Por karilayn.areias

Rio - Quando sentar hoje no banco dos réus, na primeira audiência de instrução e julgamento pela morte não intencional de Johnatha de Oliveira Lima — morto aos 19 anos, com um tiro nas costas, em 14 de maio do ano passado, em Manguinhos —, o policial militar Alessandro Marcelino de Souza, da UPP local, não estará cumprindo um ritual inédito perante a Justiça. Ele é réu em outro processo de triplo homicídio por motivo fútil e duas tentativas de homicídio.

Jhonatha foi morto em maio de 2014%2C segundo a família%2C durante uma confusão entre polícia e moradoresReprodução Internet

Segundo as investigações da 55ª DP (Queimados), Alessandro cometeu o crime enquanto estava de folga,em março de 2013, em Queimados, na Baixada Fluminense. Ele e outro PM chegaram a ser presos. De acordo com o inquérito, junto com moradores da região, eles abordaram cinco jovens, na comunidade Vila Comarim, e, num terreno baldio, executaram três. Os dois outros rapazes conseguiram fugir e reconheceram os PMs. Segundo o delegado Daniel Mayr, os jovens eram acusados de participar de furtos na localidade. O outro PM foi absolvido pelo Tribunal do Júri em novembro de 2014 —a defesa reuniu provas de que ele era ameaçado pelas vítimas em redes sociais.

A mãe de Johnatha, a pedagoga Ana Paula Gomes de Oliveira, 38, espera que Alessandro seja condenado. “Vi meu filho saindo de casa sorrindo e depois fui vê-lo dentro de um caixão. Depois de tanta dor, é hora de se fazer justiça”, desabafou. Segundo ela, Johnatha tinha ido levar a namorada em casa e depois, ao entregar um pavê para sua avó, foi atingido durante uma confusão entre policiais e moradores. “Os PMs de UPPs estão despreparados e atiram de qualquer jeito. São irresponsáveis”, lamentou Ana Paula.

Mesmo indiciado e denunciado por homicídio culposo (sem intenção de matar) pelo Ministério Público, o PM não foi afastado das funções. Em nota, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) reconheceu que Alessandro continua atuando na UPP Manguinhos, na área administrativa, enquanto durar o julgamento. A mesma CPP, na ocasião da morte de Johnatha, enviou nota oficial com a versão dos PMs de que entraram em conflito com os moradores. De acordo com a coordenadoria, na ocasião, Jhonatha foi autor de disparos de arma de fogo contra a sede da UPP. A CPP não soube informar, na sexta-feira, se o policial é investigado pela Corregedoria Interna da PM nos dois casos.

Moradores de Manguinhos e familiares de vítimas de violência policial na região prometem fazer um ato hoje, em frente ao Tribunal de Justiça. Semana passada, o Fórum de Juventudes do Rio promoveu um tuitaço para divulgar a audiência. “Serão ouvidas testemunhas e esperamos que a decisão saia neste dia. O tuitaço é para não deixar que o caso caia no esquecimento. Queremos denunciar a violência contra moradores de Manguinhos e outras comunidades”, comentou Fransérgio Goulart, colaborador do fórum.

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