Epidemia foi confirmada por Paes e Soranz em coletiva de imprensa, junto com anúncio de medidasCleber Mendes

Rio - Com a alta no número de casos e recorde de internações, o município do Rio de Janeiro entrou em estágio de epidemia de dengue. A informação foi confirmada pelo prefeito Eduardo Paes e pelo secretário de Saúde, Daniel Soranz, nesta sexta-feira (2), durante coletiva de imprensa.

De acordo com os dados apresentados nesta manhã, apenas em janeiro a cidade teve quase metade do número de casos de dengue em comparação ao ano de 2023 inteiro. No último mês foram registradas 10.162 mil ocorrências da doença, enquanto ao longo do ano passado tiveram 22.959 mil doentes. Já o número de internações bateu recorde no primeiro mês do ano, com 362 pacientes hospitalizados no município.

"Para configurar epidemia, é necessário que a gente tenha um número de casos espalhados em mais de uma região da cidade. A gente tem um número de casos de dengue espalhados em todo o Rio de Janeiro. Nos últimos 90 dias, a curva é ascendente, a gente chegou a ter em único dia 569 casos notificados", explicou Soranz.

Para atender ao grande número de casos, a prefeitura decidiu implementar 'Polos de Dengue', espaços que serão dedicados ao atendimento de pacientes com a doença. Os 150 centros de tratamento e hidratação, que já tinham sido estruturados para as ondas de calor, agora serão utilizados para tratar pacientes com dengue. Além disso, alguns leitos de hospitais municipais de referência e unidades de atenção primária serão separados para atender a esses pacientes.

O secretário de Saúde e o prefeito, no entanto, reforçaram que o combate à dengue precisa ser apoiado pela população. De acordo com uma pesquisa realizada pelo município, a maior parte dos focos de aedes aegypti estão em locais considerados depósitos móveis, ou seja, vasos de plantas, pingadeiras, recipientes que ficam atrás de bebedouros e objetos religiosos.

O segundo maior foco vem de depósitos fixos, que são tanques, hortas, calhas, lajes, ralos, vasos de cemitério e sanitários.

"Tem situações que dependem basicamente das autoridades, do poder público. Esse é o caso típico que é um esforço coletivo. Nós não vamos resolver tudo, não vamos conseguir entrar em todos os terrenos abandonados dessa cidade e ficar limpando os focos de dengue", disse Paes.

A dupla também reforçou que o canal 1746 serve para casos de emergência. "É muito importante que as pessoas liguem para o 1746 somente quando elas próprias não conseguirem resolver a eliminação dos foco", explicou Daniel.
Vacinação

O público-alvo da vacinação no município do Rio de Janeiro serão os pré-adolescentes, entre 10 e 14 anos, que totalizam 354 mil cariocas. De acordo com a Prefeitura, as Clínicas da Família e Centros Municipais estão preparados para a campanha e aguardam liberação da Anvisa para iniciar a ação.

O objetivo da Secretaria Municipal de Saúde é vacinar todo o público-alvo em até sete dias.
Centro de Operações de Emergência

Criado nos mesmos moldes do Centro de Operações de Emergência para a covid-19, o COE-Dengue funcionará nas dependências do COR. Suas atribuições serão planejar, organizar, coordenar e monitorar as ações de enfrentamento à dengue; elaborar protocolos e análises relacionadas à situação epidemiológica da doença na cidade; divulgar informações relativas à emergência de saúde pública, como boletins epidemiológicos; deliberar sobre os estágios de aplicação das medidas protetivas para cada região do município.

O COE-Dengue vai estabelecer as prioridades de informações, facilitar a comunicação e atuar como elo de ligação com outras instituições e esferas de governo. 
Primeiro polo de atendimento de dengue será aberto na Zona Oeste

Na próxima segunda-feira (5), o primeiro polo de atendimento para pacientes com dengue será inaugurado no CMS Raphael de Paula Souza, em Curicica, na Zona Oeste. Ao todo estão previstos dez polos, em todas as regiões da cidade, que serão abertos gradativamente, conforme o crescimento do número de casos. Eles funcionarão nas dependências de unidades de Atenção Primária e contarão com equipes dedicadas formadas por médico, enfermeiro e técnicos de enfermagem, que farão o diagnóstico e assistência, classificação segundo o critério de risco e tratamento dos pacientes com dengue. Além disso, os 150 centros de hidratação montados no final do ano passado nas unidades de saúde para o atendimento de pacientes devido aos efeitos do calor também serão usados na assistência às pessoas com dengue.

