Comissão pediu redução de velocidade nas orlas cinco meses antes de atropelamento de ator
Ofício solicitou que limite deixasse de ser de 70 km/h e passasse para 40 km/h. Kayky Brito foi atingido por carro na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca
Rio - O atropelamento do ator Kayky Brito, no último fim de semana, levou o prefeito do Rio, Eduardo Paes, a determinar uma mudança na velocidade máxima permitida nas vias da orla da cidade. O acidente aconteceu na Avenida Lúcia Costa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, que atualmente tem o limite de 70 km/h. Entretanto, em março deste ano, a Comissão de Segurança no Ciclismo do Rio (CSC-RJ) já havia apontado a necessidade de redução, por meio de um ofício enviado à prefeitura, Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) e Secretaria Municipal de Transportes (SMTR).
No documeto do dia 21 de março, a Comissão solicita a realização de um estudo de viabilidade de redução no limite de velocidade nas ruas e avenidas da cidade, por meio de parecer técnico elaborado pela Cet-Rio e SMTR. O pedido requer que as autoridades responsáveis pela gestão do trânsito no Rio considerem a redução para 40 km/h, começando pelas vias da orla carioca, além do aumento de fiscalização e aplicação de multas nos casos de descumprimento. Segundo a entidade, a medida pode ajudar a diminuir o número dos chamados sinistros de trânsito e de vítimas.
"São tantos sinistros de trânsito, que acontecem basicamente na orla do Rio, e o que a gente entende é que aquela velocidade de 70 km/h não é compatível num lugar que transitam tantas pessoas, sejam crianças, idosos, turistas, ciclistas, corredores. A gente teve o trabalho de deixar protocolado com todo o embasamento, com todos os casos, porque o caso do Kayky não foi o primeiro e, infelizmente, não vai ser o último. Em nenhum momento a gente culpabilizou ninguém, o sinistro de trânsito ele não ocorre por causa de um fator, apenas, é uma sucessão de fatores e, basicamente, todos estão ligados à alta velocidade", apontou o fundador da CSC-RJ, Raphael Pazos.
Dados do texto apontam que o impacto entre um veículo e um pedestre a 30 km/h resulta em probabilidade de 5% de fatalidade do pedestre; a 50 km/h de 40%; a partir de 70 km/h, de 90% ou mais. Para Pazos, a implementação da medida pode enfrentar certa dificuldade, já que é possível que pode ocorra resistência dos motoristas.
"A gente estava até tentando fazer uma audiência pública sobre esse tema, porque tem pessoas que acham que se dimiuir a velocidade, o trânsito vai piorar e, na verdade, não. A fluidez melhora, está comprovado. E tem toda a questão da segurança, um automóvel com uma baixa velocidade, a resposta de frenagem é muito melhor. A gente entende que fazer um estudo desse, não é dia um dia para o outro, e vê com muito bons olhos a decisão do prefeito, porque agora está decidido, vai diminuir, porque está mais do que provado que vidas estão sendo ceifadas ou estão ficando com sequelas gravíssimas".
O documento cita que as Avenidas Atlântica, Vieira Souto e Delfin Moreira, ao longo da orla dos bairros Copacabana, Ipanema e Leblon, na Zona Sul, também têm limite de 70 km/h e lembra a Zona 30, que estabelece áreas seguras para o uso da bicicleta e circulação de pedestres, criadas através de restrições amigáveis ao uso do carro particular e sistemas de ruas com velocidade máxima de 30km/h. O conceito foi implementado na cidade do Rio em 2019, em ruas do Engenho de Dentro, São Cristóvão e Vila da Penha, na Zona Norte; Laranjeiras, na Zona Sul; além de Campo Grande e Barrinha, na Zona Oeste.
