Eu peço a todas as pessoas para virem comigo combater essa impunidade, pediu Mariana Cardim, mãe de João Gabriel, em ato contra soltura de Bruno KruppMarcos Porto/Agência O Dia
Família de adolescente pede prisão de Bruno Krupp: 'Não mereço essa injustiça'
Parentes e amigos de João Gabriel Cardim voltaram a realizar protesto neste sábado. Vítima foi atropelada e morta pelo modelo há oito meses
Rio - Familiares e amigos de João Gabriel Cardim voltaram à Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, para um novo protesto contra a soltura de Bruno Krupp, neste sábado (1º). O adolescente, de 16 anos, morreu na noite de 30 de julho de 2022, quando foi atropelado pelo modelo, que passava de motocicleta em alta velocidade pela via. O acusado deixou a prisão na última quarta-feira (29), após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ter concedido liberdade provisória.
João Gabriel foi atingido no momento em que atravessava a Avenida Lúcio Costa e chegou a ter a perna amputada com o impacto. Ele foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. "Eu não consegui atravessar nesse dia, era só isso que eu queria. Eu só queria ter meu filho aqui de volta. Meu filho era tão correto com tudo que ele fazia, meu filho era um garoto tão bom. Eu não merecia ter passado por isso, eu não mereço essa injustiça. Eu peço a todas as pessoas para virem comigo combater essa impunidade", disse emocionada a mãe da vítima, Mariana Cardim.
Durante o ato, os manifestantes usaram camisas com os dizeres "não foi acidente" e exibiram cartazes com frases como "cuidado, mãe, ele está solto", "Bruno, moto não é brinquedo" e "o lugar do Bruno Krupp é na cadeia". Muito abalados, os parentes reforçaram que a morte do adolescente não foi acidental, já que o modelo dirigia sem habilitação e a mais de 100km/h, mesmo a via permitindo velocidade máxima de 60 km/h. Segundo parentes da vítima, desde que perdeu o filho, Mariana não conseguiu voltar para a casa onde vivia com João Gabriel.
"Ela está na minha casa, por ela não conseguir voltar para a casa dela. Foi um assassinato, porque quem pega uma moto e dirige a 152 km/h, nem habilitado ele era, então ele fez para causar um acidente. Mas, não foi um acidente, foi um assassinato para mim. Ele matou, a perna dele (João Gabriel) foi arrancada na hora com a velocidade em que ele estava, como pode isso ser um acidente? Quem pega uma moto a 152 km/h saiu de casa para matar alguém. A vítima foi o meu sobrinho, podia ser você, podia ser o pai dele, esse juiz que falou que ele está sendo vitimado", afirmou Maura Cecícila, tia da vítima.
No pedido de habeas corpus, a defesa de Bruno apontou que ele vinha sofrendo coação ilegal do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) em seu direito de locomoção e, em sua decisão, o ministro Rogerio Schietti alegou que o modelo é réu primário e portador de bons antecedentes. Além disso, ele afirmou que "não há indicação da periculosidade" que justificasse a prisão, e por isso não haveria necessidade de manter o acusado preso, se outras medidas poderiam evitar a prática de novo crime por Krupp.
Com a soltura, o modelo passou a cumprir medidas cautelares, como recolhimento domiciliar no período da noite e uso de tornozeleira eletrônica; comparecimento periódico em juízo, sempre que for intimado; não deixar a comarca sem autorização judicial; além da proibição de dirigir veículo automotor e obter permissão ou habilitação para dirigir até o julgamento final do processo. Nesta sexta-feira (31), o TJRJ atendeu a um pedido da defesa para que seu endereço fosse mantido em sigilo.
"A sentença da Mariana já foi dada há oito meses. Ela sobrevive, ela não vive, ela usa medicamentos que ela não utilizava. Esse cara destruiu uma família e ele vai destruir muito mais com essa tornozeleira e o STJ não enxerga isso. Qual é a sentança da Mariana, qual é a sentença dele? Que medida cautelar tem a Mariana para continuar sobrevivendo? Nenhuma. O STJ é podre e eu tenho nojo dessa Justiça", declarou Débora Cardim, tia de Mariana.
"Ele era tudo para mim. Eu podia não ser próximo, podia não morar mais com ele, mas ele era uma das pessoas que mais amei nessa vida inteira, era meu irmão para a vida inteira. Eu tinha sonhos, tudo com ele, e ele (Bruno Krupp) ceifou a vida do meu irmão. Eu passei um dia maravilhoso com ele aqui nesse lugar, eu atravessei essa rua (Avenida Lúcio Costa) três vezes com ele e, quando eu não atravessei, esse nojento atravessou e tirou a vida do meu irmão. Ele tem que ir preso, isso não existe, isse é um assassinato", completou Daniel Cardim, irmão da vítima.
Relembre o caso
Bruno Krupp, de 25 anos, foi preso em 3 de agosto de 2022, por ter atropelado e matado João Gabriel Cardim Guimarães, 16, quando ele atravessava a Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, em 30 de julho. O modelo dirigia sem habilitação uma motocicleta a mais de 100km/h, mesmo a via permitindo velocidade máxima de 60 km/h. O adolescente teve uma perna amputada com o impacto e chegou a ser socorrido, mas morreu horas depois do acidente. Na ocasião, o modelo também foi levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra, e recebeu alta no dia seguinte.
Entretanto, ele foi internado novamente, dessa vez no Hospital Marcos Moraes, no Méier, onde passou por cirurgia e precisou ficar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), após ter um dos rins paralisados. Poucos dias depois, a Polícia Civil indiciou por fraude processual, o médico Bruno Nogueira Teixeira, que alegou que Krupp não poderia ser encaminhado à prisão por causa do problema renal. O modelo passou a receber tratamento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo de Gericinó, em Bangu e, depois da alta, foi encaminhado para a Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira.
Denunciado pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) por homicídio com dolo eventual, ele se tornou réu e, na primeira audiência de instrução e julgamento, em novembro do ano passado, admitiu que pilotava em alta velocidade, porque já havia sofrido diversas tentativas de assalto, mas que sempre respeitou sinais e ficou atento. Krupp declarou que calculou que tinha tempo e espaço para passar, mas não esperava que a vítima correria para a calçada e disse ainda não concordar com a acusão, porque nunca faria mal a uma pessoa e não imaginou que causaria um acidente.
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