Para os quadros mais graves, com indicação de internação, os pacientes serão regulados pela Central Municipal de Regulação como vaga zero (emergência) e transferidos para leitos dedicados à dengue nos hospitais da rede de urgência e emergência do município. O Hospital Municipal Ronaldo Gazolla (HMRG), em Acari, poderá funcionar como unidade de concentração para a doença, inicialmente com 20 leitos. O HMRG, que durante a pandemia da covid-19 foi referência para o tratamento dos pacientes com quadros mais graves, tem expertise e preparo para passar rapidamente pelas alterações de fluxo necessárias em uma nova situação de epidemia. Ao todo, a unidade conta com 400 leitos.

Carros fumacê e entradas compulsórias

Devido ao crescente aumento do número de casos de dengue, a SMS passará a utilizar 16 carros para aplicação espacial do inseticida UBV, o chamado fumacê. Esse instrumento é utilizado em condições específicas definidas nas Diretrizes Nacionais para Prevenção e Controle da Dengue, do Ministério da Saúde, para bloqueio de transmissão e controle de surtos ou epidemias. O uso indiscriminado desse método de aspersão do inseticida pode causar danos à saúde e ao meio ambiente, além de eliminar também os predadores naturais do mosquito. O cenário epidemiológico atual, no entanto, justifica o uso dos carros fumacê nas regiões com maiores incidências de dengue, como a Zona Oeste da cidade.

Também como medida de controle do vetor serão realizadas entradas compulsórias em imóveis fechados e abandonados para realização de vistorias e tomada de medidas preventivas e de eliminação dos possíveis criadouros do mosquito. A entrada compulsória é um instrumento legal para respaldar o acesso dos agentes de saúde aos imóveis particulares cujos proprietários não são localizados para liberar espontaneamente a entrada dos servidores. Trata-se de uma medida regulada por decreto em que são estabelecidos os critérios para sua adoção, como notificações prévias e por escrito ao proprietário e prazo para que ele entre em contato com o serviço público para franquear o acesso e realização da ação preventiva no imóvel.
Guaratiba vai receber pesquisa vacinal

A região de Guaratiba foi selecionada para participar da pesquisa de avaliação de efetividade da vacina contra a Dengue para adultos no Brasil. O público-alvo do projeto, em parceria com o Ministério da Saúde e a Fiocruz, são 20 mil pessoas de 20 a 40 anos, moradores de Barra de Guaratiba, Pedra de Guaratiba, Guaratiba e ilha de Guaratiba

A atividade vai acontecer em duas etapas. Na primeira os agentes vão colher o sangue dos voluntários e na segunda realizar a aplicação de duas doses da vacina. Os vacinados serão monitorados por dois anos para verificar a proteção do imunizante.

Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa)

Segundo dados do mais recente Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), realizado entre 7 e 13 de janeiro, 77,2% dos recipientes que poderiam servir de criadouros para o mosquito são encontrados no ambiente domiciliar: depósitos móveis, como vasos de plantas, bebedouros e objetos religiosos (32,3%); depósitos fixos, como tanques, calhas, ralos, lajes e sanitários (24,8%); e depósitos ao nível do solo, como tonéis, tambores, barris e tinas (20,1%).

No LIRAa, o município é dividido em estratos (grupos) de 8,2 mil a 12 mil imóveis com características semelhantes e, em cada um desses recortes, 20% dos imóveis são visitados pelos agentes de vigilância ambiental em saúde para verificar se existem focos de larvas do mosquito e quais os tipos de depósitos mais comuns em cada região que servem como criadouros.

Na primeira edição do levantamento, em 2024, o índice de infestação do município ficou em 0,79%, nível considerado satisfatório. Dos 250 grupos territoriais do estudo, 76 (30,4%) ficaram com índice de infestação predial (IIP) entre 1% e 3,9%, o que configura nível de alerta; e três (1,2%) receberam classificação de risco, ou seja, com IIP superior a 3,9%. Todas as três regiões com nível de risco ficam na região de Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade.
*Reportagem de Bruna Bittar, sob supervisão de Adriano Araujo