Ronnie Lessa está preso desde março de 2019 por ser o responsável pelos tiros que mataram Marielle Franco e Anderson GomesArquivo / Agência O Dia

Rio - O ex-policial militar Ronnie Lessa, condenado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, demonstrou ódio a personalidades ligadas a partidos e ideais de esquerda. A informação foi divulgada nesta terça-feira (10) pelo delegado Giniton Lages, que liderava a investigação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) sobre os homicídios.
Lages contou, durante a audiência de instrução e julgamento do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, que Lessa pesquisava políticos e partidos ligados à vereadora como Marcelo Freixo, PSOL e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Para o delegado, o ex-PM tinha aversão à ideologia.
"Ele tem aversão a toda e qualquer pessoa do espectro da esquerda: Freixo, PSOL, Dilma. Ele odiava qualquer pessoa à esquerda. Tudo tinha a ver com terrorismo, morte. Havia várias personalidades pesquisadas, inclusive Marcelo Freixo", destacou.
A fala foi dita no momento em que o delegado explicava o modo de operação de Lessa e sua quadrilha para matar a vereadora. Segundo Giniton, as execuções praticadas pelo grupo se assemelhavam às cometidas pela contravenção. "Mais limpas, com pouco efeito colateral, difícil de chegar. Tinham investigações desse tipo que Ronnie aparecia", contou.
O delegado ressaltou que, em quatro datas de fevereiro de 2018, um mês antes do assassinato, o carro com a mesma placa clonada utilizada na execução de Marielle já tinha feito trajetos semelhantes, passando pelo Alto da Boa Vista em direção à Tijuca, ambos na Zona Norte do Rio, demonstrando que os executores já estavam de campana contra a vereadora.

O investigador também constatou que Ronnie Lessa fazia pesquisas sobre lugares que Marielle frequentava e os locais correspondiam à agendas diárias da parlamentar, como curso de inglês, faculdade e aula de pré-vestibular. Até mesmo um endereço pesquisado na Rua do Bispo, em Rio Comprido, região central do Rio, correspondia ao local onde a vereadora esteve em data próxima à sua morte, na casa do ex-companheiro.
"Vários locais em que ela esteve coincidiam com pesquisas de Ronnie. Ele estava monitorando. No encalço. Sempre pesquisando onde ela estava e quando. Verificamos na agenda dela, que era o Google Agenda. O local dava 'match' com o que ele pesquisava", afirmou o delegado.
Tentativa frustrada de homicídio
Segundo uma delação premiada do ex-policial militar Élcio de Queiroz, preso por dirigir o carro usado no dia do assassinato, Lessa tentou matar Marielle no final de 2017. A vereadora e Anderson Gomes foram mortos a tiros em 14 de março de 2018.
Queiroz afirmou que Ronnie Lessa, responsável pelos disparos, estava planejando o crime desde o segundo semestre daquele ano. Durante a virada para o ano de 2018, a qual passaram juntos, Lessa teria falado para o amigo que tentou matar Marielle semanas antes, mas o plano foi frustrado.
Na ocasião, a vereadora estava em um táxi no Estácio, região central do Rio, quando Lessa e o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, que dirigia o veículo, se aproximaram, mas não conseguiram realizar o assassinato. Suel, que foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Élpis, teria alegado problemas mecânicos no carro em que estavam no momento da aproximação.
Élcio ainda esclareceu que, além de Maxwell e Ronnie, também estava no veículo nesse dia o policial militar Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, que foi assassinado em uma emboscada no mês de novembro de 2021, em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio.
A delação ainda apontou as funções do trio no dia dessa tentativa frustrada. Suel dirigia o veículo enquanto Lessa estava armado com uma submetralhadora MP5 no banco do carona. Edmilson estava no banco de trás portando um fuzil modelo AK47.
Segundo Élcio, Ronnie o contou que o homicídio não aconteceu neste dia planejado porque Maxwell, na sua percepção, teria hesitado.
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