Rio - Um vídeo em 3D elaborado pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro remontou a cena da morte do jovem Johnatha de Oliveira Lima, de 19 anos, na comunidade de Manguinhos, Zona Norte do Rio, em 2014. O material foi anexado ao processo contra o policial militar Alessandro Marcelino de Souza, que vai responder pelo crime de homicídio por meio do júri popular, na sexta-feira (2). A audiência acontecerá no 3º Tribunal do Júri da Capital, no Centro do Rio. Assista ao vídeo abaixo.
Johnatha foi morto com um tiro nas costas durante uma operação policial da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, em maio de 2014, quando voltava a pé para a casa da avó. Desde então, a família do jovem luta para provar a inocência dele. O relatório, anexado nos autos do processo, será apresentado ao tribunal do júri no dia do julgamento. O material foi elaborado com com base em informações de imagens de satélites, visita ao local, provas dos autos, demais perícias feitas ao longo do processo, depoimentos de testemunhas, além da versão apresentada pelo réu.
O PM alegou à época do crime que policiais estavam em patrulhamento pela localidade do Barrinho quando se depararam com criminosos armados, iniciando um confronto. Nessa primeira versão, o policial negou ter disparado sua arma ou mesmo estar no local onde Johnatha foi atingido. "O declarante afirma não ter feito nenhum disparo, bem como não presenciou nenhum colega disparando", diz o termo de declaração. A primeira versão oferecida pelo policial horas após o fato foi desmentida pelo resultado do exame de confronto de balística, que indicou que a bala alojada no corpo de Johnatha havia saído da arma desse mesmo PM. Após ser informado sobre o resultado do exame de confronto de balística, o policial admitiu então ter atirado sete vezes.
No entanto, de acordo com o 3D da Defensoria Pública, seria impossível os fatos terem acontecido da forma como o policial narrou em interrogatório. "O 3D apresenta em imagens a versão dada pelos moradores e, com base em evidências, a perícia concluiu que a versão do réu é impossível de ser acontecido. Já a versão das testemunhas é plausível", explicou o defensor público Luís Henrique.
A reconstrução 3D teve como foco as ações que ocorreram próximas às áreas de Manguinhos denominadas "manilha", "quadras poliesportivas" e Rua São Daniel. O material também foi elaborado com base no depoimento de uma moradora, testemunha ocular do crime. Segundo ela, havia pessoas na rua, incluindo crianças, quando os policiais iniciaram os disparos em direção aos moradores que, assim como Johnatha, caminhavam na Rua São Daniel em direção às quadras poliesportivas. Alguns desses moradores protestavam desarmados contra abordagens violentas da polícia - na manhã do mesmo dia da morte de Johnatha, pois, segundo a testemunha, policiais haviam xingado crianças que brincavam no campinho de futebol.
Veja o vídeo:
"Primeiro eles (os policiais) deram tiro pro alto… e depois na nossa direção. Assim que eu puxei meu filho foi quando o Johnatha foi baleado… Ele foi baleado em frente à minha casa, ao vizinho… em frente à minha casa… Ele foi baleado, um tiro "repicou" no chão e outro pegou nas costas dele. Ele (Johnatha) correu e mais na frente (moradores) socorreram ele… Ele recebeu dois disparos, um "repicou" no chão e outro pegou nas costas dele… na parte da cintura", disse a moradora em depoimento à Justiça.
"Tais localizações foram reproduzidas no vídeo 3D e foram verificadas e confirmadas a partir do cruzamento delas com o exame de necropsia da vítima, cuja análise indica que um projétil entrou pelo lado direito das costas de Johnatha", diz um trecho do relatório da Defensoria Pública.
Segundo o defensor público Luís Henrique, o PM tentou criminalizar o rapaz. "Nesse processo há uma tentativa de criminalização de Johnatha, colocando ele como criminoso armado que tentava tirar a vida dos policias. Porém, pela prova dos autos, reforçado pela perícia em 3D, os PMs, para dissipar a manifestação dos moradores contra a violência policial, atirou para o alto e em direção à multidão, assumindo o risco de matar os inocentes", disse o defensor.
Um ano antes do assassinato de Johnatha, em 2013, o mesmo policial militar já havia sido acusado de triplo homicídio na Baixada Fluminense. Alessandro Marcelino chegou a ser preso, mas teve seu caso impronunciado e voltou à ativa.
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