a ligar para uma delegada da 12ª DP (Copacabana), pois não havia ninguém na delegacia, e, de acordo com ele, ela disse que não era crime ostentar os símbolos nazistas.
De acordo com a Polícia Civil, a investigação do crime de preconceito está em andamento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que vai receber as informações colhidas nas diligências realizadas pela 9ª DP (Catete), que apurou o fato desde seu registro. Os envolvidos já prestaram depoimento.
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