Rio - O galerista Brent Sikkema alterou o testamento em 2022 e seu ex-marido e suposto mandante do crime, Daniel Garcia Carrera, deixou de ser beneficiário da herança. De acordo com o advogado Gregório Andrade que defende o cubano Alejandro Triana Prevez, preso pelo crime, a alteração foi a principal motivação do assassinato. O americano, de 75 anos, foi encontrado morto com 18 facadas, em sua casa no Jardim Botânico, Zona Sul, em 14 de janeiro. Inicialmente, o caso era tratado como latrocínio, roubo seguido de morte.
Com a alteração no testamento, US$ 1 milhão foi destinado ao primeiro ex-marido e o restante do dinheiro para o filho. Em mensagem enviada ao galerista, Daniel disse que queria US$ 6 milhões. Em depoimento, o cubano contou que Daniel tinha receio de que um novo relacionamento de Brent pudesse prejudicar a divisão de bens no divórcio. Além disso, segundo Alejandro, o ex-marido do galerista disse que recebia valores baixos de pensão e que Brent gastava muito dinheiro com drogas, festas e garotos de programa.
Alejandro conheceu Daniel e Brent em Cuba quando trabalhava em uma das casas do ex-casal. Quando se mudou para o Brasil, dava aulas de espanhol e fazia entregas em São Paulo. Segundo Gregório Andrade, advogado do cubano, Alejandro foi manipulado e pressionado a cometer o crime. "O Daniel se aproveitou dessa fragilidade financeira do Alejandro e contratou ele para assassinar o Brent, ofereceu 200 mil dólares que nem foram pagos. Ele é tão manipulador que não chegou a pagar, ele manipulava com a promessa do dinheiro. O Alejandro não é criminoso, até pela forma que ele agiu retrata uma pessoa manipulada e pressionada para cometer o delito", explicou em entrevista ao DIA.
A defesa de Alejandro disse, ainda, que o cubano foi até a casa do galerista duas vezes antes do crime. "Uma para reconhecer o lugar e a segunda ele tentou, mas não conseguiu abrir a porta. Daniel ficou louco com ele, parou os envios do dinheiro e ligou pra ele dizendo que ia ter que ser naquele momento. Ele pegou o carro da madrinha, sem mesmo tampar a placa, e foi totalmente pressionado pelo Daniel, que é uma mente criminosa", contou.
A defesa do Alejandro acredita que o crime tenha a participação de outras pessoas. "Iremos fazer algumas ações pedindo uma série de diligências ao delegado e ao promotor de Justiça porque essa historia não bate. Essa chave ter chegado na mão do Daniel lá nos EUA e depois enviada ao Brasil. Não foi um latrocínio, mas o cenário foi montado para ser um latrocínio. Não duvido da participação de terceiros nesse crime, inclusive de brasileiros", disse Gregório.
Em depoimento, Alejandro disse que Daniel enviou uma cópia da chave da casa em que Brent morava no Jardim Botânico através de uma empresa de logística. Dessa forma, ele conseguiu entrar na casa sem resistência. A informação sobre o mandante da morte foi passada aos policiais da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) durante o segundo depoimento de Prevez.
Após a nova versão apresentada pelo cubano, tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pediram a prisão preventiva de Daniel. A polícia já havia abordado a possibilidade da existência de um mandante do assassinato. A especializada indiciou Alejandro como autor do assassinato e o ex-companheiro da vítima como autor intelectual e principal interessado no crime.
Brent, de 75 anos, foi encontrado morto com 18 facadas em sua casa no Jardim Botânico. Segundo a polícia, a arma não estava na casa da vítima. Alejandro foi preso três dias depois, em um posto de gasolina na BR-050, entre as cidades de Uberaba e Uberlândia, em Minas Gerais. Com ele, a polícia encontrou R$ 30 mil dólares.
Quem era o galerista
Brent Sikkema era sócio-proprietário de uma famosa galeria de arte em Nova Iorque, a Sikkema Jenkins & Co. Ele começou a trabalhar com galerias de arte em 1971, como diretor de exibições na Visual Studies Workshop, uma organização sem fins lucrativos para educação artística. O empresário abriu sua primeira galeria em Boston, em 1976. Em 1991, fundou a Wooster Gardens, atualmente Sikkema Jenkins & Co. Desde 2003, ele e Michael Jenkins, com quem trabalhou em diversos projetos artísticos no local, eram sócios do espaço.
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