O ofício destaque ainda que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê que as vias urbanas têm quatro classificações e indicações de velocidades, que variam conforme características de desenho e uso, ficando a critério da gestão municipal determinar a velocidade máxima a partir destas diretrizes. Mas, segundo a solicitação, vias de ligação como as Avenidas Brasil e Salvador Allende "mantêm velocidades acima do recomendado por órgãos internacionais e estudiosos do tema". A velocidade máxima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para áreas urbanas é de 50 km/h e de 30 km/h em áreas com grande circulação de pedestres, ciclistas e turistas.
"Todos os dias as ocorrências de trânsito, como colisões e atropelamentos, fazem novas vítimas e essa questão deve ser tratada com urgência e prioridade. O trânsito mata 1,3 milhão de pessoas por ano no mundo, o equivalente à queda, sem sobreviventes, de 2,6 mil aviões Boeing. No Brasil, é mais provável morrer em um acidente de trânsito do que em decorrência de um câncer ou mesmo por homicídio", destaca o documento. "A redução de velocidades apresenta benefícios para todos os usuários da via, sendo decisiva para a diminuição do número de vítimas no trânsito. Espera-se que as tragédias sirvam de reflexão e motivação para a reavaliação dos limites de velocidades estabelecidos na cidade do Rio de Janeiro", continua o texto.
Na publicação em que anunciou a mudança, o prefeito do Rio diz que "o atropelamento do ator Kayky Brito mostra bem que a velocidade permitida em muitas vias da cidade é excessiva" e que imaginar que a orla tem velocidade máxima de 70km é um absurdo. Na ocasião, a CET-Rio informou, por meio de nota, que "já possui estudos sobre o assunto e que serão divulgados após a comparação com dados mais recentes de acidentes e velocidade".
O atropelamento do ator Kayky Brito mostra bem que a velocidade permitida em muitas vias da cidade é excessiva. Imaginar que nossa Orla - um lugar de contemplação, lazer e paz - tem velocidade máxima de 70km é um absurdo. Independentemente de responsabilidades no caso em…
Kayky Brito foi atropelado na Avenida Lúcio Costa por volta de 0h50 do último sábado (2). Câmeras de segurança do quiosque onde ele estava flagraram o momento e a imagem mostra o ator voltando para o estabelecimento na orla da praia, depois de ter ido ao seu carro para guardar um pertence. Ele tenta atravessar a via correndo, mas acaba atingido por um veículo preto. Na gravação, é possível ver que o artista aparece por trás de um automóvel que estava estacionado antes do acidente acontecer.
O carro que atingiu o ator permaneceu no local até a chegada de PMs e do Corpo de Bombeiros. O motorista, que trabalha com aplicativos de transporte, levava uma passageira com um bebê de colo no momento em que atingiu o ator. Ele foi levado à 16ª DP (Barra da Tijuca) onde foi autuado por lesão corporal culposa, quando não há intenção de causar o ferimento e passou por exame de alcoolemia, o teste do bafômetro, no Instituto Médico Legal (IML), que apresentou resultado negativo para a ingestão de bebidas alcoólicas. Em seguida, foi liberado.
O veículo possui uma câmera interna e o condutor costumava gravar suas corridas. Segundo o delegado Ângelo Lages, as imagens serão analisadas para "entender a dinâmica do evento". Em depoimento, o motorista contou que vinha transitando dentro da velocidade permitida e foi surpreendido por Kayky, que atravessou fora da faixa de pedestre. Ele afirmou, ainda, que teve pouco tempo para reagir porque já estava muito próximo ao ator. O automóvel foi periciado e liberado.
A passageira que estava a bordo do carro de aplicativo prestou depoimento na tarde desta segunda-feira (4). A dentista Maria Estela Lima afirmou que o condutor "foi prudente e atencioso durante todo o percurso" e que ficou muito abalado com o acidente. Nesta quarta-feira (6), a Polícia Civil vai ouvir o apresentador Bruno de Luca, que estava com Kayky no quiosque e, ao longo da semana, funcionários e clientes do estabelecimento.
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