Móveis, entulho e lixo praticamente bloqueiam uma das entradas do imóvel, que já não tem mais portõesArmando Paiva/Agência O Dia

Rio - Os moradores da Rua da Capela, em Piedade, na Zona Norte, enfrentam um problemão por causa de um imóvel abandonado há mais de dez anos e que pertencia à Universidade Gama Filho. Nesse período, a estrutura, composta por três prédios, ao lado do futuro Parque de Piedade e em frente ao Hospital Municipal de Piedade, se transformou em local de descarte de lixo, com proliferação de ratos, mosquitos, além de servir de moradia para usuários de drogas e pessoas em situação de rua.
A insatisfação de moradores, como Bruno Peres, de 30 anos, vizinho dos prédios abandonados, vem de muito tempo. Segundo o empresário, a estrutura, que funcionava como sede dos cursos de Odontologia, já havia sido abandonada antes mesmo de a universidade fechar as portas, em 2014.
A reportagem de O DIA esteve no local e confirmou a situação de abandono. Na fachada do prédio, uma árvore chegou a crescer presa ao muro e outras duas praticamente bloqueiam a escada que dá acesso ao imóvel. O interior do local tem lixo por todos lados, roupas e calçados, além de restos dos materiais retirados do empreendimento, como canos, telhas e outras partes. Um homem, que seria usuário de drogas, chegou a ser flagrado entrando no local. 
"Esse prédio está abandonado desde antes da faculdade fechar. Além da proliferação de ratos, mosquitos e gambás, ainda tem a presença de morador de rua e usuários de drogas que, inclusive, tentaram furtar o hidrômetro aqui do prédio e quebraram o registro de água do prédio vizinho. Os fundos aqui do prédio tiveram que colocar arame farpado pra evitar que pulem o muro para cá", disse Bruno.
Paulo Roberto Cortês, de 62 anos, pai de Bruno, afirma que as pessoas que vivem no imóvel não mexem com os moradores, mas algumas casas da rua já tiveram ferragens furtadas. "Não podemos garantir que essas pessoas que vivem aí dentro que fizeram, mas não era para ter ninguém morando nesse lugar. Era para estar fechado. Vivemos uma sensação de insegurança", disse Paulo.
Pai e filho dizem que causa estranheza o fato do município ter demolido os outros imóveis da universidade para construção do Parque de Piedade, mas ter deixado esse e outro prédio ainda de pé. "Até agora não entendemos o motivo da prefeitura ter demolido os outros prédios da Gama Filho e esse, além de outro na Rua Manuel Vitorino, terem ficado de pé e esquecidos", pontuou Bruno. Para o empresário, uma solução simples para a estrutura seria transformar o local em uma passagem para o parque.
Luiz Ribeiro, de 64 anos, morador e zelador em um prédio residencial vizinho ao imóvel abandonado, comenta que já desistiu de trocar a porte de alumínio que protegia o hidrômetro local. "Não adianta colocar de novo". Segundo o profissional, a pior situação é a quantidade de ratos que entra e sai do terreno abandonado. 
"É muito rato, muito mesmo. Eles entram e saem toda hora do terreno e invadem as casas da rua. A situação está horrível e o fato dessas pessoas que vivem aí levarem lixo, entulhos e outras coisas só piora", disse Luiz, que já trabalha no local há 36 anos. "A gente já viu isso aqui movimentado na época da faculdade, mas agora está tudo parado. Fim de semana é vazio e muita gente tem medo de passar perto desse terreno".
A situação é a mesma percebida pelo comerciante Marciano Santana, de 49 anos, que disse já ter feito uma série de chamados para o 1746 reclamando sobre a situação sem sucesso. "Eles vêm ai, até olham, mas não fazem mais que isso. A Comlurb veio ontem e dizem que jogou veneno para os ratos pelo muro", contou.
A Rua da Capela está incluída no processo de revitalização de toda a região devido a construção do Parque Piedade com melhorias de pavimentação, sinalização, iluminação e paisagismo. A via é onde está localizada a Capela Nossa Senhora da Piedade, tombada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) em 1996, por causa da sua importância arquitetônica, histórica e cultural para a cidade.
Questionada sobre o prédio abandonado, a Subprefeitura da Zona Norte explicou que o terreno é particular e não faz parte do complexo da Gama Filho. Por isso, a intervenção de equipes da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) só pode ser realizada com autorização do proprietário. Quando há entulhos na calçada e rua, o órgão intervém.
A reportagem tenta localizar o proprietário do terreno. O espaço está aberto para manifestação.
Implosão e construção do Parque Piedade
Quatro prédios da antiga Universidade Gama Filho foram implodidos no dia 5 de novembro de 2023 para o início das obras do Parque Piedade. O espaço, de aproximadamente 18 mil metros quadrados, estava abandonado desde 2014, depois que a instituição de ensino foi à falência, e dará lugar a uma área pública nos moldes do Parque Madureira, que deve ser totalmente entregue à população até o final deste ano.
O processo de desapropriação do terreno teve início em 2021 e a prefeitura só teve posse total do complexo em abril deste ano. Entretanto, a demolição dos prédios teve início em outubro de 2022, começando pelo da antiga faculdade de medicina, que estava totalmente depredado.
O Parque Piedade vai contar com áreas de lazer, horta urbana, espaço para feiras e eventos, parcão, academia, pista de skate, campo de futebol, parque infantil, entre outros atrativos para os frequentadores. No local, haverá ainda um centro cultural, esportivo e educacional, em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio (Fecomércio).
Tentativa de extorsão
No dia 9 de janeiro deste ano, o prefeito Eduardo Paes (PSD) denunciou que uma organização criminosa estaria ameaçando e tentando extorquir funcionários da empreiteira que realiza as obras no local. O grupo chegou a cobrar R$ 1 milhão para que as obras continuassem.