Evelyn e Alisson Araújo limpam as ruas em frente à loja, em Comendador SoaresReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - A manhã desta quinta-feira (22) foi de tristeza e muito trabalho para os comerciantes de Comendador Soares, em Nova Iguaçu, que tiveram seus empreendimentos destruídos pela forte chuva que caiu na cidade. Evelyn e Alisson Araújo, donos de um estabelecimento de legumes e verduras, passaram horas varrendo o chão da Rua Presidente Vargas para tentar normalizar a situação o quanto antes.
"Quando fomos ver, a água já estava na linha da cintura, cobrindo mercadoria. Saco de batata, que está caríssimo, submerso na água, cebola, tomate… Tive que chegar na loja às 4h para ver se conseguiríamos abrir para não tomar um prejuízo maior, mas não conseguimos. De 15 em 15 dias, tem uma enchente. Dessa vez, foi de forma absurda, deu prejuízo, teve muita lama. Agora é orar e pedir a Deus um direcionamento", lamentou Evelyn, de 25 anos.
Luca, de 23 anos, também trabalha no estabelecimento e auxiliou na limpeza. Ele disse que a chuva começou por volta das 20h de quarta-feira (21) e não demorou para o alagamento cobrir os produtos da loja.
"Em questão de 20 minutos, já estava no joelho. Só barro, pedra, mato… Não dá tempo da gente fazer nada. Só pedir direção a Deus e cair dentro do trabalho. Agora, estamos com isso: só lama, tudo podre, prefeitura não aparece para ajudar a gente. Então, vamos para cima, não tem o que fazer. Só trabalho, trabalho e trabalho", afirmou.
Evelyn também ressaltou que a limpeza da rua tem sido feita pela população e criticou a falta de atuação do poder público na região.
"Ninguém da prefeitura apareceu, não houve nenhuma solução. Já teve um idoso que caiu aqui hoje e é muito complicada essa situação. Na hora de pedir voto, todo mundo está aqui, apertando nossa mão. Na hora de aparecer para resolver o problema, ninguém sequer trouxe uma vassoura, um rodo para nos ajudar a resolver isso aqui. É muito absurdo. É um prejuízo que ainda vamos parar para poder ver. A loja não abre, temos que pagar os funcionários do mesmo jeito, muita mercadoria que se perdeu e já foi paga", desabafou.
Nas redes sociais, a Prefeitura de Nova Iguaçu comunicou que agentes da Secretaria Municipal de Assistência Social e da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlurb) estão percorrendo as regiões afetadas.
A cidade segue em estado de alerta máximo. Nas últimas 24 horas, Nova Iguaçu recebeu um volume de chuva de 188mm, o que representa 116% da média histórica de fevereiro, de 119,8mm. Dois homens morreram em decorrência do temporal nos bairros de Ipiranga e Jardim Pernambuco. Além disso, há o registro de 200 pessoas desalojadas e 15 escolas da rede municipal estão com aulas suspensas. O Corpo de Bombeiros segue atuando para resgatar moradores que ficaram presos em suas casas por causa de inundações.
Ao DIA, moradores afirmaram que parte das inundações teriam sido causadas pelo rompimento de uma represa d'água na fábrica da Embelleze. No entanto, a empresa alegou que não há qualquer estrutura do tipo na propriedade e ressaltou que as dependências da indústria também foram afetadas pela tromba d'água que desceu do alto da Serra do Vulcão.
Além disso, a Prefeitura de Nova Iguaçu comunicou que agentes da Defesa Civil estiveram no local e não constataram a existência de uma represa na fábrica.
Nas redes sociais, circulou um vídeo que mostra o auxiliar de logística Marcos Vinicíus de Souza Vasconcelos, de 20 anos, resgatando uma família que estava prestes a ser arrastada pela correnteza da enchente em Comendador Soares. O rapaz retirou as gêmeas de um ano e a mãe das meninas de um carro. Logo após o resgate, o veículo foi levado pela água.
Caos no estado
Além de Nova Iguaçu, o temporal causou estragos em Queimados e Japeri, também na Baixada, e em Barra do Piraí, no Sul Fluminense. Até o momento, a Defesa Civil estadual foi acionada para 137 ocorrências relacionadas às chuvas e confirmou outras cinco mortes, além das duas registradas em Nova Iguaçu. Há ainda mais uma, em Japeri, de um resgate da Defesa Civil do município.
Em Japeri, o desabamento de uma casa, na Rua do Mocambo provocou a morte de uma criança de 2 anos na Rua do Mocambo. "Foram várias horas debaixo dos escombros, respirando gás. Se tivesse um suporte melhor, talvez ele estaria vivo", desabafou o avô do menino.
No mesmo município, Ana Carolina Sodré, de 24 anos, morreu soterrada após a queda de uma barreira na Chacrinha.
Um deslizamento de terra atingiu uma casa no Morro da Gama, em Barra do Piraí. Uma mulher morreu durante o acidentes e os corpos de outras três vítimas também foram encontrados. Eles eram pai, mãe e bebê. 
Os bombeiros também atuam no bairro Vila Mariana, em Mendes, onde houve outro deslizamento. Duas pessoas foram resgatadas, mas há pelo menos mais uma vítima reclamada, uma criança de cerca de seis anos.  
"Estamos trabalhando ininterruptamente, desde o início da noite de quarta-feira (21.02), para atender às emergências e socorrer as vítimas em todo o Estado. A Defesa Civil Estadual está em contato direto com as Prefeituras, desde a madrugada, colocando todos os recursos da pasta à disposição, para ajudar a população a retornar, o quanto antes, ao estágio de normalidade. A operação do CBMERJ em resposta às chuvas conta com o empenho de bombeiros divididos em Grupos de Resposta ao Desastre (GRDs), com apoio de viaturas de salvamento, ambulâncias, barcos de alumínio para socorro a pessoas ilhadas por inundações e alagamentos, drones, aeronaves para busca de vítimas e monitoramento das áreas atingidas, cães farejadores, além de especialistas em resgate em estruturas colapsadas", afirmou o secretário Estadual de Defesa Civil e comandante-geral do CBMERJ, coronel Leandro Monteiro.
De acordo com o Governo do Rio, o risco hidrológico (inundações, enxurradas e alagamentos) segue muito alto nos municípios de Barra do Piraí, Nova Iguaçu, Queimados, Mendes e Paracambi. Já em Belford Roxo, Engenheiro Paulo de Frontin, Japeri e Porto Real o risco é considerado alto.
Já o risco geológico (deslizamentos) está alto em Paracambi, Barra do Piraí, Queimados, Mendes, Nova Iguaçu, Porto Real, Japeri e Engenheiro Paulo de Frontin.