Leonardo Gouvêa da Silva foi preso durante operação da DHC e do MPRJ em 2020Reprodução / TV Globo

Rio - O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) condenou, nesta quinta-feira (3), a 13 anos e quatro meses de prisão, os irmãos Leonardo e Leandro Gouvêa da Silva, conhecidos como Mad e Tonhão, respectivamente, pelo crime de organização criminosa. Eles são acusados de integrarem um grupo conhecido como "Escritório do Crime", responsável por diversos homicídios.
A dupla é suspeita de participar de dez homicídios, sendo que as investigações comprovaram o envolvimento dos irmãos nos assassinatos do contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bid, em fevereiro de 2020; do policial militar reformado Anderson Cláudio da Silva, o Andinho, em 2018; e de Marcelo Diotti da Mata, também em 2018.
Ambos foram presos durante a Operação Tânatos, da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), em 30 de junho de 2020. De acordo com o MPRJ, Mad era o chefe do grupo paramilitar, conhecido como Escritório do Crime, sendo responsável pela negociação, o planejamento, a operacionalização e a coordenação das tarefas do bando. Seu irmão era um de seus homens de confiança e atuava como motorista da quadrilha, fazendo o levantamento, a vigilância e o monitoramento das vítimas.
Em sua decisão, o juiz Bruno Monteiro Rulière destacou que as provas apresentadas na denúncia não deixam dúvidas de que o grupo criminoso a qual os irmãos pertencem é composto por mercenários que atuavam como matadores profissionais. A atividade do grupo, de acordo com o magistrado, se desenvolveu no contexto dos jogos do bicho e contravenção.
"A atividade da organização criminosa se desenvolveu no contexto envolvendo as relações ilícitas de poder e 'acertos de contas', próprios de uma estrutura muito maior do complexo 'submundo' do crime organizado instalado no Estado do Rio de Janeiro, onde ganham protagonismo os exploradores de 'jogos de azar' (conhecido como 'Contraventores'). A contravenção carioca é o estágio supremo do crime organizado. Transborda poder que, historicamente, mostrou-se inabalável, nutrido, sobretudo, por atos de deplorável violência e repugnante corrupção generalizada, que são capazes de conferir às suas ações níveis de implantação alargada, com potencial para interferir e fragilizar instituições públicas", escreveu.
O juiz ainda justificou sua decisão com base na conduta social de Leonardo e Leandro. Para o magistrado, os integrantes do grupo criminoso tem desprezo pela vida humana.
"O Escritório do Crime escancara o óbvio: a Contravenção desfila um indisfarçável rastro de sangue, ao som da impunidade, entoada pelas alas da corrupção, do medo e, principalmente, da omissão daqueles que olham o mundo a partir de uma lente de “camarote”, fantasiando que tudo não passa de um inocente jogo proibido. O absoluto desprezo do grupo criminoso pela vida humana, a extrema audácia e destemor de suas ações e, sobretudo, a intensa e estreita ligação (não apenas pela vida voltada a delitos) dos acusados com outros criminosos, em especial aqueles que ocupavam posição de destaque na milícia do Rio de Janeiro, demonstram claríssimo desvio comportamental, bem como são situações que causavam intenso temor por todos do meio em que viviam", completou.
Escritório do Crime
As investigações da operação que prendeu a dupla em 2020 apontaram que o Escritório do Crime, que sempre agia fortemente armado e com bastante agressividade, cometia os crimes usando carros e trajes que impediam a identificação deles, como balaclava e roupas camufladas. Os atiradores desembarcavam do veículo e iam em direção ao alvo para matá-lo sem chances de defesa.
O Escritório do Crime é conhecido por mais de 10 anos, principalmente na Zona Oeste. Um dos seus líderes foi o ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Adriano da Nóbrega, morto no dia 9 de fevereiro de 2020, na Bahia, apontado como um dos fundadores da quadrilha. Os milicianos que faziam parte da quadrilha chegavam a cobrar R$ 100 mil por cada execução que praticavam. Eles eram contratados para executarem desafetos de outras organizações criminosas.
O grupo chegou a ser investigado pelas mortes da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, que completam quatro anos nesta segunda-feira (14). O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz, acusados pelo duplo homicídio, tinham ligação com o bando. Os irmãos Mad e Tonhão, chegaram a ser ouvidos no inquérito que investiga as mortes. A Polícia Civil, no entanto, descartou a participação deles no caso.
Em março deste ano, a Polícia Civil prendeu o miliciano João Luiz da Silva, o Gago. Ele é acusado de matar Marcelo Diotti da Mata em março de 2018, no estacionamento de um restaurante na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.