Lúcia Helena de Amaral Pinto, a Lucinha, do PSDDivulgação

Rio - A Polícia Federal e o Ministério Público do Rio iniciaram uma operação, nesta segunda-feira (18), com objetivo de apurar a participação e a articulação política desempenhada pela deputada estadual Lúcia Helena de Amaral Pinto, a Lucinha, do PSD, em conjunto com sua assessora, em benefício da milícia de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, que atua na Zona Oeste.

Na ação, cerca de 40 policiais federais cumprem oito mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ/RJ), nos bairros de Campo de Grande, Santa Cruz e Inhoaíba, todos na Zona Oeste, bem como em gabinete na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Durante a operação, a parlamentar e a assessora foram levadas à sede da PF.

Além dos mandados, a Justiça determinou o afastamento imediato das funções legislativas, proibição de manter contatos com determinados agentes públicos e políticos, bem como proibição de frequentar a casa legislativa.

As investigações apontam a participação ativa da deputada estadual e de sua assessora na organização criminosa, especialmente na articulação política junto aos órgãos públicos visando atender os interesses do grupo miliciano, investigado por organização criminosa, tráfico de armas de fogo e munições, homicídios, além de extorsão e corrupção. Ainda segundo o apurado, a parlamentar é chamada de 'madrinha' por líderes da milícia.

O trabalho foi desenvolvido pelo Grupo de Investigações Sensíveis da PF (GISE/RJ) e pela Delegacia de Repressão a Drogas (DRE/PF/RJ) em conjunto com Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Procuradoria Geral de Justiça (PGJ).

A ação denominada 'Batismo' é um desdobramento da operação 'Dinastia' que aconteceu em agosto de 2022, com o objetivo de desarticular organização criminosa formada por milicianos com atuação na Zona Oeste do Rio.
Os agentes da PF e do Gaeco levaram cerca de 3 horas na Alerj, onde cumpriam um dos mandados de busca e apreensão. No local, o deputado estadual Luiz Paulo, do PSD, comentou sobre a investigação e saiu em defesa da parlamentar. 
"Toda investigação deve ser feita, com direito de defesa. A cidade do Rio tem dezenas de áreas dominadas pelas milícias e nessas áreas tem muitos parlamentares que trabalham. É impossível se dar apoio a milícia e ao narcotráfico, isso tudo é crime, não pode acontecer. Agora, há evidentemente uma pressão das milícias e do narcotráfico em cima de toda população, mas investigação se investiga, não é laudo de acusação, vamos ver qual vai ser o resultado", disse.
Procurada, a Alerj informou que ainda não recebeu o comunicado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro sobre a deputada Lucinha. "Assim que for informada, oficialmente, a Casa tomará as providências cabíveis com base na decisão judicial", disse em nota.
Já o PSD disse que acompanha pela imprensa, desde as primeiras horas do dia, a busca e apreensão e o afastamento do mandato da Deputada Estadual Lucinha. "A Constituição Federal garante o direito à ampla defesa, ao contraditório e à presunção de inocência. Nos últimos anos, vários foram os casos em que o pré-julgamento causou enormes danos aos envolvidos em investigações. Assim, o partido aguardará o acesso aos autos para emitir posicionamentos adicionais. O PSD reitera seu compromisso com a ética e a transparência em todasasesferas", disse em comunicado.
A reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa da deputada. O espaço está aberto para manifestações.
Quem é Lucinha?
A deputada, que se intitula 'cria da Zona Oeste', é presidente da comissão de Segurança Alimentar e vice-presidente da comissão de Saneamento Ambiental da Alerj.

Na discrição sobre seu trabalho, ela afirma que sempre trabalhou junto às comunidades e bairros da cidade do Rio de Janeiro, principalmente os da Zona Oeste, antes mesmo de concorrer à sua primeira eleição para a Câmara de Vereadores do município, em 1992.

Nas eleições de 2008, ela foi a vereadora mais votada da cidade do Rio, com 68.799 votos, a maior votação de um político da Zona Oeste. Em 2011, Lucinha tomou posse como Deputada Estadual, sendo a candidata mais votada do PSDB para a Alerj. Nas últimas eleições, ela recebeu 67.034 votos.
Sequestro
No dia 1º de outubro deste ano, a deputada foi abordada e obrigada a levar criminosos em seu carro quando estava em um sítio na Zona Oeste do Rio. De acordo com informações da Polícia Civil, ela teve de dirigir com os bandidos dentro do veículo até a Vila Kennedy, mas foi liberada na sequência.

A parlamentar estava em um sítio no Rio da Prata, em Campo Grande, quando um grupo de homens armados teria invadido o local e rendido seus seguranças. O grupo estaria fugindo de uma comunidade que fica próximo ao espaço de eventos.
Após a abordagem, Lucinha teria sido obrigada a levar os criminosos no seu próprio veículo, um carro oficial da Assembleia Legislativa do Rio, em direção à comunidade da Vila Kennedy. Ao chegar no local, a parlamentar foi libertada pelos bandidos.
O carro dirigido pela parlamentar foi encontrado, pouco depois, por equipes do 14° BPM (Gericinó) que foram alertados para o caso. O sítio onde Lucinha estava sediaria sua festa de aniversário de 63 anos.